SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa brasileira registrou nova queda nesta segunda-feira (30) pressionada pelas ações da Petrobras e pelos juros futuros, que continuam subindo após declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a meta de resultado primário de 2024.
Nesta segunda, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) evitou cravar a manutenção da meta de déficit zero no ano que vem, o que aumentou dúvidas sobre o compromisso do governo com o objetivo e pressionou ainda mais as curvas futuras. Ele afirmou, porém, que pode antecipar medidas de arrecadação de receitas para perseguir o ajuste fiscal.
"O que levei para o presidente foram os cenários possíveis, se tiver de antecipar medidas para 2024, eu encaminho, o meu papel é buscar o equilíbrio fiscal, farei isso enquanto estiver no cargo, não é por pressão do mercado financeiro, acredito que Brasil depois de dez anos precisa voltar a olhar para contas públicas", afirmou.
Com isso, as curvas de juros futuros registravam forte alta: os contratos com vencimento em janeiro de 2026 iam de 10,79% para 11,02%, enquanto os para 2028 saíam de 11,19% para 11,44%.
Pouco antes das declarações do ministro, a Bolsa brasileira operava em alta e chegou a superar os 114 mil pontos na máxima do dia.
No fim da sessão, porém, o Ibovespa fechou em queda de 0,67%, aos 112.531 pontos, segundo dados preliminares, com as principais quedas sendo das "small caps", empresas menores e mais ligadas à economia doméstica -e, consequentemente, mais sensíveis ao movimento de juros.
A Petrobras, uma das maiores empresas do índice, registrou forte queda, recuando 1,01% em dia de declínio do petróleo no exterior, o que também pressionou a Bolsa.
Outro destaque negativo foi a Braskem, que caiu 5,53% e figurou entre as maiores perdas da sessão após divulgar na última sexta-feira queda de 1% no volume de vendas de resinas no Brasil no terceiro trimestre contra um ano antes, para 884 mil toneladas.
Já o dólar fez o caminho inverso: começou o dia em queda, mas passou a subir após as falas de Haddad, com investidores aguardando, ainda, as decisões de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) e do Banco Central nesta semana.
"A leitura do mercado é que a falta de um comprometimento maior por parte do governo com o déficit zero em 2024, via contingenciamento de gastos, pressionará ainda mais por arrecadação", disse o sócio e gestor de ações da Ace Capital Tiago Cunha.
"A indicação de que o equilíbrio se dará através do aumento da carga tributária, pelo fim de alguns programas de incentivo fiscal, reduz a previsibilidade sobre o 'timing' da aprovação das medidas e o impacto direto nos setores que terão aumento na tributação", acrescentou ele.
"O mercado continua reagindo ao risco fiscal. Um governo que não consegue manter a estabilidade financeira e cumprir suas obrigações fiscais pode atrair várias consequências negativas, como o aumento da dívida pública, pressão na inflação, desconfiança de investidores e rebaixamento de classificação de risco", diz André Luiz Rocha, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
Além da deterioração do cenário fiscal, investidores também acompanham decisões sobre juros nos Estados Unidos e no Brasil, ambas marcadas para quarta (1°).
No cenário local, a expectativa é que o Banco Central realize mais um corte de 0,50 ponto percentual, dando continuidade ao ritmo de redução iniciado em agosto. Há preocupação, no entanto, de que a autoridade monetária emita um comunicado mais duro após as recentes declarações de Lula.
Além disso, houve piora no cenário externo desde a última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). Os rendimentos dos títulos americanos atingiram seus maiores níveis em 17 anos, o que depreciou o real ante o dólar e pressionou os mercados globais, e a guerra entre Israel e Hamas ameaça desencadear uma novo pico do petróleo, o que poderia aumentar a inflação.
Nesta manhã, aliás, economistas consultados pelo BC aumentaram em 0,25 ponto percentual sua previsão para a taxa de juros no fim de 2024, após semanas de estagnação. Agora, os analistas esperam que a Selic termine o ano que vem 9,25%, conforme apontou o Boletim Focus.
Mesmo assim, analistas ainda esperam que o ritmo de cortes de 0,50 ponto percentual na Selic continue.
"Apesar do ambiente externo ter se tornado mais complexo -com aumento dos juros longos nos Estados Unidos e deflagração do conflito no Oriente Médio-, a depreciação do real em relação ao dólar foi moderada, e, no âmbito doméstico, as divulgações de inflação mostraram dados mais benignos, com queda das principais medidas de núcleos", afirma a equipe do Itaú.
Já Sérgio Goldestein, estrategista da Warren Rena, destaca que nenhum dos fatores de risco citados pelo Copom na última reunião se materializou.
"As expectativas de inflação mais longas (2025 e 2026) permaneceram rígidas em 3,50%, e os dados de atividade mostraram alguma moderação. Apesar do avanço da desinflação de serviços, a avaliação do Copom deve ser no sentido de que é preciso aguardar mais dados para qualificar como uma dinâmica mais benigna do que a esperada", afirma Goldestein.
Nos EUA, a previsão é de que as taxas de juros mantenham-se inalteradas na faixa entre 5,25% e 5,50%, mas as apostas sobre os próximos passos estão em aberto. Enquanto dados sobre consumo e mercado de trabalho mostram uma economia aquecida, um indicador acompanhado de perto pelo Fed mostrou desaceleração na semana passada, indicando que uma nova alta nas taxas pode não ser necessária.
O mercado americano foi apoiado, porém, pela divulgação de balanços corporativos de grandes empresas do país, fechando em forte alta. O S&P 500, o Dow Jones e o Nasdaq subiram 1,20%, 1,58% e 1,16%, respectivamente.
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