SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa voltou a cair e o dólar subiu nesta segunda-feira (21) em meio a um ambiente externo desfavorável, com agentes financeiros ainda frustrados com a condução da política econômica chinesa e preocupados com o futuro das taxas de juros nos Estados Unidos.

O foco das negociações no exterior foi a decisão do banco central da China de reduzir em 0,1 ponto percentual suas taxas de juros de um ano, para 3,45%, e manter inalteradas em 4,2% as taxas de cinco anos, referência de custos para o setor imobiliário. O anúncio surpreendeu negativamente o mercado, que esperava cortes mais agressivos.

No Brasil, investidores aguardam a retomada das discussões sobre o arcabouço fiscal no Congresso, que deve ocorrer nesta semana. A agenda do dia, porém, foi esvaziada, o que contribuiu para um movimento de realização de lucros, ou seja, quando investidores vendem ações que se valorizaram para efetivar os ganhos, ainda mais num cenário internacional de aversão ao risco.

Com isso, o Ibovespa caiu 0,84% e fechou aos 114.429 pontos, enquanto o dólar subiu 0,21%, terminando o dia cotado a R$ 4,978.

Em uma pesquisa da Reuters com 35 observadores do mercado, a maioria dos entrevistados esperava uma redução de 0,15 ponto percentual nas taxas de juros de um ano da China.

A manutenção da taxa para companhias imobiliárias, porém, foi a que mais impactou os investidores. Em meio a uma crise do setor, um dos pilares do crescimento econômico chinês, todos os entrevistados pela Reuters apostavam num corte para as taxas de cinco anos.

"Há muitos motivos que podem estar por trás desta decisão. Entre eles, a proteção do iuan, que recentemente sofreu novas pressões, e a estabilidade do sistema financeiro", disse Eduardo Moutinho, analista de mercado da Ebury, em comentário enviado a clientes.

A falta de ação específica para o setor imobiliário, com a manutenção da taxa de cinco anos, indica que a prioridade, na resposta à desaceleração, está no estímulo ao consumo, com mais empréstimos, e na redução do risco derivado do endividamento local.

No Brasil, o dia foi de agenda local esvaziada, o que também contribuiu para o ambiente de aversão ao risco, como aponta Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourivest.

"O mercado está em cautela. Não houve avanço significativo nas pautas do Congresso, o que traz aversão ao risco, e as incertezas sobre a China prevalecem", afirma Quartaroli.

Engrossando o sentimento negativo, o boletim Focus, do Banco Central (BC), mostrou nesta segunda que analistas passaram a ver uma alta de 4,90% do IPCA em 2023, 0,06 ponto percentual a mais do que no levantamento anterior, depois de a Petrobras ter anunciado reajuste grande de combustíveis na semana passada.

O mercado também se mostrou pessimista em relação ao dólar e subiu a previsão de R$ 4,93 para R$ 4,95 neste ano.

Nesse cenário, o Ibovespa registrou mais um dia de queda puxado pelas ações da Petrobras, que caíram 0,69%, após terem começado o dia em alta, conforme o petróleo perdeu força no exterior.

As maiores baixas sessão, no entanto, foram das "small caps", empresas menores e mais ligadas à economia doméstica. O índice que reúne companhias do setor caiu 0,83%, pressionado IRB Brasil (9,24%), Carrefour (4,13%) e Yduqs (3,83%).

Na ponta positiva, leves altas de Petz (2,07%), Magazine Luiza (1,33%) e Cemig (1,74%), que foram as maiores da sessão, atenuaram a queda do índice. A Vale, que puxou baixas do Ibovespa nos últimos pregões, terminou o dia em estabilidade.

Nos mercados futuros, os contratos de juros com vencimento em janeiro de 2025 subiram de 10,52% para 10,61%, enquanto os para 2026 iam de 10,12% para 10,26%, pressionando as empresas brasileiras. A subida das taxas acompanha os juros nos Estados Unidos, que seguem registrando alta.

Já nos EUA, os índices S&P 500 e Nasdaq subiram com a alta das ações da Nvidia antes da divulgação de seu balanço. Além disso, investidores estão aguardando a reunião de autoridades de política monetária dos principais bancos centrais do mundo em Jackson Hole para avaliar a trajetória da taxa de juros.

A expectativa sobre o simpósio, aliás, também foi um dos fatores da alta do dólar no Brasil, como aponta Quartaroli, do Ourinvest.

"O mercado está com um sentimento de cautela. Nesta semana teremos o simpósio de Jackson Hole e existe expectativa sobre o discurso do presidente de Fed [Federal Reserve, o banco central americano]. A possibilidade de falas sobre uma possível alta de juros acaba contribuindo para a alta do dólar", diz a economista.


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