BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A liberação de crédito com recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para empresas do setor agroindustrial cresceu 350% em junho, segundo dados divulgados pelo Banco Central nesta quinta-feira (27).
No mês passado, foram concedidos R$ 747 milhões em novos financiamentos, ante R$ 166 milhões em maio. Na modalidade, as operações foram contratadas diretamente com o BNDES ou realizadas por outras instituições financeiras por meio de repasses.
O aumento coincide com a reabertura da contratação de crédito no âmbito do Plano Safra 2022/2023 em junho. A retomada naquele mês foi anunciada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante a abertura da Bahia Farm Show, feira de agronegócios realizada no município baiano Luís Eduardo Magalhães.
No mês passado, um total de R$ 3,6 bilhões voltou a estar disponível para os dez programas de crédito agrícola do governo federal com que o principal banco de fomento do país opera, como Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), PCA (Programa para Construção e Ampliação de Armazéns) e Moderfrota (Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras).
Segundo o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha, a alta de concessões no segmento foi puxada sobretudo porque uma grande empresa teve recursos liberados pelo BNDES para financiamento de seu projeto. O nome da companhia não foi divulgado.
"Como é uma modalidade de menor magnitude, quando há contratação de uma grande empresa, as variações percentuais são sempre muito grandes", disse.
"Isso aconteceu também de novembro para dezembro [de 2022], passando de R$ 303 milhões para R$ 878 milhões, de julho para agosto de 2022, passando de R$ 173 milhões para R$ 658 milhões. Isso [contratação de operação com uma grande empresa] não ocorre todo mês, mas acontece com alguma frequência", acrescentou.
Procurado, o BNDES disse que os dados consolidados do primeiro semestre deste ano ainda não foram divulgados e prevê que as informações sejam disponibilizadas em meados de agosto. Até agora, apenas as operações contratadas até maio foram publicadas no site da instituição.
O saldo das operações de crédito com recursos do banco para financiamento à agroindústria (pessoas jurídicas) chegou a R$ 14,4 bilhões em junho. Um mês antes, o montante era de R$ 13,8 bilhões -o que representa uma alta de 4,3% no período.
CASO AMERICANAS
Os dados divulgados pelo BC também mostraram que o caso Americanas ainda vem gerando impacto sobre o sistema financeiro nacional.
Segundo Rocha, esse efeito aparece de forma mais evidente no dado de inadimplência . "Se olharmos 12 meses atrás, a taxa de inadimplência de desconto de duplicatas e recebíveis era de 0,3% e passou para 2,9% em junho deste ano, um aumento de 2,6 pontos percentuais de um período para outro. O valor mês a mês, desde abril, vem tendo saltos maiores, na medida em que as operações de crédito que não são pagas completam o prazo de 90 dias e vão sendo caracterizadas como inadimplência", disse.
Outro exemplo é o saldo da linha de desconto de duplicatas e recebíveis -operação comumente chamada de risco-sacado no mercado-, que teve um desempenho aquém do padrão histórico.
"O [saldo da modalidade] desconto de duplicatas cresceu 9,2% no mês, mas é bom lembrar que essa modalidade tem um padrão sazonal bem definido a cada final de trimestre, então, em junho era de se esperar um crescimento sazonal dessa modalidade, que de fato ocorreu", disse o técnico da autoridade monetária.
"No entanto, esse valor de junho de 2023 (R$ 161,8 bilhões) é menor do que o saldo do mesmo mês de 2022, que era de R$ 175,5 bilhões. Uma queda em 12 meses de 7,8%", acrescentou. "Temos que esperar mais alguns meses para ver se esse evento vai sendo superado."
Ele ressaltou também que o segmento demonstrava uma tendência de crescimento, com pico em dezembro de 2022 (R$ 210,5 bilhões), antes de começar a apresentar queda de saldo após a eclosão da crise da varejista.
A Americanas entrou em recuperação judicial no dia 19 de janeiro com dívidas da ordem de R$ 43 bilhões, mais de 16 mil credores e apenas R$ 800 milhões declarados em caixa. Isso ocorreu cerca de uma semana após a divulgação do escândalo contábil de R$ 20 bilhões. Em 11 de janeiro, Sergio Rial anunciou seu desligamento como presidente da empresa.
OUTROS DADOS
A taxa de inadimplência nas operações de crédito livre para pessoas físicas e jurídicas se manteve estável de maio para junho, em 4,9%. No caso das pessoas físicas, a taxa ficou inalterada em 6,3%, enquanto passou de 3% para 3,1% no mesmo intervalo no caso das empresas.
Em junho, o estoque total de crédito atingiu R$ 5,4 trilhões, com aumento de 0,1% na comparação com o mês anterior.
A taxa média de juros cobrada pelos bancos no rotativo do cartão de crédito caiu 16,7 pontos percentuais em junho na comparação com o mês anterior, para 437,3% ao ano.
"Uma redução de 16,7 pontos percentuais é significativa, essas taxas estavam crescendo e agora se reduziram, mas isso não nos permite dizer que tenha tido uma inflexão de trajetória, que agora tenham trajetória redução, nem nada semelhante. Foi um impacto principalmente de ponderação entre taxas", disse o técnico do BC.
Essa é a linha de crédito mais cara do mercado, recomendada por especialistas apenas em casos emergenciais. O rotativo do cartão é acionado quando o cliente não paga o valor integral da fatura na data de vencimento. Desde 2017, os bancos são obrigados a transferir a dívida do rotativo do cartão de crédito para o parcelado, que possui juros mais baixos, após um mês.
Nos recursos livres, a taxa média anual de juros variou de 45,4% em maio para 44,6% em junho -recuo de 0,8 ponto percentual no mês. Para pessoas físicas, a taxa baixou de 59,9% para 59,1% ao ano, enquanto caiu de 23,8% para 23,1% ao ano para pessoas jurídicas.
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