BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - O FMI (Fundo Monetário Internacional) aceitou adiar em uma semana o pagamento de uma parte da dívida da Argentina. Seguindo o cronograma, o país teria de pagar US$ 2,7 bilhões (R$ 12,9 bilhões) ao órgão nesta quinta e sexta-feira (21 e 22), mas agora o repasse poderá ser feito até o dia 30.

A parcela faz parte do maior acordo da história do fundo, que foi firmado em 2018 durante o governo de Mauricio Macri e foi renegociado em 2022 pelo atual presidente Alberto Fernández, totalizando US$ 44 bilhões (R$ 210 bilhões). Desse montante, a Argentina já recebeu US$ 29 bilhões (R$ 138 bilhões).

Agora, o país se encontra no meio de novas negociações para flexibilizar as exigências e acelerar o restante dos desembolsos, vistos como essenciais para evitar uma piora na crise econômica e um descontrole ainda maior na inflação antes das eleições presidenciais de outubro.

O atual acordo, firmado em março de 2022, obriga a Argentina a aumentar suas reservas internacionais e a reduzir o déficit fiscal: de 3% do PIB (Produto Interno Bruto), em 2021, para 2,5% em 2022, 1,9% em 2023 e 0,9% em 2024. Espera-se que o ministro da Economia, Sergio Massa, viaje a Washington em breve, para acertar as novas regras.

Segundo o jornal La Nación, o governo tem dado indícios de que adiantará uma parte do pagamento da parcela de US$ 2,7 bilhões já para segunda-feira (26), antes do prazo, em um aceno à diretoria do fundo. O adiamento, confirmado à reportagem por membros do fundo, foi um pequeno respiro, já que o país terá ainda que pagar uma nova parcela de mesmo valor em julho.

A Argentina vive uma escassez histórica de dólares em seus cofres, principalmente pelas altas dívidas externas contraídas ao longo das suas diversas crises. O país tem hoje pouco mais de US$ 30 bilhões em reservas internacionais ?para se ter ideia, o Brasil tem mais de US$ 340 bilhões?, mas analistas estimam que os valores líquidos são ainda menores.

O que já era ruim ficou pior devido a diversos fatores recentes. Sem credibilidade para atrair investimentos estrangeiros, a nação depende muito das exportações agropecuárias para que a moeda estrangeira entre, mas uma seca considerada sem precedentes atingiu a última safra de soja, milho e trigo, derrubando a produção da última safra.

Apesar de o FMI ter aceitado em março deste ano revisar "para baixo" alguns objetivos de acumulação de reservas internacionais do acordo, ainda não se estabeleceu uma nova meta.

Nesse contexto, Lula e os presidentes de outros cinco países latino-americanos, quase todos alinhados à esquerda, assinaram nesta quinta uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fazendo um apelo para que ele apoie a Argentina nas negociações com o fundo. O documento foi entregue pelo Ministério das Relações Exteriores da Argentina.

"Nós, líderes da região, acreditamos que é possível encontrar uma solução consensual que permita à Argentina transformar a situação em que se encontra. Não é viável nem desejável que as exigências que não consideram devidamente a mudança nas circunstâncias mergulhem a Argentina em uma crise desnecessária que interrompa a recuperação em curso", argumentam.

Lula, Luis Arce (Bolívia), Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia), Andrés Manuel López Obrador (México) e Mario Abdo (Paraguai) escrevem ainda que "a inflexibilidade do FMI em rever os parâmetros do acordo no contexto da seca descrita corre o risco de transformar um problema de liquidez em um de solvência".

"Pedimos com respeito e afeto que apoie a Argentina nas negociações que ela está levando adiante com o FMI", acrescentam, ao reivindicar "uma solução rápida e efetiva para a Argentina".


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