SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após iniciar a sessão em alta influenciada por dados de inflação no Brasil, a Bolsa de Valores inverteu a tendência e fechou em queda nesta sexta-feira (11), registrando seu nono pregão seguido de perdas pressionada por um ambiente externo de maior aversão ao risco.

O Ibovespa teve baixa de 0,24%, aos 118.065 pontos, com ações com peso importante no índice em queda ?os papéis da Petrobras recuaram 0,39%, enquanto os da Vale cederam 0,80%. No acumulado da semana, o índice registra queda de 1,2%.

A última vez em que o Ibovespa recuou por nove sessões consecutivas foi em fevereiro de 1995. Mais do que isso, apenas entre o final de janeiro e o começo de fevereiro de 1984, quando fechou em baixa por 11 pregões seguidos, segundo dados da Refinitiv.

Já o dólar encerrou o dia cotado a R$ 4,906, em alta de 0,48%. Na semana, a moeda americana acumula valorização de 0,64%.

Economista da Guide Investimentos, Rafael Pacheco afirma que o desempenho é reflexo de um cenário externo mais negativo, após dados de inflação nos Estados Unidos acima do esperado. O índice de preços ao produtor nos EUA subiu 0,3% em julho, enquanto economistas esperavam uma alta de 0,2%.

A alta acima do previsto traz de volta o receio dos investidores de que o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) opte por uma política monetária mais restritiva, mantendo os juros em um patamar alto por mais tempo, afirma Pacheco.

Nas Bolsas americanas, o índice que reúne as empresas de tecnologia Nasdaq, que são as que mais sofrem com os juros altos, fechou em baixa de 0,68%. O S&P 500 teve leve queda 0,11%, enquanto o Dow Jones registrou ganhos de 0,30%.

Pela manhã, a Bolsa chegou a operar em alta na esteira da divulgação do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

Embora tenha vindo acima da expectativa dos analistas, a leitura do IPCA de hoje, mais uma vez, chamou atenção para o bom desempenho da inflação de serviços, diz Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Rena ?a inflação de serviços desacelerou de 0,62% em junho para 0,25% em julho. Já no acumulado de 12 meses, a inflação de serviços recuou de 6,2% para 5,6% no intervalo.

"A avaliação de que a abertura qualitativa em serviços foi melhor que o esperado confirma a nossa expectativa de que a desinflação dos núcleos e serviços continua, e deve encerrar o ano em cerca de 5,2% com intensificação a partir de agosto", afirma Andréa.

O economista André Perfeito acrescenta que, apesar da alta no valor cheio da inflação, que veio em 0,12% em julho, após deflação de 0,08% em junho e projeções que indicavam alta de 0,08%, a abertura se mostra mais benigna que inicialmente pensada, com arrefecimento dos núcleos e forte desaceleração dos serviços.

"Os números podem reforçar a perspectiva de parte do mercado que haveria espaço para cortes maiores na taxa básica, mas não achamos isso factível uma vez que a própria autoridade monetária já se posicionou sobre o assunto dizendo que não haveria espaço para isso", diz Perfeito.

O comportamento mais benigno da inflação abriu espaço para a queda nos contratos de juros futuros, que embutem as expectativas dos agentes financeiros para os rumos da política monetária.

O contrato de juros futuros para janeiro de 2025 recuava de 10,38% na véspera para 10,33% nesta sexta, enquanto o título para janeiro de 2026 cedia de 9,85% para 9,81%.

Na Bolsa, empresas que divulgaram os balanços do segundo trimestre nesta quinta-feira (10) estavam entre as maiores altas do dia, com ganhos de 8,16% da educacional Yduqs, de 5,64% da Sabesp e de 1,09% da varejista Via.

Embora tenha reportado uma queda de receita e prejuízo de R$ 492 milhões de abril a junho, a Via apresentou um plano de reestruturação que agradou ao mercado. A companhia anunciou uma série de medidas que irá adotar para reestruturar a companhia, com foco em recuperar a rentabilidade da operação e voltar a gerar caixa.

"A Via reportou um resultado fraco, com números abaixo das estimativas do consenso. Todavia, o anúncio do plano de reestruturação da companhia, com foco em retomada da rentabilidade e da geração de caixa pode ser bem recebido pelo mercado", apontam os analistas da Guide.

Já a Yduqs reportou números que foram bem recebidos pelo mercado, com aumento na base de alunos e de receita.

"O resultado novamente é bastante forte, em parte justificado pela boa captação do primeiro trimestre, mas também conseguimos observar nesse trimestre a melhor qualidade da safra, levando a menores evasões no EAD, além de uma elasticidade positiva da demanda e maior racionalidade da competição", analisa o time da Ativa Investimentos.

A Sabesp, por sua vez, informou na véspera que o lucro líquido saltou 76% no segundo trimestre, para R$ 743 milhões. Analista da XP, Maíra Maldonado diz que o reajuste tarifário, ocorrido em maio de 2023, o aumento do volume faturado e a redução das despesas financeiras foram os responsáveis por esse desempenho positivo. "No entanto, esperamos que o principal gatilho para o preço das ações seja o desenrolar do processo de privatização", afirma a especialista.

Analista da Ouro Preto Investimentos, Sidney Lima afirma que o anúncio do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) não teve peso para nortear o desempenho dos mercados nesta sexta.

"O mercado está olhando o programa de forma inconclusiva, no sentido de que não tem tanta clareza do quanto que será, de fato, executado, e quais serão os impactos para as empresas", diz o analista.


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