SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Bancos privados adotaram cautela na redução das taxas de juros oferecidas a pessoas físicas e empresas. O movimento ocorre após a decisão do Copom, que baixou a Selic para 13,25% ao ano -o Banco Central vinha mantendo a taxa fixada em 13,75% ao ano desde agosto de 2022.

A Folha de S.Paulo consultou 13 instituições financeiras, entre bancos privados, digitais e cooperativas de crédito sobre o impacto da queda da Selic nos juros bancários. A maioria avalia de forma cautelosa se fará cortes e de quanto será a redução.

Três bancos informaram reduções em parte das linhas de crédito. Quatro instituições privadas não alteraram as taxas e ainda avaliam se haverá diminuição e cinco bancos não se manifestaram.

Os bancos públicos Caixa e Banco do Brasil anunciaram cortes nas taxas do consignado do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) no mesmo dia da queda da Selic. A Caixa disse que não alterou outras linhas de crédito além do empréstimo consignado para aposentados e pensionistas. Já o BB afirmou que outros produtos, direcionados a pessoas jurídicas, também tiveram redução nos juros.

O Itaú informou que irá repassar a redução dos juros da Selic para sua linha de crédito pessoal. A mudança será válida para a taxa máxima no caso de pessoas físicas que contratarem o serviço a partir desta sexta-feira (4). O banco não detalhou os valores que irão mudar de acordo com o perfil e relacionamento do cliente.

O C6 Bank anunciou que reduziu as suas taxas no parcelamento da fatura do cartão de crédito. A taxa mínima caiu de 5,99% para 3,00% ao mês, condição que já está em vigor.

Até o fim de agosto, o C6 prevê nova redução de juros nessa linha de crédito. A taxa deverá ficar em patamar a partir de 1,99% ao mês. O banco informou que estenderá o prazo para o pagamento da fatura para até 72 meses.

O Banco Daycoval afirmou em nota que fará a redução automática das taxas de juros praticadas em todos os seus produtos de crédito que têm a Selic como base. É o caso das linhas de capital de giro e contas garantidas. A instituição não mencionou detalhes nos cortes nas taxas.

O Inter disse que está avaliando internamente e irá comunicar qualquer alteração em breve. O Bradesco disse que está avaliando mudanças em suas taxas. Santander e Mercantil disseram que, por ora, não houve alterações nos juros praticados. O BMG disse que não se manifestaria, já que está em período de silêncio devido à divulgação de resultados financeiros.

O PagBank preferiu não se manifestar. Nubank, Pan e Banrisul não responderam até a publicação deste texto.

**BANCOS PÚBLICOS REDUZIRAM JUROS DO CONSIGNADO DO INSS**

A Caixa disse que, por enquanto, houve alteração apenas na taxa do consignado para beneficiários do INSS. Nesta quarta, o banco público anunciou que os juros cairiam de 1,74% para 1,70% ao mês, medida válida a partir desta quinta (3).

O Banco do Brasil anunciou que suas novas taxas entram em vigor na sexta (4). Nos juros do consignado do INSS, o BB reduziu de 1,81% para 1,77% ao mês, na faixa mínima, e de 1,95% ao mês para 1,89% ao mês no patamar máximo. O banco afirmou que também houve corte em empréstimos para pessoa jurídica e micro e pequenas empresas, com as condições variando conforme o perfil do cliente.

Hoje, a taxa do empréstimo com desconto direto no benefício previdenciário está em 1,97% ao mês para o empréstimo pessoal e 2,89% ao mês para o cartão de crédito e o de benefício.

Analista da Senso Investimentos, João Frota Salles diz que a inadimplência em níveis ainda elevados é um fator que acaba inibindo os bancos privados de reduzirem as taxas de juros mesmo após a queda da Selic.

Dados do BC mostram que, a cada R$ 10 emprestados a trabalhadores formais e informais no microcrédito, R$ 2 estão com pagamento em atraso há mais de 90 dias.

"A inadimplência não cai da noite para o dia, vamos ter um segundo semestre com uma inadimplência ainda elevada mesmo com a queda da taxa de juros", afirma o especialista.

Para Salles, no caso dos públicos, pesa mais o direcionamento do governo para tornar a contratação do crédito mais atrativa e, assim, estimular o crescimento da economia, ao custo de um cuidado menor com o risco de calote.

Analista de risco de instituições financeiras da Austin Rating, Luis Miguel Santacreu lembra que, desde o início do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem feito diversas críticas ao patamar elevado do juro e o impacto que o aperto monetário traz para o consumo da população.

Por isso, quando a autoridade monetária dá início ao processo de redução da Selic, nada mais natural do que os bancos públicos serem os primeiros a dar a largada no processo de queda das taxas, diz Santacreu.

O analista da Austin prevê que, conforme os públicos passem a atrair maior demanda de clientes em busca de juros mais atraentes, os privados venham na sequência com ações parecidas, passando a cobrar juros menores, até para não correr o risco de perder fatia de mercado. A decisão dos bancos sob controle do governo pode acabar estimulando a concorrência, afirma.


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