SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa brasileira abriu em forte alta nesta quinta-feira (3) e chegou a ultrapassar os 122 mil pontos, após o Copom (Comitê de Política Monetária) ter realizado um corte de 0,50 ponto percentual na Selic (taxa básica de juros) e sinalizado que novas redução da mesma magnitude devem ser feitas em reuniões futuras.

O dólar também disparava e encostou nos R$ 4,90 na máxima do dia, afetado pela expectativa de uma redução mais rápida do diferencial de juros entre o Brasil e grandes economias. A moeda americana também é apoiada pela aversão ao risco no exterior.

Às 12h40, o Ibovespa subia 0,51%, aos 121.485 pontos, enquanto o dólar avançava 1,63%, cotado a R$ 4,883.

O Copom anunciou na quarta (2) um corte de 0,50 ponto percentual, num placar de 5 a 4 que incluiu os votos de diretores indicados por Lula ?Gabriel Galípolo (Política Monetária) e Ailton Aquino (Fiscalização)? e do presidente do BC, Roberto Campos Neto.

Em seu comunicado, o comitê destacou que a melhora do quadro inflacionário e a queda das expectativas de inflação para prazos mais longos deram confiança à decisão de iniciar um ciclo gradual de afrouxamento dos juros.

O colegiado do BC também antecipou que prevê um novo corte de 0,5 ponto percentual no próximo encontro, nos dias 19 e 20 de setembro, e de mesma magnitude nas reuniões seguintes.

"Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário", disse.

A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, destaca que o colegiado deixou claro que as próximas reduções serão da mesma magnitude e retirou fatores de risco citados em comunicados anteriores, sinalizando uma melhora nos cenários projetados pelo BC.

"O Copom retirou do comunicado a incerteza residual do arcabouço fiscal e o risco de desancoragem maior ou duradoura das expectativas de inflação mais longas, passando a usar o termo 'reancoragem parcial'. Isso significa que o processo de convergência da inflação avançou significativamente", diz a economista.

Ela aponta, ainda, que o comitê citou como risco a resiliência da inflação de serviços, mas que a alta de preços do setor já está mostrando desaceleração. A inflação de serviços do IPCA-15 de julho, por exemplo, veio melhor que o esperado pelo mercado, após ter surpreendido negativamente no resultado anterior.

Como riscos baixistas, o Copom cita uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global, que podem se mostrar mais fortes do que o esperado.

A economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, diz que o corte de 0,50 ponto percentual na Selic veio em linha com a expectativa do banco e tem fundamento num cenário de queda mais acelerada da inflação.

"O mercado pode ajustar no curto prazo, já que as apostas estavam divididas para esse corte, mas a indicação do ritmo de 0,50 ponto para as próximas reuniões está em linha com a expectativa e não deve impactar de maneira significativa a curva de juros", diz Vitória.

A economista diz que o tamanho total do ciclo de cortes ainda está indefinido, mas que o banco mantém a projeção de 9% para a Selic em 2024, considerando novas quedas de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões do comitê.

Já Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, diz que os indicadores de expectativa de inflação futura já estão dentro dos limites toleráveis para o cumprimento da meta de inflação ?de 3,25% ao ano para 2023, com intervalos de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

"Não havia outra alternativa além de reduzir em 0,50 ponto percentual", afirma Agostini, afirmando que a Austin Rating projeta quedas da mesma magnitude até meados de 2024.

O início da redução de juros deve apoiar empresas da Bolsa brasileira, e as projeções sobre a Selic chegaram a impulsionar o desempenho do Ibovespa em sessões recentes.

Nesta quinta, o Ibovespa tem alta apoiado principalmente por ações da Vale e da Petrobras, que subiam 1,31% e 1,11%, respectivamente. Ganhos de papéis do Bradesco (0,35%), que estavam entre os mais negociados da sessão, também davam fôlego ao índice.

Na ponta negativa, uma forte queda de 4,08% da Eletrobras limitava os ganhos do índice, após a coluna Painel S.A., da Folha, ter noticiado que a usina nuclear de Angra 3 não foi incluída no PAC (Projeto de Aceleração do Crescimento), programa que o governo Lula pretende lançar em breve.

Perdas de Ambev (1,46%), que reportou queda de 15% no lucro líquido do segundo semestre, também pressionavam o Ibovespa.

No câmbio, o dólar tinha forte alta em meio à expectativa de queda mais rápida dos juros no Brasil, o que tornaria o diferencial de juros do real menos atraente.

O nível alto das taxas torna o real interessante para uso em estratégias de "carry trade", que consistem na tomada de empréstimo em país de juro baixo e aplicação desses recursos em mercado mais rentável. Quanto mais a Selic cair, mais o Brasil perderá vantagem no "carry trade".

Além disso, a moeda americana também é apoiada pelo ambiente de aversão ao risco no exterior, após a divulgação de dados fracos sobre as economias chinesa e europeia.

Apesar da forte alta do dólar nesta quinta, economistas apontam que ainda há espaço para a moeda cair em relação ao real nos próximos meses, pois uma eventual saída de recursos da renda fixa brasileira pode ser compensada pelo otimismo na renda variável, que é beneficiada pela queda dos juros.


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