SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A uma plateia de empresários e representantes do setor privado, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, defendeu nesta sexta-feira (25) a criação de um outro Desenrola para transformar dívidas de empresas em investimentos no Brasil.

"Eu quero propor um outro Desenrola investimento no Brasil. Vamos pegar a dívida ativa, que são trilhões de reais. O Estado não consegue cobrar, o Carf [Conselho Administrativo de Recursos Fiscais] vai ajudar um pouquinho e tal, mas não consegue cobrar", disse.

A medida, segundo ele, desafogaria o setor privado e permitiria investimentos.

"Se as empresas não pagam, isso fica no passivo e elas não conseguem ter financiamento porque tem um passivo fiscal gigantesco. E vamos transformar um pedaço dessa dívida em investimento, em PAC, em política industrial e alavancar para valer o desenvolvimento do país. Nós precisamos de um Desenrola Empresa. Quem sabe a dívida ativa poderia vir nessa direção", disse Mercadante.

No mesmo evento, promovido pelo grupo Esfera, em Guarujá, no litoral paulista, Dario Durigan, secretário-executivo da Fazenda, disse que o Desenrola é um programa "complexo do ponto de vista dos bastidores" porque liga grandes credores, escritórios de crédito e bancos.

"O sucesso do Desenrola tem sido tão grande que tem se gerado perspectivas. Tem se falado em Desenrola no campo, na indústria e agora a gente ouve falar numa espécie de programa para que a gente caminhe numa resolução das dívidas e controvérsias que existem entre o Estado, a União e as empresas. Acho importante a gente pensar nisso", disse Durigan.

No palco em que defendeu o Desenrola, Mercadante estava acompanhado do banqueiro André Esteves, do BTG, para quem sugeriu parcerias com o setor privado e instou o mercado a retomar as aberturas de capital paralisadas na Bolsa.

"Faço uma provocação para o André aqui. Vamos retomar o IPO, André. Temos muitos projetos chegando de excelente qualidade. Por que dois anos sem emitir? Está na hora de a gente acreditar", disse.

Mercadante disse crer que a aversão ao risco provocada pela crise da varejista Americanas está se dissipando e vê potencial no mercado de capitais e no crescimento do Brasil como líder no enfrentamento da crise climática.

"O planeta está fervendo. Só não vê quem não quer. A crise climática é dramática e para enfrentá-la, o planeta precisa de estados e bancos públicos para fazer parceria com o setor privado, atrair liquidez para projetos de transformação ecológica, descarbonização, hidrogênio verde, mobilidade elétrica", disse Mercadante.

Para Esteves, Mercadante "disse tudo" quando se referiu ao desenvolvimento do mercado de capitais junto com os agentes privados.

"A inflação no Brasil neste ano vai ser mais baixa do que a da Europa. As contas externas estão equilibradas. Nossa situação fiscal, com arcabouço, e essa visão responsável que o Dario explicou aqui está fazendo com que o Brasil seja um dos cinco países com melhor resultado fiscal do G20. Vamos olhar pelo lado bom. O copo está bem mais cheio do que está parecendo", disse o banqueiro.


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