SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa brasileira registrou forte queda nesta quinta-feira (21), puxada pelo exterior após sinalizações de novos aumentos de juros nos EUA e com frustração do mercado sobre os próximos passos da política monetária no Brasil. O Ibovespa encerrou o dia em baixa de 2,14%, aos 116.145 pontos.

A perspectiva de aperto nas taxas americanas também deu força ao dólar, que teve alta de 1,12% e fechou a sessão cotado a R$ 4,934.

Na quarta (20), o Copom (Comitê de Política Monetária) realizou um corte de 0,50 ponto percentual na Selic (taxa básica de juros), numa decisão sem surpresas. Em seu comunicado, no entanto, o comitê adotou um tom mais duro e sinalizou que os próximos cortes devem ser da mesma magnitude, frustrando expectativas do mercado sobre uma possível aceleração do ritmo.

No câmbio, o desempenho do real foi pressionado pois a diminuição do diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos tende a reduzir a atratividade da renda fixa local e, consequentemente, a entrada de recursos estrangeiros no país.

Assim, a perspectiva de juros americanos maiores e Selic menor pesa contra a moeda brasileira.

Apesar de as duas decisões sobre juros terem vindo alinhadas com as expectativas, as indicações dos dois bancos centrais sobre os próximos passos da política monetária trouxeram pessimismo ao mercado.

Nos EUA, o Fed manteve os juros na faixa entre 5,25% e 5,50%, mas divulgou um compilado de projeções que mostra que a maioria das autoridades do Fomc (comitê de política monetária americana) prevê uma nova alta de 0,25 ponto percentual ainda este ano.

Mais que isso, o próprio presidente do Fed, Jerome Powell, em entrevista após a divulgação da decisão, afirmou que a manutenção de juros não significa que o aperto monetário do país acabou.

Ele disse, ainda, que as autoridades da instituição veem um novo aumento de juros como "mais provável que improvável" e sugeriu que a economia americana ainda pode aguentar mais uma escalada nas taxas do banco.

"O discurso foi hawkish [pró-aperto monetário], deixando em aberto mais uma possível alta de juros. Caso a economia ainda permaneça aquecida, o Fed deve dar uma 'última cartada' para tentar baixar a inflação, ficando em terreno ainda mais restritivo na economia americana", afirma Andre Fernandes, chefe de renda variável da A7 Capital.

Após a divulgação da decisão do Fed, as Bolsas americanas, que registravam alta pouco antes do anúncio, reverteram os ganhos e terminaram o dia caindo.

O movimento de baixa permanece, com os principais índices acionários dos EUA registrando forte queda nesta quinta: o S&P 500, o Dow Jones e o Nasdaq caíram 1,64%, 1,08% e 1,82%, respectivamente. A baixa dos índices americanos ocorre na esteira de um salto nos rendimentos dos títulos do Tesouro americano.

Já no Brasil, o Copom também seguiu as expectativas de investidores em decisão unânime. Em seu comunicado, porém, o comitê voltou a mencionar a questão fiscal e sinalizou que os próximos cortes devem seguir na mesma magnitude, reduzindo expectativas sobre uma possível aceleração no ritmo de queda dos juros no país.

"Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário", disse o Copom.

Para Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter, o comunicado do comitê indica que a política monetária deve continuar restritiva por um período prolongado.

"A magnitude do corte total vai depender da evolução da inflação e das expectativas de inflação. O cenário externo, que aponta para taxas de juros maiores ao longo de 2024, também pode limitar o tamanho do corte total na taxa Selic nesse ciclo", diz a economista.

Já Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, destaca que o comunicado do Copom foi duro e praticamente descarta apostas de um corte mais profundo da Selic neste ano.

"O mercado vinha trabalhando com a possibilidade de queda de 0,75 ponto na última reunião, o que não aconteceu. O comunicado ressalta que ainda há incerteza com o mercado externo e que é necessário ter moderação na flexibilização monetária, indicando que o comitê vai ser cauteloso. O mercado acreditava numa possível aceleração, e o Banco Central praticamente elimina essa possibilidade", diz Jorge.

Após a divulgação do Copom, os juros futuros, que embutem as perspectivas da Selic, registravam alta significativa, especialmente nos prazos mais longos. Os contratos com vencimento em janeiro de 2025 iam de 10,48% para 10,56%, enquanto os para 2027 saíam de 10,39% para 10,52%.

"A redução de juros aqui já era esperada pelo mercado. Com isso, o discurso hawkish do Fed de ontem acabou ganhando protagonismo nas cotações dos juros futuros no Brasil", diz Elcio Cardozo, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital.

Nesse cenário, a Bolsa brasileira operou o dia inteiro em forte queda puxada principalmente pela Vale, que caiu 2,53%, também pressionada pelo recuo do minério de ferro no exterior.

O movimento de aversão ao risco do pregão desta quinta também afetava Petrobras e PetroRio, que recuaram 1,60% e 4,35%, respectivamente, mesmo em dia de alta do petróleo. Ambas ficaram entre as mais negociadas do pregão.

As maiores quedas da sessão, no entanto, foram das "small caps", empresas menores e ligadas à economia doméstica -e, portanto, mais sensíveis ao movimento de juros. Magazine Luiza, Grupo Soma e Arezzo tombaram 6,74%, 6,70% e 5,71%, respectivamente, e o índice que reúne essas companhias na B3 caiu 2,59%.

Entre as poucas altas do dia, a Suzano subiu 2,04% e foi a líder de ganhos da sessão após anunciar um reajuste de celulose de eucalipto. A Klabim, outra empresa do setor, também teve um dia positivo e subiu 0,50%.

"A valorização do dólar beneficiou as ações do setor de papel e celulose, visto que a alta da moeda norte-americana costuma beneficiar as companhias exportadoras", afirma Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

Além disso, a Sabesp teve alta de 2,03% com avanços de seu processo de privatização, e a Natura subiu 1,95% após a entrada de duas novas empresas nas negociações de venda da The Body Shop.


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