SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa opera em queda no início da tarde desta terça-feira (2), acompanhando os índices americanos e com cautela do mercado antes de decisões de política monetária do BC (Banco Central) e do Fed (Federal Reserve, o banco central americano).

Às 13h30, o Ibovespa caía 2,38%, a 101.947 pontos. O dólar subia 1,20%, a R$ 5,047.

Nos mercados futuros, os contratos de juros com vencimentos para janeiro de 2025 caíam de 12,06% para 11,92%. Para 2027, iam de 11,81% para 11,76%, e os de 2029 saíam de 12,11% para 12,09%

A queda na Bolsa brasileira acompanha os índices dos Estados Unidos. No início desta tarde, o Dow Jones tinha queda de 1,46%. O S&P500 caía 1,65%, enquanto o Nasdaq operava em baixa de 1,35%.

O Ibovespa é pressionado, ainda, por ajustes nos movimentos dos ADRs (recibos de ação negociados nos EUA). Na segunda-feira (1°), quando a B3 esteve fechada em razão do Dia do Trabalho, o EWZ, ETF brasileiro negociado em Nova York e um relevante índice de referência global para as ações brasileiras, caiu 0,81%.

A semana será marcada por reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) e do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto, do Fed), que divulgam na quarta-feira (3) suas decisões sobre política monetária.

No Brasil, a expectativa é de que a Selic (taxa básica de juros) seja mantida em 13,75% ao ano, mesmo com a ofensiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra o atual nível de juros no país. Na segunda-feira (1°), durante ato do Dia do Trabalho das centrais sindicais, Lula afirmou que a taxa de juros do Brasil não controla a inflação, mas sim o desemprego.

Na semana passada, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que a taxa básica de juros é um instrumento que precisa ser conduzido com credibilidade para criar condições favoráveis para a economia brasileira crescer.

"O que importa na economia não é a Selic, é o que a gente chama de condições financeiras, que é o total que eu tenho liquidez na economia. A Selic é um instrumento que, para gerar condições de liquidez, tem que ser conduzido com credibilidade", afirmou Campos Neto.

Além da decisão sobre os juros, o mercado espera principalmente a divulgação da ata da reunião de política monetária desta semana, afirma o economista-chefe da Valor Investimentos, Piter Carvalho.

"O mercado vai analisar o tom do Copom, a percepção em relação ao novo arcabouço fiscal e se o comitê dará sinais de que vai começar a baixar os juros", diz Carvalho.

"Embora o arcabouço fiscal gere entusiasmo, a viabilidade para um corte de juros só vai acontecer após a tramitação no Congresso, onde o texto pode sofrer alterações relevantes", afirma Camila Abdelmalack economista-chefe da Veedha Investimentos.

Segundo analistas da Levante Investimentos, apesar de não haver dúvidas no mercado sobre as decisões do Copom e do Fed, a expectativa com as indicações futuras é grande, o que deve deixar os investidores na defensiva.

Na semana passada, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a inflação medida pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) desacelerou o ritmo de alta para 0,57% em abril, a menor taxa desde 2020, o que sinaliza um alívio na alta de preços.

A interpretação do BC sobre o dado, porém, ainda pode sustentar a manutenção do atual nível de juros, diz a Levante.

"O Copom pode interpretar essa informação como um ponto isolado, que ainda precisa de confirmação nos levantamentos futuros, ou como o início de uma tendência de desaceleração dos preços", afirmam os analistas.

As metas de inflação do BC são de 3,25% em 2023 e 3% em 2024 e 2025, com margens de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Nos EUA, é esperado um aumento de 0,25 ponto percentual nas taxas de juros, especialmente após a divulgação, na semana passada, de que a inflação do país foi de 4,2% em março, mostrando-se persistente e ainda bem acima da meta de 2% do Fed.

A expectativa é que o provável aumento desta semana seja o último do atual aperto monetário do país, mas o Fed ainda deve manter o tom duro de combate à inflação.

"O cenário americano ainda é misto, com economia forte e baixo desemprego, mas inflação em alta. O Fed deve manter o tom mais duro e não dar sinais de que deve baixar os juros ainda esse ano, apesar do que o mercado acredita. O cenário de juros altos ainda faz parte do mundo", diz Carvalho.

O PCE (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês), indicador de inflação acompanhado pelo Fed para tomada de decisões sobre os juros, teve alta de 4,2% em março na comparação anual, uma desaceleração quando comparado à subida de 5,1% registrada em fevereiro. Apesar da diminuição, o indicador ainda mostra uma inflação persistente no país.

O mercado dos EUA repercute, ainda, a falência do First Republic Bank, após o JPMorgan ter comprado as operações banco na segunda-feira (1°) em leilão federal. Como parte do acordo, o JPMorgan fará um pagamento de US$ 10,6 bilhões à FDIC (agência controladora de depósitos dos EUA).

Após a divulgação do acordo, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos disse estar animado com o fato de a crise do First Republic Bank ter sido resolvida com o menor custo para seu fundo garantidor de depósitos, e acredita que o sistema bancário dos Estados Unidos permanece sólido e resiliente.

O First Republic ficou sob intensa pressão depois de divulgar na semana passada que havia sofrido mais de US$ 100 bilhões em saídas de depósitos no primeiro trimestre e estava explorando opções. Na última sexta (28), notícias sobre uma possível intervenção federal para solução do problema já haviam derrubado ainda mais as ações do banco, que perderam mais de 90% do valor no ano.

Na agenda da semana, há expectativa também para a divulgação sobre juros na zona do euro pelo BCE (Banco Central Europeu). A previsão é de uma nova alta nas taxas, mas de 0,25 ponto percentual, o que representaria uma diminuição em relação ao aperto monetário promovido pelo banco.

Nesta terça (2), foi divulgado que a inflação da zona do euro acelerou no mês passado, mas o crescimento do núcleo dos preços diminuiu inesperadamente, ampliando os argumentos de um aumento menor da taxa de juros.

O BCE elevou as taxas de juros em pelo menos 0,50 ponto percentual em cada uma de suas últimas seis reuniões.


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