RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O conselho de administração da Petrobras avalia nesta quarta-feira (26) a recondução do diretor de Governança e Conformidade da companhia, Salvador Dahan, em processo que é visto pela diretoria como um atropelo às regras internas da empresa.
O mandato de Dahan venceu no início de abril, e a gestão indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) havia apresentado ao conselho uma lista tríplice de candidatos sem o nome do executivo, que foi incluído à revelia.
A renovação do mandato do diretor por mais dois anos foi recomendada pelo comitê interno que avalia os currículos da estatal, formado por três conselheiros indicados no governo Jair Bolsonaro (PL), um conselheiro representante dos minoritários e um membro externo.
A diretoria ocupada por Dahan é responsável, segundo a estatal, por "assegurar a conformidade processual e mitigar riscos nas atividades da companhia, dentre eles, os de fraude e corrupção, garantindo a aderência a leis, normas, padrões e regulamentos".
Foi criada em 2014, um dia depois da divulgação de investigação pela SEC (reguladora do mercado de capitais dos Estados Unidos) relativa à descoberta do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato.
Dahan tomou posse no dia 18 de maio de 2021, quando a Petrobras era comandada pelo general Joaquim Silva e Luna, o segundo dos quatro presidentes da estatal durante o governo Bolsonaro.
Segundo a empresa divulgou na época, seu nome "foi selecionado por meio de processo independente, conduzido por empresa especializada em seleção de executivos, conforme disposto no Regimento Interno da Diretoria Executiva da Companhia".
A gestão petista, que começou a assumir a Petrobras com a posse do presidente Jean Paul Prates no fim de janeiro, no entanto, considera que Dahan tem imposto obstáculos a mudanças estratégicas prometidas por Lula ainda durante a campanha.
Uma das queixas recai sobre o tempo de análise de indicados para a administração da estatal, que precisam passar por avaliação interna de currículo e antecedentes antes de aprovação pelo comitê interno e, depois, pelo conselho de administração.
A Petrobras ainda não se pronunciou sobre o assunto. A Folha de S.Paulo apurou que a diretoria da companhia alega que a proposta de renovação fere o artigo 36 do estatuto interno, que diz que compete ao presidente da empresa indicar os diretores.
Prates já renovou quase toda a diretoria, à exceção da ocupada por Dahan, a única que tem mandato fixo. Indicou também a diretoria da subsidiária Transpetro, que terá no seu comando Sergio Bacci, que presidia o sindicato patronal dos proprietários de estaleiros.
A gestão petista na estatal, porém, ainda tem que lidar com o conselho de administração nomeado por Bolsonaro, o que vem gerando atritos internos e com sindicatos de petroleiros que apoiaram a eleição de Lula.
"Dahan conseguiu se enfiar numa lista quádrupla para a escolha, contrariando as regras internas da empresa", reclama o coordenador-geral da FUP (Federação Única dos Petroleiros), Deyvid Bacelar, que integrou o grupo de transição do governo Lula para a área energética.
"O nome dele apareceu via o Cope [Comitê de Pessoas], que não tem a faculdade de incluir mais um nome. Quem faz a lista é um grupo de trabalho nomeado pela diretoria executiva da Petrobras, a quem cabe exclusivamente iniciar o processo", completa.
O conselho de administração será renovado em assembleia de acionistas nesta quinta (27), em processo conturbado com a rejeição de diversos nomes indicados pelo MME (Ministério de Minas e Energia), tanto por possibilidade de conflito de interesses quanto por descumprimento da Lei das Estatais.
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