BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ex-presidente da Lojas Americanas Sergio Rial disse, em sessão da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga a companhia, não ter percebido nenhum envolvimento dos acionistas de referência na fraude contábil da empresa.

"Não vi nenhum indício, nem antes, nem durante, nem depois", disse, ao ser questionado sobre a possibilidade pelo relator da CPI, o deputado Carlos Chiodini (MDB-SC). "Ao contrário, quando levei problema [para eles] não houve qualquer resistência", afirmou.

Rial disse que soube do problema de dívida bancária mal contabilizada em 4 de janeiro deste ano, dois dias depois de tomar posse na presidência da varejista. "A notícia é que o patrimônio líquido era de R$ 16 bilhões para uma dívida bancária de R$ 36 bilhões. Levo um soco no estômago", lembrou.

Na sequência, ele se reuniu com diretores que o alertaram sobre as inconsistências, o então presidente do conselho Eduardo Saggioro Garcia e o empresário Beto Sicupira, um dos acionistas de referência da companhia com Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles.

Nesse encontro, Rial afirmou ter questionado os diretores para entender melhor a situação e não viu qualquer insinuação de que os acionistas poderiam estar a par do que estava acontecendo.

O executivo também negou ter recebido qualquer diretiva dos acionistas de referência para acobertar o caso quando foi contratado para dirigir a Americanas. "Meu contrato era de cinco anos com remuneração por valorização das ações", afirmou.

Rial permaneceu menos de duas semanas no cargo de presidente da Lojas Americanas. No período, emitiu o primeiro fato relevante informando o mercado sobre o caso, na época tratado como inconsistências contábeis. Logo em seguida ele deixou a empresa.

O executivo tomou a decisão de sair da companhia, explicou, porque, ao ocupar a função, não recebeu tarefa de comandar uma empresa estruturalmente insolvente.

Em junho deste ano, a nova diretoria da Americanas emitiu um novo fato relevante passando a tratar o caso como fraude contábil e apontando culpa da antiga diretoria da empresa.

Desde então, a CPI tenta ouvir os antigos gestores, mas até o momento todos os convocados se apoiaram em habeas corpus concedidos pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para permanecer em silêncio.

Ex-diretora da Americanas, Flavia Carneiro, convocada para a sessão desta terça, foi beneficiada pela medida concedida pela corte. Ela deixou de respondeu a quase todas as perguntas.

Carneiro foi questionada, entre outros pontos, sobre eventual delação premiada fechada com o Ministério Público Federal (MPF). A executiva permaneceu em silêncio.

O ex-presidente da companhia Miguel Gutierrez ainda não participou de uma sessão. Ele chegou a ser convocado, mas apresentou um atestado em razão de uma crise renal, além de estar na Espanha.

Na CPI, Rial também fez sugestões de aprimoramento da legislação para evitar casos como o da Americanas. Para ele é necessário proteger denunciantes de boa-fé no Brasil.

O executivo citou como exemplo os Estados Unidos, que criaram uma legislação sobre o assunto após a crise de 2008 e hoje tem 40% das suas fraudes reveladas.

A necessidade de novas regras cresce, prosseguiu Rial, com os avanços tecnológicos. "Fraude da Americanas, se comprovada, foi analógica. Vamos enfrentar fraudes mais estruturadas do que nunca. A inteligência artificial também vai facilitar ser usada para o mal."

Nesta quarta-feira (23), os integrantes da CPI deverão decidir os próximos passos da comissão. A ideia é tentar prorrogar o seu funcionamento, cujo prazo se encerra em meados de setembro.

Caso os integrantes aprovem a medida, ela deverá ser autorizada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Depois de ouvir os ex-diretores da CPI, os membros da comissão querem convidar representantes de bancos para falar sobre o caso.


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