SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa brasileira caiu e voltou ao patamar dos 117 mil pontos nesta quarta-feira (30) pressionada pelo setor bancário e em meio a discussões sobre o projeto de Orçamento de 2024, que deve ser apresentado pelo governo na quinta-feira (31).
Já o dólar registrou alta ante o real após a divulgação de dados que mostraram desaceleração da economia dos Estados Unidos. A formação da taxa Ptax, que ocorre no último dia útil do ano, também pressionou a moeda americana no Brasil.
Nesse cenário, o Ibovespa caiu 0,73%, aos 117.535 pontos, enquanto o dólar subiu 0,33%, terminando o dia cotado a R$ 4,869.
Dados divulgados pela manhã mostraram que o crescimento econômico dos Estados Unidos no segundo trimestre foi revisado para baixo, embora a um ritmo ainda sólido, de 2,1%.
Os números sinalizaram desaquecimento da economia americana e endossaram as apostas de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) não deve realizar uma nova alta de juros neste ano, levando otimismo ao mercados globais.
Com isso, o dólar teve baixa significativa no exterior, com o índice que mede o desempenho da moeda ante outras divisas fortes registrando queda de 0,35%. Além disso, os principais índices acionários americanos tiveram alta: o S&P 500, o Dow Jones e o Nasdaq subiram 0,38%, 0,11% e 0,54%, respectivamente.
Mesmo assim, o dólar fechou em alta ante o real, sob pressão do fechamento da taxa Ptax, que ocorre sempre no último dia útil do mês.
A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central com base nas cotações do mercado à vista e que serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas (no sentido de alta das cotações) ou vendidas em dólar (no sentido de baixa).
"A volatilidade que a gente vê no Brasil é um pouco em função de interesses técnicos pela definição da Ptax. Será exacerbado amanhã [quinta-feira], mas hoje já houve uma disputa", comentou Fernando Bergallo, diretor da assessoria de câmbio FB Capital. "Se não fosse a Ptax, hoje era dólar para baixo."
Além disso, os negócios no Brasil também tiveram como pano de fundo as discussões sobre o Orçamento de 2024, que deve ser apresentado pelo governo na quinta (31).
O principal gargalo sobre o plano orçamentário é a meta de déficit primário do ano que vem. O ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou na terça (29) que o Orçamento será enviado com meta de déficit zero, como proposto originalmente pelo arcabouço fiscal, e a ministra Simone Tebet (Planejamento) confirmou o número nesta quarta.
A meta, porém, é vista com ceticismo pelo mercado e até por membros do governo, já que não há certeza sobre as fontes de arrecadação para atingir esse objetivo. Como antecipou a Folha, a proposta de Orçamento de 2024 terá previsão de R$ 168 bilhões em receitas extras, mas a partir de medidas que ainda precisam de aprovação no Congresso Nacional.
"Ainda há um descasamento do fechamento de receita com despesa, a gente ainda não sabe de onde vai vir a receita para cobrir o novo arcabouço fiscal. Isso tem causado estresse na Bolsa", diz Gabriel Meira, sócio da Valor Investimentos.
Além disso, o Tesouro Nacional informou nesta quarta que o governo central registrou déficit primário de R$ 35,933 bilhões em julho, ante um saldo positivo de R$ 18,949 bilhões no mesmo mês do ano passado, com as contas impactadas por uma forte alta dos gastos públicos.
O resultado foi o segundo pior para o mês na série histórica corrigida pela inflação do Tesouro, iniciada em 1997, melhor apenas que o rombo de R$ 109,6 bilhões registrado em julho de 2020, quando o gasto do governo estava fortemente impactado pelo enfrentamento da pandemia de Covid-19.
Assim, mesmo com otimismo no exterior, o Ibovespa registrou queda, numa sessão de correção após forte alta registrada na terça (29). O índice foi pressionado por recuos de Itaú (2,02%) e Bradesco (2,38%), que ficaram entre as mais negociadas da sessão, e perdas de Via (7,69%%), Alpargatas (5,49%) e IRB Brasil (5,28%), que lideraram os tombos do pregão.
Na ponta positiva, a Petrobras teve alta de 0,67%, enquanto a Vale permaneceu estável. A líder de ganhos, no entanto, foi a CVC, registrando alta de 16,23% em reação ao pedido de recuperação judicial da 123milhas.
Analistas enxergam a crise na companhia como oportunidade de crescimento de vendas para a CVC no curto prazo, já que ambas disputam concorrência como plataformas de turismo.
"Com o pedido de recuperação judicial da 123milhas, o mercado entende que parte da participação de mercado da companhia irá para a CVC. Com o mercado receoso em relação às empresas que negociam milhas e passagens aéreas, a CVC, que é uma empresa mais tradicional de venda de pacotes de viagens, pode ser beneficiada", afirma Leandro Petrokas, diretor de pesquisa e sócio da Quantzed
Nos mercados futuros, os juros mais longos registraram alta, após oscilarem em baixa durante a maior parte da sessão, com investidores reagindo negativamente à divulgação de detalhes do Orçamento para 2024 e ao déficit primário pior que o esperado em julho.
Os contratos com vencimento em janeiro de 2027 saíram de 10,11% para 10,21%, enquanto os para 2029 foram de 10,57% para 10,69%.
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