SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após operar em alta na maior parte do dia, a Bolsa inverteu a tendência e passou a cair nesta quarta-feira (16), em um dia no qual a atenção dos investidores se voltou para a divulgação da ata do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA).

Investidores ficaram mais preocupados após a ata, por considerar que a autoridade monetária dos EUA ainda não se sente confortável para indicar o fim do ciclo de alta de juros na região.

Com a maior aversão a risco por parte dos agentes financeiros, o Ibovespa encerrou os negócios em queda de 0,49%, aos 115.591 pontos, marcando a 12ª queda consecutiva. Desde o início do Ibovespa, em 1968, foi a primeira vez que foram registradas tantas baixas em sequência, segundo levantamento da Economatica.

O desaquecimento da atividade econômica indicada pelo IBC-Br do Banco Central e preocupações renovadas com o setor imobiliário da China contribuíram para o pessimismo entre os investidores ao longo dos últimos dias.

O movimento da Bolsa nesta quarta acompanhou a trajetória das ações nos Estados Unidos. Na Bolsa americana, o S&P 500 recuou 0,76%, o Nasdaq cedeu 1,15% e o Dow Jones teve desvalorização de 0,52%.

No câmbio, o dólar oscilou em leve queda frente ao real durante boa parte da sessão, mas a tendência perdeu força e a moeda americana fechou o dia estável, cotada a R$ 4,9869 na venda. No mercado global, o dia foi de fortalecimento da divisa dos EUA, com alta de 0,25% do DXY, que mede o desempenho do dólar contra uma cesta de moedas de países desenvolvidos.

O nervosismo dos agentes financeiros por conta do cenário internacional também influenciou os juros futuros, que embutem a expectativa do mercado para os rumos da política monetária e fecharam o pregão em alta. O contrato para janeiro de 2025 subiu de 10,50% para 10,52%, enquanto o título para 2027 foi de 10,21% para 10,25%.

Na ata referente à última reunião do Fomc (o Copom dos EUA), quando os juros americanos subiram 0,25 ponto percentual, para o maior patamar em 22 anos, os dirigentes do BC americano ficaram divididos quanto à necessidade de mais aumentos na taxa básica de juros.

Segundo o documento, alguns participantes citaram o risco de elevações adicionais de juros para a economia dos EUA, ainda que a maioria tenha sinalizado que a prioridade segue sendo a luta contra a inflação.

"A maioria dos participantes continuou a ver riscos significativos de alta para a inflação, o que pode exigir mais aperto da política monetária", diz a ata.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa, diz que a ata surpreendeu com um tom mais "hawkish" (a favor de um aperto monetário mais agressivo).

Ele nota que, de acordo com o documento, a maioria dos membros do Fomc continua a ver riscos de alta para a inflação.

"Com o mercado de trabalho apertado, o Fed segue reticente com as pressões inflacionárias, ainda que tenha ocorrido uma descompressão ao longo dos últimos meses", afirma Sanchez.

Segundo André Cordeiro, economista-sênior do Inter, a ata indica que os próximos passos do Fed são incertos e dependerão dos dados econômicos. Antes da próxima reunião teremos a divulgação de mais um dado do mercado de trabalho nos EUA e da inflação de agosto. "Esses dados serão essenciais para a reação do Fed", diz Cordeiro.

Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital, diz que o comunicado condiz com a pausa na próxima reunião para análise dos dados correntes. "Ainda não é um ambiente no qual se sintam confortáveis para afirmar que o ciclo já terminou."

Na Bolsa brasileira, entre as maiores altas do dia, as ações da resseguradora IRB saltaram 11,8%, após a empresa anunciar na véspera lucro de R$ 20 milhões no segundo trimestre, revertendo prejuízo de R$ 373 milhões em igual período do ano passado.

Também com ganhos expressivos, os papéis da Sabesp valorizaram 5,5%, após o governo do Estado de São Paulo publicar decreto nesta quarta alterando legislação de 2021 que trata das chamadas URAEs (Unidades Regionais de Serviços de Abastecimento de Água Potável e Esgotamento Sanitário). O decreto concede mais peso às regiões metropolitanas, em um momento em que o governo estuda a privatização da Sabesp.

Analistas do Itaú BBA afirmam em relatório que as mudanças "são um marco importante para o processo de privatização da Sabesp, pois a potencial adesão da cidade de São Paulo às URAE tornaria mais fácil para o Estado negociar os termos da privatização com os municípios".

O texto anterior sobre as URAE tratava de quantidades definidas de vagas para os conselhos deliberativos das URAE, enquanto o decreto publicado nesta quarta-feira estabelece que "o representante do Estado terá participação nas deliberações assegurada mediante a atribuição de voto com peso proporcional a 50% da população residente em regiões metropolitanas, microrregiões e aglomerações urbanas, em relação à população total do Estado".

Enquanto isso, representantes da sociedade civil terão participação de 6%, e o da "cidade que integra região metropolitana, aglomeração urbana ou microrregião, de 50% da sua população, em relação à população total da URAE", segundo o decreto, que ainda faz outros ajustes na legislação anterior.

Dado o tamanho da cidade de São Paulo e a participação da população que vive em áreas metropolitanas, "se a cidade de São Paulo e o Estado concordarem com os termos da privatização (da Sabesp) acreditamos que eles terão poder suficiente para aprová-la, sem precisarem de muito apoio de outros municípios da URAE", escreveram os analistas do Itaú BBA liderados por Marcelo Sá.


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