SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A rede de lojas de móveis e itens de decoração Tok&Stok está fechando unidades em diversos estados, a maioria delas em shoppings.
Nos últimos dias, lojas em Fortaleza (CE), Vila Velha (ES), Rio de Janeiro (RJ) e Campinas (SP) entraram em liquidação com descontos de até 50%, segundo relatos de clientes. Em perfis em redes sociais, consumidores relataram espera de até duas horas para entrar nas lojas.
A empresa foi procurada nesta quarta (19) e disse que não vai se pronunciar. A Tok&Stok não informou quantas unidades já foram ou serão encerradas e se os funcionários dessas lojas foram dispensados.
O Sindicato dos Comerciários em São Paulo começou a visitar diversas unidades da rede desde que a crise econômica da varejista foi tornada pública. Até o momento, a representação dos trabalhadores não registrou volume de demissões acima do convencional.
Nas lojas com saldão de produtos para o encerramento das atividades, um mesmo comunicado foi fixado na porta da frente.
"Olá. Informamos que em breve encerraremos nossas atividades nesta loja. Mas não se preocupe, você ainda poderá se inspirar e continuar comprando com a gente pelo site, app ou em outras unidades."
Nas regiões em que há outra loja da rede, o comunicado também informava a unidade mais próxima. No NorteShopping, no Rio, a indicação ao consumidor era visitar a loja da Barra da Tijuca que, segundo o aviso, "está bem pertinho de você" -fica a cerca de 18 quilômetros de distância, quase duas horas via transporte coletivo, e cerca de 30 minutos de carro.
Nessa unidade do Rio, os consumidores foram informados de que a liquidação duraria de 11 a 30 de abril ou até os estoques acabarem.
O mesmo aviso foi colocado nas unidades de Fortaleza, uma no bairro Água Fria, e outra no Shopping Iguatemi Bosque. A rede manterá aberta a loja do Shopping RioMar Fortaleza. Na capital cearense, consumidores contaram em redes sociais terem esperado até duas horas antes de poder entrar nas lojas com liquidação, por onde viam avisos de descontos de até 50%.
No início deste ano, a Tok&Stok atraiu a atenção para sua situação financeira depois que o dono de um galpão logístico que a empresa loca em Extrema (MG) entrou na Justiça pedindo o despejo da varejista por falta de pagamento.
A proprietária do galpão é o Vinci Logística Fundo Imobiliário. No fim de março, o fundo informou que a Tok&Stok pagou R$ 2,092 milhões em juízo para quitar o débito. Alguns dias depois, a ação foi encerrada.
A Tok&Stok ocupa 66,9 mil metros quadrados de área bruta no condomínio de Extrema, município que se tornou um polo de distribuição de mercadorias. O contrato com a rede de lojas corresponde a 14% das receitas totais e a 11% da área bruta local detida pelo fundo.
Desde que a crise econômica enfrentada pela rede se tornou pública com a ação de despejo, a Tok&Stok registrou movimentações em seu quadro de administradores.
Em fevereiro, Daniel Sterenberg, que era diretor-presidente e presidente do conselho administrativo da companhia, renunciou aos cargos, segundo lançamento do dia 15 daquele mês na Junta Comercial de São Paulo.
No dia 27 do mesmo mês, Eduardo Henrique Moura Sampaio renunciou ao cargo de diretor estatutário e, por último, no dia 22 de março, Luciano Ribeiro Escobar, também renunciou ao mesmo cargo.
No mercado imobiliário e no varejo, a falta de pagamento de aluguel foi vista como um sinal de problema de caixa na varejista, uma das maiores do segmento de móveis.
As intempéries nas contas da rede de lojas podem ser o que analistas têm chamado de "crise de bonança". Na pandemia, muitos segmentos cresceram impulsionados por ajustes necessários à transformação do ambiente doméstico para atender aulas e trabalho remotos.
Reformas foram feitas, eletrônicos e móveis precisaram ser comprados e substituídos. O erro da rede teria sido não se preparar para o período posterior, que é o atual. Além da atividade econômica dormente, o momento coincide com juros mais altos, menos crédito e mais desconfiança.
Sem adequar a estrutura para o período de baixa, o caixa do tempo de bonança precisou ser queimado.
A Tok&Stok foi fundada em 1978 e busca atender as classes A e B.
Suas lojas são conhecidas pelos ambientes decorados e pelas parceiras com designers nacionais. No ano passado, envolveu-se em polêmica ao colocar à venda as cadeiras originais da arquibancada laranja do estádio do Pacaembu, por preços de R$ 1.499 a R$ 1.799.
A rede tem lojas em 22 estados brasileiros. Na capital paulista, são dez unidades, entre outlet, as grandes lojas das marginas Pinheiros e Tietê, as instaladas em shoppings e as studio, um pouco menores.
Em 2020, a Estok, nome empresarial da Tok&Stok, chegou a se preparar para ser listada na Bolsa e até pediu registro para uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), mas o plano não avançou.
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