BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), disse que, após o lançamento do Plano Safra e com medidas em elaboração pelo governo, a resistência do agronegócio em relação ao presidente Lula (PT) irá cair ainda mais.

"Nos próximos seis meses, o presidente Lula já pode passar em qualquer evento, em feira agropecuária ou sindicato rural que ele vai ser muito bem recebido", disse o ministro em entrevista à Folha de S.Paulo.

Majoritariamente os ruralistas apoiavam a reeleição de Jair Bolsonaro (PL). Em abril, a organização da Agrishow, em Ribeirão Preto, cancelou a tradicional cerimônia de abertura do evento, após a polêmica envolvendo o "desconvite" a Fávaro para que não comparecesse ao ato, que contou com a presença de Bolsonaro.

Em cerimônia no Palácio do Planalto, Lula apresenta nesta terça-feira (27) e quarta (28) os detalhes do Plano Safra 2023/2024, com volume recorde de recursos -próximo de R$ 430 bilhões.

"Todos aqueles que conseguem já fazer essa análise clara, transparente do momento que estamos vivendo já reconhecem que não precisa ter temor, sabe que é um governo que vai ajudar o agro como sempre o presidente Lula fez", afirmou.

Apesar do entusiasmo do governo, representantes do agronegócio já apontam críticas ao programa de Lula.

Para José Mario Schreiner, vice-presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o plano precisa ser aprimorado na parte de seguro rural, que ajuda o produtor a se proteger financeiramente contra prejuízos causados por desastres naturais, queda de produtividade, e outros eventos imprevisíveis.

Além disso, o critério de exigir o CAR (Cadastro Ambiental Rural) para conceder uma redução extra na taxa de juros não é, na avaliação dele, o mais adequado, por causa da demora na emissão desse certificado. "Como é que pode excluir 80% dos produtores sendo que eles não têm culpa nenhuma?", questionou.

O presidente da Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja), Antonio Galvan, pediu aumento de recursos para a construção e ampliação de armazéns e também apontou falta de verba para o seguro rural.

"Havia a expectativa de o plano ter um pouco mais de recursos, mas temos que trabalhar com o que se tem. Precisamos de uma proteção maior por adversidades climáticas ou crise de preços", disse.

O evento no Planalto teve baixa adesão de parlamentares da bancada ruralista. O governo argumenta que o lançamento do plano ocorreu numa semana esvaziada em Brasília, que não terá sessão na Câmara.

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) foi representada pelo vice-presidente. deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), que também engrossou o coro pela redução das taxas de juros.

Lula entre o vice Geraldo Alckmin e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, no lançamento do Plano Safra Gabriela Biló - Folhapress **** "É claro que as taxas de juros poderiam ser menores, mas reconhecemos que, com a manutenção da taxa Selic a 13,75% exigiu que a equalização de juros [que permite juros mais baixos para o setor] ficasse numa situação difícil. Reconhecemos o esforço do governo", declarou Jardim.

Em resposta às críticas, Fávaro informou que já está estudando uma forma de elevar os recursos para o seguro rural e pediu que o agronegócio reforce, junto ao governo, a pressão para o Banco Central reduzir os juros no país.

"Se nós tivéssemos taxas básicas de juros mais baixas, certamente não teríamos mais recursos para seguro, juros mais baixos no Plano Safra. Eu gostaria muito que o setor nos ajudasse com a responsabilidade que tem na cobrança ao presidente do Banco Central", afirmou o ministro.

Para Fávaro, as perspectivas para a relação do agro com o governo são boas, porque "na medida em que você vai trabalhando, fazendo entregas, reconhecendo a importância do setor, gerando mais oportunidades e apoiando nas dificuldades, certamente todo mundo vai percebendo que não há discurso radical de nós contra eles e o Plano Safra é mais um grande passo nesse sentido".

Lula afirmou nesta terça que seu governo vai criar uma "prateleira" de terras improdutivas para que haja uma política de assentamentos antes de movimentos sociais invadirem as propriedades rurais.

Durante o lançamento do Plano Safra, ele declarou ainda que, para haver uma reforma agrária no país, "não precisamos sequer ter mais invasão de terra".

Representantes do agronegócio elogiaram o discurso. Outros, porém, disseram que o presidente apenas cumpriu a obrigação dele.

Fávaro concorda com a ideia de fazer um banco de terras públicas e terras ociosas para o assentamento dos sem terra. "Não precisa ter conflito para isso".

Galvan, que foi um dos principais apoiadores de Bolsonaro, acredita que a reforma agrária, dessa forma, poderá ser feita de forma pacífica. "Essa é uma das falas que já começam a pegar bem [com os ruralistas]. Tem terra para fazer uma reforma agrária séria, com quem quer realmente produzir".


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