SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Alexandr Wang, 26, lidera a primeira empresa a treinar uma inteligência artificial com dados sigilosos do governo norte-americano, a Scale AI. Ele é filho de físicos emigrantes da China, que hoje trabalham no laboratório de armas nucleares de Los Alamos, no Novo México.
Wang reuniu seu primeiro bilhão de dólares aos 24 anos, com o principal negócio da Scale AI: subcontratar pessoas para limpar e rotular dados usados para treinar grandes modelos de linguagem.
Isso garantiu US$ 250 milhões (R$ 1,25 bilhão) em receita à empresa em 2022, ante US$ 28 milhões (R$ 140 milhões) que a criadora do ChatGPT, OpenAI, teve no mesmo período. A Scale AI é uma das poucas empresas rentáveis do ramo, junto com a agora trilionária Nvidia.
Contratos com o governo norte-americano são outra fonte de renda importante para o negócio de Wang. Em janeiro de 2022, o Departamento de Defesa dos EUA anunciou um acordo de compra de US$ 249 milhões com a Scale AI, que se comprometeu a desenvolver um sistema autônomo capaz de analisar imagens, fazer buscas visuais e entender comandos baseados em linguagem natural --como faz o ChatGPT.
Daí veio o desenvolvimento do Scale Donovan, apresentado ao público em 10 de maio. A plataforma pode ser integrada a dispositivos móveis de militares norte-americanos e é capaz de trabalhar com mapas, acessar dados em tempo real e manter comunicação com bases de comando.
"Permite que uma decisão que levaria semanas seja tomada em minutos", disse Wang em entrevista à Bloomberg.
Para ter acesso a conteúdos secretos do governo norte-americano de forma segura, a Scale AI contratou especialistas em defesa --em vez de usar o exército de trabalhadores terceirizados ao redor do mundo que tem ao dispor. O próprio Wang disse isso em entrevista à CNN na terça-feira (30).
A reportagem tentou contato com a Scale AI para conversar com representantes das empresas durante o mês de maio, mas a companhia disse não ter porta-vozes disponíveis. Também enviou mensagem para o telefone disponível no LinkedIn do jovem empreendedor da IA, mas não obteve retorno.
Uma subsidiária da Scale AI não anunciada em materiais de divulgação, a Remotasks, faz intermediação de trabalhos temporários ligados ao treinamento de inteligências artificiais em países pobres, como Quênia, Filipinas e Venezuela. Cerca de 240 mil pessoas estão na plataforma, de acordo com a revista norte-americana Forbes.
Esse serviço, todavia, é essencial para as empresas de IA que precisam de informações organizadas no treino de redes neurais que sustentam os grandes modelos de linguagem.
À Forbes, um dos conselheiros mais próximos de Wang, Jeff Wilke, afirma que a Scale AI pode se tornar para a inteligência artificial o que a Amazon Web Services é para a internet. Wilke é ex-diretor de atendimento ao cliente da Amazon.
Expectativas dessa monta fizeram a Scale AI ser avaliada em US$ 7,3 bilhões (R$ 36,5 bilhões) em 2021, durante sua última rodada de investimentos. Foi assim que Wang se tornou bilionário. Entre os investidores da startup, estão fundos de risco conhecidos, como Founders Fund, Tigers Global e o Y Combinator, já dirigido pelo presidente-executivo da OpenAI, Sam Altman.
A relação de Wang com o governo norte-americano não se restringe ao contrato com o Departamento de Defesa. A Scale AI também forneceu à Casa Branca uma plataforma que avalia riscos de modelos de inteligência artificial.
Wang disse à CNN que esse serviço será essencial para o governo definir o arcabouço regulatório responsável pelo setor.
Nesse assunto, o jovem puxa a sardinha para o lado de seu negócio. Bases de dados bem limpas e caracterizadas seriam o alicerce para modelos responsáveis e eficientes.
O sucesso comercial da Scale AI pesa a favor do argumento de seu fundador. A empresa atende OpenAI, Meta, Google, Microsoft e outros dos maiores representantes do mercado de IA. Também presta serviços na área de carros autônomos à Tesla e à Toyota.
Embora reconheça o risco existencial da inteligência artificial, Wang se coloca ao lado dos especialistas e executivos que consideram impossível parar o desenvolvimento da tecnologia, em um ambiente de concorrência com a China.
"Supremacia em dados é o requisito número um em uma guerra de inteligência artificial", escreve Wang em edição da newsletter que assina.
A disputa com a China também foi tema da apresentação do criador da Scale AI no TED. Os Estados Unidos se equiparam à habilidade do país comandado por Xi Jinping de planejar a longo prazo, de acordo com Wang.
Armamentos equipados com IA serão dez vezes mais letais e inteligentes, projeta.
Wang costuma dizer que sua vontade de trabalhar com inteligência artificial surgiu em viagem feita em 2018 à China, onde ele ouviu os melhores engenheiros abordarem o tema. O empreendedor, contudo, considera o país de origem de sua família o adversário a ser superado.
No TED, ele convocou especialistas em tecnologia a trabalhar em prol da segurança nacional contra regimes que chamou de autoritários. "Nós precisamos lutar por um mundo em que queremos viver. Isso nunca importou tanto."
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