SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (22) que a modalidade de compras parceladas sem juros no cartão é importante para o consumo brasileiro e não deve acabar.

"Entendemos que o parcelado sem juros é uma modalidade importante para o consumo brasileiro e não pode sofrer nenhuma ruptura", afirmou o presidente do BC durante participação em evento do Santander em São Paulo.

Os grandes bancos afirmam que uma redução nos juros cobrados no rotativo do cartão de crédito, defendida pelo governo, passaria por alguma alteração na modalidade do parcelado sem juros.

Segundo dados citados pela autoridade monetária, do total de crédito em circulação no sistema financeiro nacional, cerca de 21% se dá por meio do cartão de crédito. E da parcela de crédito movimentada pelos cartões, um terço corresponde a operações com juros, com os dois terços restantes sem juros. Portanto, aproximadamente 15% do crédito no sistema é na modalidade parcelada sem juros, afirmou Campos Neto.

Ele afirmou ainda que não adotar nenhuma medida para resolver a questão dos juros altos do rotativo do cartão de crédito pode ser pior do que trabalhar em uma solução organizada pelos agentes financeiros.

"Não fazer nada pode ser pior, pode ser que comece a ter uma ruptura na concessão de cartões de forma desorganizada. E se for feita de forma desorganizada, vai afetar o consumo", afirmou. "Não fazer nada pode ser pior do que tentar achar uma solução organizada, ainda que faseada, de médio e longo prazo", disse o presidente do BC.

Ele também afirmou ainda não ter uma solução para resolver os juros do rotativo, cuja inadimplência é de cerca de 50%. Mas pontuou que a concessão acelerada de cartões nos últimos anos, em grande medida por parte de empresas que entraram no mercado, é um ponto de atenção que precisa ser debatido para se alcançar uma solução.

CAMPOS NETO DIZ QUE BATALHA CONTRA INFLAÇÃO NÃO ESTÁ GANHA

O presidente do BC disse ainda que a inflação brasileira tende a subir até o final do ano devido a um efeito estatístico, e que é preciso perseverar no combate à alta dos preços.

Campos Neto afirmou que a inflação de serviços está começando a dar sinais de arrefecimento, mas que está longe do ideal.

"A batalha contra a inflação não está ganha. Temos que persistir e por isso adotamos a linguagem na comunicação de que os juros ainda precisam ser restritivos", disse o presidente da autoridade monetária nesta quarta.

Ele voltou a afirmar que, quanto maior o nível de crédito direcionado por parte do governo na economia, maior precisa ser o patamar das taxas de juros para controlar a inflação.

Segundo Campos Neto, reduções na taxa de juros neutra ao longo dos ciclos econômicos no país vieram acompanhadas de diminuições no percentual de crédito direcionado.

"Não tem nenhum país com crédito direcionado tão alto quanto o Brasil, de 41%, que vinha em um movimento de queda, mas subiu na ponta", afirmou Campos Neto.

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