SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Trabalhadores da Coteminas (Companhia de Tecidos Norte de Minas), em Montes Claros (MG), dizem que a empresa atrasa salários, não deposita o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e há expectativa de demissão, segundo relatos de funcionários e de quem já trabalhou na fábrica, fundada em 1967.

A dispensa deve ser parcelada em dez vezes, com as férias e a multa do FGTS acertadas apenas no último pagamento, afirmam. As demissões já teriam começado ?segundo os funcionários, quase diariamente entre 40 e 50 seriam chamados a encerrar os contratos.

A empresa, comandada por Josué Gomes da Silva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), é uma das contratadas pela gigante asiática Shein para nacionalizar a produção de varejo de moda.

A Coteminas não indicou contato para a assessoria de imprensa. A reportagem ligou para três números de telefone do escritório da companhia em São Paulo e enviou mensagens para endereços de emails informados por uma funcionária da central de atendimento, mas não obteve resposta.

As assessorias de imprensa da Fiesp, que é comandada por Josué, e do Ciesp, do qual ele é primeiro vice-presidente, disseram que não tratam de assuntos relacionados à Coteminas.

O Sindicato dos Tecelões de Montes Claros foi procurado por telefone e no WhatsApp, mas ninguém quis comentar.

O MPT (Ministério Público do Trabalho) em Minas Gerais disse que está acompanhando a situação na indústria e que abriu um procedimento, mas não poderia dar mais informações sobre o caso.

Antes de as demissões começarem, as unidades da companhia em Montes Claros somavam cerca de 3.000 empregados.

Os funcionários ouvidos pela reportagem afirmam que o FGTS deixou de ser depositado há 22 meses e que benefícios como vale-alimentação e vale-gás foram cortados. Além disso, dizem que a cesta básica não é fornecida todos os meses e há relatos de dificuldades para usar o plano de saúde.

O salário de julho, que deveria ter sido pago no quinto dia útil de agosto, não havia caído na conta, segundo relatos. Em julho, a remuneração do mês anterior só teria sido paga no dia 27.

Outra queixa de funcionários refere-se a descontos em licenças remuneradas. No início deste ano, após um período de quatro meses de lay-off (suspensão temporária de contrato), trabalhadores de vários setores foram enviados para casa com a manutenção do salário.

Na rescisão, os salários do período de lay-off, no qual ficaram parados por acordo com a empresa, teriam sido descontados, afirmam. Há até relatos de demitidos que não teriam recebido nada no acerto.

Na quarta-feira passada (9), a Câmara Municipal de Montes Claros convocou uma assembleia para discutir o assunto, mas o Sindicato dos Tecelões e a Coteminas não enviaram representantes.

Por escrito, porém, Josué Gomes disse que a atividade foi afetada pelo atual patamar de juros. Segundo o empresário, a empresa está vendendo ativos que darão suporte para a "normalidade da atividade".

Profissionais do setor de fiação afirmam que, nas últimas semanas, começaram a ser chamados de volta ao trabalho. A demanda viria do contrato com a Shein, e a produção seria de amostras para a nova parceira comercial.

A Coteminas encabeçou uma negociação que resultou no anúncio, por parte da Shein, de nacionalização de 85% de sua produção.

Josué estava à mesa quando o ministro Fernando Haddad (Fazenda) anunciou que a Shein adotaria produção nacional, ao fim de uma semana marcada pela reação negativa de consumidores quanto às negociações do governo para mudar a taxação de compras internacionais.

Com a Coteminas, a Shein começou a produzir na fábrica instalada no Rio Grande do Norte. As primeiras peças nacionais da companhia asiática foram apresentadas em um desfile em São Paulo, no início deste mês.

No fim de junho, a Coteminas anunciou a intenção de cortar cerca de 700 funcionários da unidade de Blumenau (SC). Lá, o Sintrafite (Sindicato dos Trabalhadores Têxteis de Blumenau, Gaspar e Indaial) foi informado de que o pagamento das verbas rescisórias seria feito em 15 parcelas.

Segundo Carlos Alexandre Maske, diretor-presidente do sindicato dos trabalhadores, 75 funcionários já foram dispensados. A empresa teria sinalizado que outros 225 serão demitidos até o fim de agosto, afirma.

Em Itaúna (MG), onde a produção de tecidos também ficou parada desde o início de 2023, os trabalhadores começaram a ser chamados de volta às atividades no início de julho. Lá, funciona a Tecidos Santanense, comprada em 2004 pela Coteminas, com cerca de 800 funcionários.

A advogada Sandra Regina de Paula Vitor, assessora jurídica do Sindicato dos Tecelões de Itaúna, diz que, a partir da retomada da produção, a empresa se comprometeu a acertar o pagamento de benefícios.

Colaborou Paulo Ricardo Martins


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