SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa brasileira subiu 2,70% nesta sexta-feira (3), em sua maior alta diária desde 5 de maio deste ano, enquanto o dólar caiu a R$ 4,89, após a divulgação de dados de emprego mais fracos que o esperado nos Estados Unidos.

Os novos dados sobre o mercado de trabalho americano sinalizaram desaquecimento da economia e aumentaram apostas de que o Fed não deve realizar um novo aumento de juros neste ano, aliviando temores do mercado.

A perspectiva de juros menores nos EUA tende a pressionar o dólar pois diminui a atratividade da renda fixa americana, fazendo com que investidores aloquem seus recursos em mercados mais arriscados, como em países emergentes.

Os rendimentos dos títulos americanos, aliás, que vinham pressionando ativos de risco globalmente, voltaram a dar trégua a investidores. Os títulos de dez anos do governo americano recuaram de 4,66% para 4,57%, após terem superado os 5% e atingido seus maiores patamares em 17 anos no mês passado.

Já as Bolsas de Valores, por serem ativos mais voláteis, são beneficiadas pelo aumento do apetite ao risco. Além disso, juros menores tendem a aliviar custos de empresas com captação e investimento, melhorando o cenário fiscal para companhias listadas em Bolsa e contribuindo para a alta dos índices americanos.

A Bolsa brasileira também foi apoiada por um movimento de correção da véspera, quando não houve atividade no Brasil por conta do feriado de Finados, mas os índices americanos, que funcionaram normalmente, registraram fortes altas.

Com isso, o Ibovespa terminou o dia aos 118.159 pontos, em seu nível mais alto desde 20 de setembro, e o dólar recuou 1,49%, cotado a R$ 4,896, registrando o maior recuo diário ante o real desde agosto.

Na semana, o principal índice da Bolsa de Valores brasileira acumula alta de 4,28%, enquanto a moeda americana teve desvalorização de 2,30%

Segundo o Departamento de Comércio dos EUA, a abertura de vagas fora do setor agrícola do país subiu para 150 mil postos em outubro, ante 180 mil esperados por economistas consultados pela Reuters. Além disso, os números de setembro foram revisados para baixo, de 336 mil para 297 mil vagas criadas.

"O mercado de trabalho traz dados bem negativos, fechando a conclusão dominante essa semana de que o Fed não subirá mais os juros e ampliando a probabilidade de que o início do ciclo de corte nas taxas se dará em meados do verão norte-americano [entre junho e agosto]", afirma Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.

Além disso, o Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM, na sigla em inglês) informou que seu PMI (indicador de atividade econômica) do setor de serviços americano caiu de 53,6 em setembro para 51,8 em outubro, a mínima de cinco meses, também apontando para um desaquecimento da economia.

Os ativos de risco globais já haviam registrado um dia positivo na quarta (1°), quando o Fed agiu em linha com o esperado pelo mercado e manteve inalteradas as taxas de juros dos Estados Unidos.

Mais que isso, as sinalizações da autoridade monetária americana sobre seus próximos passos foram consideradas mais suaves e também fortaleceram projeções de que o ciclo de alta de juros nos EUA pode ter chegado ao fim.

"Os temores com futuras altas dos juros nos EUA se dissiparam, com uma possível antecipação do início do ciclo de quedas para o final do primeiro semestre de 2024, possibilitada pelo payroll [relatório de emprego] de outubro combinado com a queda do PMI de serviços", afirma Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

A economista Claudia Rodrigues, do C6 Bank, também afirma que as chances de o Fed promover mais uma alta nos juros em 2023 foram reduzidas, mas ainda faz alertas.

"Os dados da inflação e do mercado de trabalho em novembro serão fundamentais para confirmar ou não se existe de fato uma tendência de desaquecimento da economia e embasar a decisão do Fed na próxima reunião, em dezembro", acrescenta.

Rodrigues projeta, no entanto, que os juros americanos só devem começar a cair no fim de 2024.

Já os analistas do Bank of America ainda mantêm a previsão de que o Fed vai realizar um novo aumento de 0,25 ponto nos juros na reunião de dezembro. Eles afirmam, no entanto, que o relatório de emprego desta sexta é consistente com a ideia de que a economia americana deve desacelerar nos próximos meses.

"Os dados de emprego de outubro certamente reduzem a urgência de o Fed realizar novos apertos", diz a equipe do BofA.

No Brasil, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu, também na quarta, mas já após o fechamento do mercado, cortar a taxa básica Selic em 0,5 ponto percentual, para 12,25% ao ano, e afirmou que prevê reduções no mesmo ritmo nas próximas reuniões, apesar de ter citado um ambiente internacional adverso.

Analistas do BTG Pactual destacaram que a decisão já era esperada e que novas reduções devem continuar a ocorrer, mesmo com maiores riscos como preocupações com o cenário fiscal local e a recente subida dos rendimentos dos títulos americanos.

"Apesar de avaliar que o cenário externo pede cautela e a situação é mais incerta que o de costume, o Copom sinalizou por unanimidade a preferência de cortes da mesma magnitude nas próximas reuniões", diz a equipe.

O banco manteve inalterada sua projeção para a Selic e afirma que aguarda detalhes da comunicação do Copom com a divulgação da ata da reunião, que ocorrerá na próxima semana, para possíveis atualizações de previsões sobre a taxa em prazos mais longos.

Acompanhando as taxas americanas, os juros futuros brasileiros tiveram queda consistente nesta sexta, o que apoiou ativos locais. Os contratos com vencimento em janeiro de 2026 saíram de 10,84% para 10,60%, enquanto os para 2028 foram de 11,25% para 11,00%.

Com o alívio nas curvas locais, os maiores destaques da Bolsa brasileira foram as "small caps", empresas mais sensíveis ao movimento de juros do país. O índice da B3 que reúne essas empresas subiu 4,55%, e a maior alta foi do Grupo Casas Bahia, que avançou 17,39%.


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