BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Funcionários da Caixa Econômica Federal questionam o processo seletivo para vice-presidentes e apontam que o instrumento tem sido usado apenas para referendar escolhas políticas.

No mês passado, o banco divulgou o resultado da seleção para quatro vice-presidências. Uma das escolhidas foi Inês Magalhães, ex-ministra de Cidades no governo Dilma Rousseff (PT) e ex-secretária Nacional de Habitação entre 2005 e 2016.

Embora tenha sido aberto processo seletivo em fevereiro com avaliação de currículo e proposta de plano de negócios, integrantes do governo apontam que a decisão pelo nome de Inês para a área de habitação havia sido tomada ainda durante a transição, em dezembro.

Segundo relatos, a ex-ministra foi escolhida para a vice-presidência de habitação ?uma das principais da instituição financeira? diante da importância dada pelo PT ao novo Minha Casa Minha Vida, que passa em grande parte pela Caixa para sua implementação.

O presidente da Fenae (Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal), Sergio Takemoto, afirma que não havia necessidade de abrir processo seletivo para a escolha da ex-ministra Inês Magalhães, por exemplo, e questiona a falta de transparência.

"Uma pessoa que já foi ministra tem todas as qualidades para ser vice-presidente, não precisa de processo seletivo. Seria mais honesto chegar e indicar a pessoa, e não fazer uma encenação para escolher uma pessoa que já está definida", diz.

"Se é uma pessoa qualificada, que já demonstrou que tem capacidade, não vejo necessidade de fazer um processo seletivo. Assim como o presidente escolhe seus ministros sem processo seletivo, a empresa indica as pessoas que considera qualificadas", completa.

A Caixa passou a fazer processo seletivo para a escolha de vice-presidentes em 2018, no governo Michel Temer (MDB), por recomendação do MPF (Ministério Público Federal) após denúncias de corrução envolvendo o banco.

Executivos que trabalhavam na Caixa na época afirmam que uma consultoria externa selecionava três pessoas e repassava os nomes para o conselho de administração, que entrevistava os candidatos e dava a palavra final sobre o escolhido.

Sob a gestão de Maria Rita Serrano, no entanto, a Caixa abriu mão da participação da empresa de consultoria e deixou a seleção a cargo de estruturas internas: a diretoria-executiva de pessoas, o comitê de elegibilidade e o conselho de administração.

Apesar da recomendação do Ministério Público Federal em 2018, o processo seletivo só se tornou obrigatório em 2020 depois que o ex-presidente Pedro Guimarães ?exonerado após acusações de assédio sexual e moral? alterou o estatuto social da empresa.

Empregados da Caixa afirmam sob reserva que a seleção não só não impediu que Guimarães colocasse aliados nas vice-presidências, mas também foi usada pela gestão passada para rebater críticas contra os indicados.

Ex-dirigentes do banco e empregados da Caixa ouvidos pela reportagem afirmam que o BC (Banco Central) já impõe pré-requisitos para os vice-presidentes, e que outros bancos públicos, como o Banco do Brasil e o BNDES, não fazem processo seletivo para os cargos.

Um empregado da Caixa que foi superintendente, diretor do banco e diretor de uma das subsidiárias participou do processo seletivo para vice-presidente neste ano e conta que recebeu apenas uma mensagem protocolar agradecendo pela inscrição.

Para ele, a Caixa poderia mudar o estatuto social ?o que exigiria apenas a reunião do conselho de administração e a convocação de uma assembleia geral extraordinária? em vez de manter o processo seletivo apenas para validar indicações políticas.

Para a vice-presidência de governo, o nome que circula desde janeiro é o de Marcelo Bomfim, ex-superintendente da Caixa e ex-presidente do BDMG (Banco do Desenvolvimento de Minas Gerais). Ele renunciou ao cargo no BDMG no início de fevereiro. O resultado da seleção ainda não foi divulgado.

Segundo relatos, o ex-deputado federal Geraldo Magela, que coordenou a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Distrito Federal, tinha sido indicado para o posto pelo irmão, Romênio Pereira, Secretário de Relações Internacionais do PT, mas teve o nome barrado.

Questionada sobre por que manter processo seletivo mesmo com nomes já decididos, a Caixa não respondeu. O banco afirmou que "a seleção de dirigentes atende a parâmetros de controle que passam por toda governança prevista na legislação que trata, dentre outros temas, de requisitos e vedações para o exercício do cargo".

Em relação à consultoria externa, a Caixa pontuou que, de acordo com seu estatuto, "a participação da empresa externa é facultativa no processo de escolha de dirigentes da empresa".

"A Caixa conta com área de pessoas especializada na sistemática de seleção, o que garante que os aspectos de gestão humanizada, além das competências técnicas, sejam destaque nas seleções dos líderes do banco", acrescentou em nota.

Segundo o edital da seleção, vice-presidentes da Caixa têm remuneração anual de R$ 653.122,86 e mais R$ 128.451,62 em benefícios (auxílio alimentação, auxílio-moradia, férias, previdência complementar e plano de saúde).


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