SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O mercado de crédito passou por dois grandes traumas recentemente: o anúncio da recuperação judicial da Americanas, em janeiro, e o da Light, este mês. Os eventos comprometeram a confiança das empresas tomadoras de crédito, especialmente as varejistas, que dependem do capital para financiar o consumo.

A avaliação é a do banqueiro Ricardo Lacerda, fundador e presidente do banco de investimentos BR Partners. "Não tenho bola de cristal, mas poderia dizer que o pior já passou", informou Lacerda à Folha de S.Paulo.

O executivo foi um grande crítico do escândalo contábil da Americanas, ao qual chamou de "fraude colossal perpetrada por uma quadrilha". Questionado sobre se o pior já passou também para a Americanas, uma vez que a empresa está entrando em acordo com seus grandes credores, os bancos, após anunciar aporte de R$ 12 bilhões por parte dos principais acionistas, Lacerda continua achando que houve fraude.

"Mas os bancos não são o Ministério Público. Eles emprestaram dinheiro e querem receber", diz ele, considerando natural que haja um acordo entre as partes.

Lacerda ressalta que esse "trauma" acabou gerando o reperfilamento de dívidas de várias empresas, como a Marisa -assessorada pelo banco, operação em andamento, sobre a qual o executivo prefere não falar.

Em função de aperto monetário, combinado à desaceleração econômica, muitas companhias reperfilaram suas dívidas, e algumas chegaram à recuperação judicial, afirmou. "Temos um nível de atividade econômica ainda saudável. A Selic a 13,75% é um limitador, mas há indicadores de uma redução da taxa no segundo semestre", afirma.

Na opinião do executivo, até a efetiva redução da taxa básica de juros e o seu efeito sobre o mercado de consumo, haverá um período de reacomodação. "Mas acredito que 2023 será o terceiro melhor ano dos últimos 10 anos, voltando ao patamar de 2020, que foi um ano bom", diz. "Está longe de ser como em 2015 ou 2016, onde tudo parou sob o governo Dilma [Rousseff]."

Embora elogie o ambiente institucional sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação ao seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), Ricardo Lacerda acredita que o presidente não deve querer mudar o que já foi instituído.

"Uma coisa é criticar a taxa Selic a 13,75%, outra é querer tirar a autonomia do Banco Central", afirma. "Da mesma maneira, faz sentido que ele seja contra as privatizações, porque foi eleito com esta agenda. Mas não querer cancelar privatizações que já foram feitas", afirma, referindo-se às últimas declarações de Lula sobre a Eletrobras.

O lucro do BR Partners no primeiro trimestre deste ano caiu 17,3% em relação ao mesmo período do ano passado, para R$ 33,1 milhões. Na comparação com o último trimestre de 2022, a queda foi de 2%. Já a receita somou R$ 101,5 milhões, recuo de 4,9% na comparação anual. Em relação ao trimestre anterior, houve alta de 3,9%.

Os resultados, segundo o banco, refletem as turbulências macroeconômicas e no mercado corporativo brasileiro no período.

O BR Partners, no entanto, afirma que tem se mostrado mais resiliente que outros bancos de investimento, por atuar em um nicho específico, de fusões e aquisições.

"Tivemos muitas conversas em andamento no primeiro trimestre, mas em um momento de incerteza como o que vivemos, é natural que as negociações ainda não tenham se concretizado", afirma Lacerda.


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