SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A combinação de valorização do real, queda da inflação, crescimento mais forte da economia e resultados positivos nas contas públicas tem contribuído para compensar parte dos efeitos negativos da alta dos juros sobre os indicadores de endividamento do Brasil.

O próprio Banco Central calcula qual o impacto de alguns desses fatores sobre a dívida bruta do governo geral (que inclui dados de estados e municípios). Esse é atualmente o indicador mais utilizado pelos economistas para medir o endividamento do país e compará-lo a outras economias.

De acordo com o cálculo mais recente do BC, um aumento de um ponto percentual na taxa Selic, mantido pelo período de 12 meses, tem um impacto de R$ 38 bilhões na dívida bruta, o que corresponde a cerca de 0,4 ponto percentual do PIB (Produto Interno Bruto).

A elevação na mesma magnitude do IPCA, índice de preços ao consumidor do IBGE que serve como meta de inflação, tem um custo de R$ 18,4 bilhões (0,18 ponto percentual do PIB).

Uma desvalorização de 1% da taxa de câmbio (alta do dólar) eleva a dívida em R$ 9,2 bilhões (0,09 ponto do PIB). No caso do câmbio, o impacto é imediato, pois afeta a contabilização do passivo em moeda estrangeira quando convertido para a moeda nacional.

Quando a Selic, a inflação e o dólar caem, os efeitos sobre a dívida são positivos, na mesma magnitude, segundo os cálculos do BC. Nesse caso, foram considerados os impactos divulgados no final de maio, com base nos números de abril.

Outro indicador para medir o endividamento é a dívida líquida do setor público, na qual o valor dos ativos é descontado do passivo. Nesse caso, os impactos para Selic e IPCA são muito próximos dos calculados em relação à dívida bruta.

Em relação ao câmbio, há uma diferença importante, pois o Brasil é credor em moeda estrangeira, ou seja, possui reservas cambiais que superam a dívida externa. Por isso, uma alta de 1% do dólar, reduz a dívida líquida em R$ 7,7 bilhões, uma vez que aumenta o valor em reais desse ativo.

O dado mais recente do Banco Central mostra que a dívida líquida atingiu 57,2% do PIB, o equivalente a R$ 5,8 trilhões, em abril, patamar praticamente estável ao longo do quadrimestre.

No período houve efeitos negativos por conta de juros e da valorização cambial. O crescimento do PIB nominal e o superávit primário, por outro lado, compensaram esses efeitos.

A dívida bruta atingiu 73,2% do PIB (R$ 7,5 trilhões), depois de fechar 2022 em 72,9%, com o impacto dos juros se sobrepondo aos efeitos positivos do câmbio, do PIB e também dos resgates da dívida.

Em 2022, a dívida bruta recuou 1,3 ponto percentual do PIB, com resgates e crescimento do PIB se sobrepondo ao impacto negativo dos juros.


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