FLORIANÓPOLIS, SC (UOL/FOLHAPRESS) - A venda de TVs 8K está proibida na União Europeia desde 1º de março de 2023. A medida deve redesenhar o mercado das gigantes de eletroeletrônicos. E isso pode afetar parcialmente a disponibilidade do produto no Brasil, segundo especialistas consultados pela reportagem.
Apesar de a determinação ser impositiva apenas aos países que fazem parte do bloco, outros lugares podem sofrer com o desaquecimento da produção de televisores 8K em razão de a fabricação ser padronizada em escala global para reduzir os custos de produção às empresas.
O regulamento que proíbe a venda de TV 8K na União Europeia foi anunciado em outubro do ano passado como parte de uma política de consumo sustentável da região, além de ser uma estratégia para lidar com a crise energética.
TVs 8K consomem mais energia do que modelos com tecnologias anteriores. O nível máximo de consumo de energia para todas as TVs deve ser agora até 90W (das TVs 4K). Modelos 8K chegam a consumir 190W.
Agora os eletroeletrônicos devem conter um código QR Code que irá direcionar o consumidor para informações sobre quanto aquele aparelho gasta de energia, a partir dos novos limites estabelecidos. Como comparação, no Brasil a referência para o consumidor é o selo da Procel, que vai da faixa A (mais econômico) a G (menos econômico).
"O lado positivo disso é que o mundo levará cada vez mais a sério os problemas de sustentabilidade do planeta. Mas de ponto negativo vejo a demora para termos equipamentos de altíssima resolução e tamanho grande atendendo essas normas", diz Hani Camille Yehia, professor do departamento de engenharia eletrônica da UFMG.
O QUE O BRASIL TEM A VER COM ISSO?
A 8K Association, entidade que representa as gigantes dos eletroeletrônicos que fabricam aparelhos em 8K no mundo, afirma que a quantidade de watts permitida pela União Europeia inviabiliza a produção de televisores 8K para o continente porque as características dos aparelhos fazem ultrapassar esse limite.
"Isso terá um efeito muito assustador em todos que trabalham para desenvolver o ecossistema 8K", afirmou a 8K Association, em comunicado. Nenhuma TV 8K atual pode atender a esse nível de eficiência de energia determinado pela UE, completou a entidade. Ou seja, os equipamentos precisariam ser adequados para a comercialização.
Para o professor Hani Camille Yehia, as empresas até têm capacidade para se adaptar dentro desse cenário com o tempo. Contudo, o setor de TVs de altíssima resolução deve sofrer atrasos em seus avanços. "Os eletroeletrônicos custam menos se fabricados em grande escala. Num primeiro momento pode até aumentar o valor [diante dessa nova regra da UE]."
José Gabriel Gomes, professor do departamento de engenharia eletrônica da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), concorda. Ele afirma que o mercado brasileiro deve ser afetado parcialmente com a redução de oferta de modelos de TVs 8K.
"A TCL e a LG têm um ou dois modelos em comercialização no Brasil. A Samsung, por sua vez, deve manter os lançamentos previstos em 8K no Brasil, por ter capacidade para se adaptar às circunstâncias novas", diz.
O QUE DIZEM AS FABRICANTES
Procurada, a Samsung, líder de venda de televisores no Brasil, afirmou que os lançamentos dos modelos 8K da marca em 2023 estão confirmados. Nada mudará no momento, mesmo com a decisão da União Europeia.
"A Samsung possui uma estrutura consolidada no Brasil e com produção local, o que possibilita adequações às necessidades do mercado", disse Alexandre Gleb, gerente de TV da Samsung Brasil.
Para a Europa, Gleb acrescentou que, para se adaptar às novas regras, os televisores no continente são vendidos no modo Eco, "onde o brilho do painel é controlado atendendo a regra de limitação de consumo energético".
"Isso fez com que a companhia já considere para que globalmente toda a produção dos próximos modelos, também sigam o mesmo formato", acrescentou.
A Semp TCL informou que "as novas regras impactam mundialmente a produção de televisores 8K, uma vez que a indústria de painéis segue um modelo global de produção e não específico por região ou país".
"Não teremos lançamentos de TVs com resolução 8K no Brasil em 2023. Nossa grande aposta para este ano é em um portfólio com opções em modelos que contém tecnologia de painel QLED Mini LED e resolução 4K, que oferecem qualidade de imagem superior, com mais zonas de iluminação, nível de brilho, contraste e profundidade de cor", comentou Nikolas Corbacho, gerente de produtos na Semp TCL Brasil.
A reportagem ainda consultou a LG, que também fabrica televisores no Brasil, mas a empresas não respondeu aos questionamentos. A Panasonic informou que parou de produzir televisores em 2021.
POR QUE 8K CONSOME MAIS ENERGIA
A explicação está na quantidade total de pontinhos na tela para formar uma imagem, chamados de pixels.
Para ter uma resolução melhor, a 8K tem 7.680 pixels de largura e 4.320 pixels de altura, um total de 33.177.600 pixels. As TVs 4K possuem 3.840 pixels de largura e 2.160 de altura, um total de 8.294.400 pixels.
Com mais pixels necessários para a tela, as TVs 8K são comercializadas a partir de 55 polegadas, enquanto a 4K possui modelos iniciais de 32 polegadas. O resultado disso é mais consumo de energia.
"Quanto maior o tamanho da tela, maior o consumo de energia. Isso é intuitivo. Geralmente as televisões 8K, além do número de pixels, têm telas com mais luzes, consumindo mais", explica Hani Camille.
Então por que não fazer 8K com telas menores? Os entrevistados dizem que a resolução exige polegadas maiores para que o consumidor note a diferença em comparação às demais.
"Só se consegue perceber que uma resolução é 8K quando a tela é grande. Uma TV 8K abaixo de 55 polegadas não faz sentido", ressalta Hani Camille.
DEVO COMPRAR UMA TV 8K? MELHOR ESPERAR
Fábio Gonçalves Jota, professor titular aposentado da engenharia eletrônica da UFMG, alerta que os consumidores podem esperar um pouco mais para comprar uma TV 8K por duas razões.
A primeira é para saber se os televisores serão afetados pela medida europeia.
"Com determinados artifícios, é possível as empresas ajustarem a TV de 8K de tal forma que o modo econômico dela não gaste mais do que o permitido, mas isso daria uma restrição tão gigante em sua qualidade que não valeria a pena tê-la", afirmo Fábio Jota, UFMG.
Já o outro motivo é a oferta de conteúdos em 8K.
No Brasil, por exemplo, não há produções audiovisuais nessa resolução. Nas transmissões de futebol, "cobaia" para novidades audiovisuais no país, o Brasileirão contou somente a partir deste ano com um jogo por rodada em 4K, restrito ainda apenas para assinantes do SporTV e Globoplay.
"Mesmo que você tenha uma TV 8K, não terá o que mostrar porque existem pouquíssimos produtos na resolução. Muita gente compra porque quer ficar sempre na moda, são coisas de consumo", disse ainda Jota.
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