SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após a Bolsa de ações de tecnologia Nasdaq, dos Estados Unidos, registrar uma alta de mais de 30% no primeiro semestre, a maior nos últimos 40 anos, analistas dizem ser difícil cravar que o movimento irá prosseguir na mesma proporção durante a segunda metade do ano.

De janeiro a junho, o movimento de alta foi impulsionado em grande medida pelas novidades relacionadas à inteligência artificial, que teve como grande destaque o chatGPT. Um ajuste após a queda das ações em 2022 provocada pela pressão inflacionária e pela alta de juros também é apontado por especialistas entre as razões para o bom desempenho do índice acionário.

Entre as principais ações negociadas nas Bolsas dos Estados Unidos, as da Microsoft, que investiu na OpenAI, empresa por trás do chatGPT, subiram 42% no primeiro semestre, enquanto as do Google tiveram alta de 36%, segundo dados da Bloomberg.

Há casos de altas ainda mais destacadas, como das ações da Meta, que saltaram 140% no período, e as da Tesla, que ganharam 112%.

"Os avanços recentes da inteligência artificial abriram uma avenida de crescimento para as empresas de tecnologia que fez com que o mercado ficasse mais otimista com os lucros futuros, mas não necessariamente é algo que vai se materializar no próximo trimestre", afirma Arthur Siqueira, sócio e analista da gestora focada em investimentos globais Geo Capital.

Ele lembra que as atenções dos investidores se voltaram nos últimos dias para o início da temporada de balanços do segundo trimestre das empresas com ações negociadas nos Estados Unidos.

Os números, na avaliação do analista, devem refletir muito mais eventos recentes como as ondas de demissões em massa das empresas de tecnologia, com potenciais ganhos de eficiência, do que os avanços que a inteligência artificial ainda poderá trazer para os negócios no futuro.

Entre os balanços já divulgados, a Netflix e a Tesla viram as ações registrarem forte queda no dia seguinte à apresentação dos resultados, com receitas abaixo das expectativas do mercado.

Segundo Siqueira, do que já se tem conhecimento em relação à inteligência artificial até aqui, talvez boa parte já esteja hoje refletida nos preços das ações.

Ao considerar um horizonte de médio e longo prazo, no entanto, o analista afirma que fica até difícil mensurar o impacto que a inteligência artificial ainda poderá agregar para os negócios dessas empresas, e, consequentemente, para o preço das ações.

Chefe de análise da gestora Nextep Investimentos, Maria Antonia Viuge diz que, no momento em que novas tecnologias com potencial disruptivo começam a surgir, as atenções dos agentes financeiros muitas vezes se voltam para uma iniciativa em particular que acaba tendo um apelo maior junto ao grande público, mas que não necessariamente representa toda a dimensão do negócio.

Ela cita como exemplo o blockchain e as criptomoedas. O bitcoin e os demais criptoativos são muito mais falados no dia a dia entre os investidores, mas, na realidade, é a rede blockchain que tem um potencial disruptivo muito maior para transformar os negócios corporativos em relação ao modelo vigente, afirma a especialista.

"As pessoas acabam focadas na árvore e não veem a floresta. A inteligência artificial é muito mais que só o chatGPT, é algo que tem potencial para permear muitas outras linhas de negócio", diz Maria Antonia.

A especialista diz que tem Microsoft e Google entre as principais posições nas carteiras dos fundos dedicados às ações globais da Nextep. Ela afirma que os investimentos têm como base o fato de se tratarem de empresas bem consolidadas em seus nichos de atuação, independentemente do impacto que a inteligência artificial ainda trará para as operações, "embora as duas estejam bem posicionadas para se beneficiar" da nova tecnologia.

Siqueira, da Geo, que também tem Google e Microsoft dentre as maiores convicções no portfólio dos fundos, assinala que há casos de empresas que já têm conseguido agregar a inteligência artificial para suas operações, como a própria Microsoft e a Meta.

A primeira anunciou recentemente a cobrança de uma assinatura de US$ 30 para os clientes corporativos terem acesso à ferramenta de inteligência artificial do Microsoft 365 chamada Copiloto. O sistema promete redigir emails no Outlook e escrever documentos no Word, entre outras funcionalidades.

Já a Meta acaba de lançar uma versão comercial de seu modelo de inteligência artificial chamada Llama, oferecendo uma alternativa gratuita aos modelos vendidos pela OpenAI e pelo Google. O produto será distribuído pela Microsoft e executado no sistema operacional Windows.

"É difícil dizer qual vai ser o movimento dos mercados no curto prazo, como nos próximos 6 meses. Mas em um cenário de 3 a 5 anos, com certeza [a alta das ações] deveria continuar. No longo prazo, o futuro tem que passar por tecnologia", diz Leonardo Otero, sócio-fundador da gestora dedicada a ações globais Arbor Capital.

Microsoft, Meta, Amazon e Google compõem o portfólio dos fundos da Arbor, junto com nomes como Visa, Oracle, Booking.com e a fabricante de chips TSMC.

Com valorização de 32% no primeiro semestre, o fundo da Arbor acaba de ganhar uma versão para o público geral ?até então, tinham acesso ao produto somente os investidores classificados pela legislação de mercado como qualificados, que são aqueles com pelo menos R$ 1 milhão em investimentos. A expectativa da gestora é captar cerca de R$ 250 milhões com o novo fundo, praticamente dobrando o volume de recursos sob gestão.


Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!