BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O arcabouço fiscal tem um grande poder de influenciar a expectativa de inflação futura ao eliminar o risco de um descontrole dos preços no país, afirmou nesta quinta-feira (25) o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Em entrevista à GloboNews, Campos Neto qualificou de "estrondosa" a votação do projeto que muda o regime fiscal do país. "Eu reconheço o grande trabalho que foi feito pelo governo, pelo ministro [Fernando] Haddad [Fazenda], e como o Congresso se mobilizou e fez uma votação rápida, uma votação muito expressiva, num tema como o arcabouço", disse.
O presidente do BC afirmou que o arcabouço influi nas expectativas de mercado. "A gente vê aí as taxas de juros longas caindo bastante, já caíram quase 2% quando a gente pensa nesse processo nas últimas semanas, nos últimos meses", afirmou.
"Na parte de expectativa, o arcabouço tem um grande poder de influenciar a expectativa de inflação futura. Porque existia um medo de que a inflação podia simplesmente sair de controle. E o que o arcabouço deixa muito claro é que esse medo não existe mais", complementou.
Segundo ele, o arcabouço elimina o "risco de cauda" [evento raro], e o mercado já está reconhecendo essa redução, que se reflete na queda das taxas de juros de longo prazo. "Acho que, de fato, isso ajuda num ambiente", disse. "Qualquer tipo de reforma ajuda."
Pressionado pelo governo a iniciar uma redução na taxa básica de juros Selic, hoje em 13,75% ao ano, Campos Neto lembrou que é "1 voto de 9". "É um voto colegiado", lembrou. Ele também comentou as críticas que vem recebido do presidente Lula (PT), que chegou a insinuar que ele tinha compromisso com o governo anterior.
"Eu confesso que achava o contrário, porque a gente fez um aumento de juros muito alto, muito rápido em ano de eleição. A gente olhou historicamente e foi o maior aumento de juros em ano de eleição na história do país", argumentou Campos Neto. "E a gente fez isso exatamente para cruzar os mandatos [de Bolsonaro e Lula] com uma situação mais estável."
"Como a gente fez isso no meio de um processo de eleição, eu tinha o entendimento que isso demonstraria que a equipe é muito técnica e atuou de forma técnica independente das eleições", disse Campos Neto, que ressaltou que Lula tem todo direito de falar sobre juros.
Na avaliação do presidente do BC, ao levar a uma desaceleração de crédito, o juro alto gera ansiedade --o governo teme que a Selic elevada possa prejudicar a retomada da economia.
"A gente entende que isso é parte natural do processo", disse. "A missão é colocar a inflação na meta. Por que o BC tem essa missão? Porque a sociedade entende que a inflação na meta é um elemento que hoje gera maior estabilidade de investimento, geração de emprego a longo prazo e lembrando que a inflação é um imposto muito perverso para a classe mais baixa."
Ele justificou ainda que o Banco Central monitora alguns fatores para tomar suas decisões, como inflação de curto prazo, capacidade de o país crescer sem gerar inflação e expectativas.
"A gente entende que tem um tema ainda da meta [de inflação] que precisa ser resolvido. A gente acha que vai ser endereçado em breve. Mas, de uma forma geral, a gente entende que o cenário está melhor
agora", disse. "Quando vai acontecer e se vai acontecer é um tema do colegiado e eu não tenho como adiantar, mesmo porque eu sou um voto de nove", complementou.
Campos Neto também defendeu que não se altere a meta de inflação neste momento, por se tratar de um período de muita incerteza.
"É importante entender que quando se faz uma mudança de meta achando que você vai ganhar flexibilidade para cair os juros, geralmente tem um efeito contrário. Significa que as mudanças de meta ou as mudanças de arcabouço, de uma forma geral, têm que ser feitas visando ganhar eficiência, e não um grau de liberdade, senão você acaba perdendo em vez de ganhar."
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