BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Em meio a uma crise econômica, os argentinos pagarão mais caro no dólar para poupar e importar a partir desta segunda (24), segundo um pacote de medidas anunciado pelo governo e alinhado com o FMI (Fundo Monetário Internacional). O objetivo é conter a fuga da moeda estrangeira e aumentar a arrecadação do país para conseguir quitar a dívida e evitar uma desvalorização geral do peso.
Sem credibilidade para conseguir crédito internacional, a nação vizinha fez um empréstimo de US$ 57 bilhões com o Fundo em 2018, o maior da história, durante a gestão de Mauricio Macri. Para esquivar-se da inadimplência, seu sucessor Alberto Fernández reescalonou a dívida e renegociou o valor para US$ 44 bilhões em 2022, prevendo dez revisões trimestrais do acordo.
A quinta delas está ocorrendo agora, por isso uma equipe do governo está em Washington desde o último dia 16. De um lado, o país quer que o fundo libere as parcelas do empréstimo e estenda prazos de pagamento; de outro, o FMI pressiona o país a equilibrar as contas. A Argentina precisa bater diversas metas de redução de gastos, déficit fiscal e inflação, mas até agora não conseguiu cumprir muitas delas.
Neste domingo (23), ambas as partes divulgaram nas redes sociais que finalmente alcançaram um princípio de acordo. "Foram acordados os objetivos e parâmetros centrais que servirão de base para um 'Staff Level Agreement' [acordo em nível de staff] que deverá ser finalizado nos próximos dias e depois avançar para a revisão do programa", anunciaram.
Horas depois, nesta segunda, o governo formalizou o pacote de mudanças que fará para mostrar boa vontade ao Fundo e também acalmar as pressões cambiais -o dólar paralelo "blue", que rege o dia a dia dos argentinos, sofreu um salto de 495 para 528 pesos (7%) nas últimas duas semanas. A intenção é evitar medidas mais drásticas, como uma desvalorização generalizada, devido à escassez da moeda estrangeira no país.
Em vez disso, o ministro da Economia, Sergio Massa, que concorrerá à Presidência em outubro pela coalizão peronista, decidiu desvalorizar o peso em apenas alguns setores. Isso é possível porque na Argentina há cerca de dez cotações diferentes controladas pelo governo -também é por isso que o mercado paralelo, nas casas de câmbio clandestinas, cresceu nos últimos anos.
Agora, o dólar comprado oficialmente pelos argentinos nos bancos para poupar, chamado de "dólar poupança" (ou "ahorro", em espanhol), ficou mais caro e se igualou ao "dólar tarjeta" (pago por eles em compras internacionais no cartão de crédito). A alta foi de cerca de 15%, passando de 426 pesos para 490, de acordo com os valores da última sexta (21).
A mudança afeta cerca de 900 mil pessoas, o equivalente a 2% da população, que costumam comprar mensalmente esse dólar. Não são todos que têm acesso a ele porque, à medida que as reservas foram secando, o Banco Central do país foi impondo mais restrições. Por exemplo: só é permitido adquirir até US$ 200 por mês, e quem recebe subsídios do governo não pode comprá-lo.
Também ficou mais caro importar, já que o governo aumentou o imposto embutido no "dólar para importação de bens" e no "dólar para importação de serviços". A taxa será de 7,5% no caso dos bens, excetuando medicamentos e produtos da cesta básica, e de 25% nos serviços, também com exceções nas áreas de saúde e educação. Segundo o governo, não serão afetadas importações que geram exportações, como é o caso do feijão de soja e do setor automotivo.
Outra cotação que encareceu foi a do "dólar agro", dessa vez para estimular as exportações e a entrada de divisas no país. Com medo da desvalorização do peso, muitos produtores argentinos costumam guardar toneladas de grãos em "chorizos", bolsas gigantes de plástico em formato de linguiça, em vez de vendê-los.
De tempos em tempos, então, o governo tem ampliado o valor desses produtos para estimular que eles se desfaçam dos estoques. Se até hoje os agricultores recebiam 300 pesos a cada equivalente em dólar vendido, agora receberão 340 até o fim de agosto. Mas, desta vez, o aumento não vale para a soja, principal exportação do país cuja última safra foi afetada por uma seca histórica.
Também continua não compensando o alto preço das importações, segundo Juan Pedro Malacalza, 31, produtor da cidade de Zárate, a 90 km de Buenos Aires. "Você vende seu estoque de cereais a baixo preço e tem que comprar insumos para semear novamente a preços altos. Duvido que alguém vá vender pensando que o preço vai desvalorizar em pouco tempo", afirma.
O ministro Sergio Massa se defendeu das críticas do campo em uma exposição agro na capital argentina nesta segunda. "Existem medidas transitórias que podem ser mais ou menos agradáveis, ou mais ou menos questionáveis, mas que têm a ver com a realidade do momento. E não se pode analisá-las sem levar em conta a conjuntura", discursou.
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