RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O reajuste dos preços da gasolina e do óleo diesel anunciado pela Petrobras nesta terça (15) deve pressionar o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em agosto e setembro, além de diminuir a chance de o indicador fechar o ano dentro da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central).
É o que sinalizam projeções divulgadas por economistas e instituições financeiras após o comunicado da estatal. A partir desta quarta (16), o preço da gasolina terá aumento de R$ 0,41 por litro (ou 16,3%) nas refinarias da Petrobras. No caso do diesel, o avanço será de R$ 0,78 (ou 25,8%).
Em relatório, o Itaú Unibanco disse que o movimento veio acima da expectativa de curto prazo, que embutia um reajuste menor na gasolina, próximo de 5%. Com a surpresa, o banco elevou de 4,9% para 5,1% sua projeção para o IPCA no acumulado de 2023.
A corretora Warren Rena também revisou seus números. Para o IPCA de agosto, a projeção da instituição saiu de alta de 0,20% para avanço de 0,30%. Para a inflação de setembro, a previsão aumentou de 0,40% para 0,68%.
A Warren Rena ainda passou a projetar IPCA acima do teto da meta em 2023. A estimativa para o acumulado do ano subiu de 4,6% para 5%.
Em 2023, o centro da meta perseguida pelo BC é de 3,25%. A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos (1,75%) ou para mais (4,75%). Ou seja, a meta será cumprida se o IPCA ficar dentro desse intervalo de 1,75% (piso) a 4,75% (teto).
O economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), diz que o reflexo do reajuste da Petrobras deve se dividir entre os meses de agosto e setembro no IPCA. Braz prevê índice próximo de 0,10% neste mês e o dobro no próximo.
No caso da gasolina, diz o pesquisador, o aumento tende a gerar um impacto total de 0,26 ponto percentual no IPCA. Esse efeito deve ser dividido em 0,13 ponto percentual em agosto e 0,13 ponto percentual em setembro, prevê. "Estamos no meio de agosto, que não vai pegar todo o impacto."
A gasolina tem o maior peso no IPCA, considerando os 377 subitens (bens e serviços) que compõem o índice divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em julho, essa medida foi de quase 4,8%.
Para fazer suas estimativas, Braz levou em consideração o peso da gasolina e o tamanho do reajuste anunciado pela Petrobras. Pelos cálculos do economista, o preço final do combustível, nas bombas dos postos, deve ter uma alta menor do que nas refinarias: em torno de 5,5% a 6%.
O diesel tem um peso inferior no cálculo do IPCA, se comparado à gasolina. Em julho, aproximou-se de 0,22%.
Braz prevê que o aumento do diesel nas refinarias deve gerar um impacto de 0,01 ponto percentual no IPCA em agosto e de 0,01 ponto percentual no de setembro.
Essas estimativas, segundo ele, levam em consideração somente os efeitos diretos dos combustíveis. No caso do diesel, há ainda os reflexos indiretos sobre o transporte de bens e serviços consumidos pelas famílias.
O combustível é, por exemplo, um dos insumos usados nos fretes de alimentos, cujos preços perderam força neste ano.
"O relevante para o reajuste do diesel é o impacto indireto, que tende a elevar sobremaneira o custo de transportes da economia e tornar o processo desinflacionário menos intenso", disse a Ativa Investimentos, em relatório assinado pelo economista Étore Sanchez.
"Vale ressaltar que um reajuste dessa magnitude eleva o risco de eventuais manifestações de caminhoneiros", acrescentou.
A projeção da Ativa para o IPCA do ano subiu de 4,8% para 5,1%. Para o índice de agosto, a estimativa aumentou de 0,08% para 0,23%. Para setembro, de 0,26% para 0,41%.
A Órama Investimentos também fez revisão no cenário. A projeção para 2023 aumentou para 5,1% ?era de 4,8% anteriormente.
A consultoria MB Associados seguiu o mesmo caminho. Elevou a perspectiva para o IPCA em 2023 de 4,7% para 4,9%.
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Colaborou Marcelo Azevedo, de São Paulo
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