SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar aprofundou as perdas e voltou a fechar abaixo do R$ 5,00 nesta quarta-feira (3), após a decisão do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) de elevar os juros nos Estados Unidos em 0,25 ponto percentual, para a faixa entre 5,00% e 5,25%.
A Bolsa brasileira, por sua vez, teve leve baixa. Os investidores ainda aguardam a decisão do Banco Central (BC) brasileiro sobre a Selic (taxa básica de juros).
O Ibovespa caiu 0,13%, a 101.797 pontos. O dólar fechou em queda de 1,10%, a R$ 4,990.
Nos EUA, os principais índices também tiveram queda. O Dow Jones, o S&P 500 e o Nasdaq caíram 0,80%, 0,70% e 0,46%, respectivamente.
Os mercados futuros também recuaram. Os contratos com juros para janeiro de 2025 iam de 11,98% para 11,89%. Os com vencimento em 2027 caíam de 11,79% para 11,66%, enquanto os de 2029 iam de 12,10% para 11,99%.
A decisão de alta dos juros pelo Fed já era esperada pelo mercado. Apesar de o Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto) ter sinalizado que uma pausa no ciclo de alta das taxas é possível, o presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, disse que ainda considera que a alta de preços está em patamar muito elevado e que as pressões continuam a ser motivo de preocupação.
"O Fed diz que vai observar o cenário para avaliar se há necessidade de continuar subindo os juros. Isso indica que as taxas podem já estar num patamar alto o suficiente, mas ainda deixa uma porta aberta para um novo aumento caso a inflação permaneça forte", diz Stephen Kautz, economista-chefe da EQI Asset.
"A fala de Powell confirmou que não haverá corte de juros nem no médio prazo, o que acabou estressando alguns ativos. A economia americana continua acelerando, e os dados inflacionários e de emprego estão acima do esperado. Isso pegou boa parte dos investidores que esperavam uma comunicação mais suave do Fed", afirma Alison Correia, analista da Top Gain Research.
Um mercado de trabalho aquecido tem efeitos inflacionários na economia, e por isso o indicador é acompanhado de perto pelo Fed. A crise bancária, porém, pode atuar de maneira contrária ao restringir a tomada do crédito. Por isso, o banco central afirma que avaliará os indicadores a cada reunião, sem confirmar possíveis cortes de juros.
AÇÕES DE BANCOS REGIONAIS CAEM
Na esteira da crise bancária, os bancos regionais, que caíram ainda mais nesta quarta, também pressionaram os indicadores americanos, em meio à crise de confiança causada pelo colapso do First Republic Bank.
As ações do Western Alliance Bank e do PacWest Bancorp fecharam em queda de 4,34% e 1,99%, após terem recuado 27,8% e 15%, respectivamente, na terça-feira (2).
O petróleo Brent caiu 4%, a US$ 72,33 o barril, menor valor de referência global no fechamento desde dezembro de 2021.
No Brasil, investidores ainda aguardam a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária), que deve manter a Selic em 13,75% ao ano. Há dúvidas, porém, sobre a possibilidade de cortes nos juros nas próximas reuniões do comitê.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, vem sendo alvo de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de integrantes do governo devido ao nível elevado de juros no país.
O BC, porém, tem sido firme na decisão de manter o atual patamar de juros, mirando suas metas de inflação de 3,25% em 2023 e 3% em 2024, com margens de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Apesar de dados positivos sobre a desaceleração da escalada de preços no Brasil, há expectativa de alta da inflação para prazos mais longos, argumento que tem sido usado pela autoridade monetária para manter a Selic no atual patamar.
As discussões quanto a uma possível antecipação na redução de juros pelo BC, porém, começaram a ganhar força após temores sobre uma crise de crédito e a desaceleração econômica do Brasil.
"O Banco Central do Brasil pode ser um dos primeiros do mundo a começar a cortar os juros, dado que a economia brasileira já está sentindo o aperto monetário", afirma Rodrigo Jolig, diretor de investimentos da Alphatree Capital.
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