RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A baixa do setor de serviços em setembro, divulgada nesta terça-feira (14) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), reforça a projeção de PIB (Produto Interno Bruto) negativo no terceiro trimestre de 2023, avaliam economistas.
A previsão de recuo vem após o PIB mostrar desempenho acima do esperado na primeira metade deste ano, sob influência de questões como o crescimento da safra agrícola.
Em setembro, o volume de serviços recuou 0,3% ante agosto, calculou o IBGE. Assim, frustrou as expectativas de analistas do mercado financeiro. A previsão de economistas era de avanço de 0,3%, de acordo com a agência Reuters.
O resultado de setembro marca a segunda taxa negativa em sequência do setor. A redução havia sido de 1,3% em agosto.
"Os dados sugerem que devemos ter queda no PIB após um primeiro semestre bastante positivo", disse em relatório o economista André Perfeito, que prevê recuo de 0,3% para o indicador de julho a setembro.
Na visão dele, os números divulgados nesta terça devem gerar "desconforto no mercado e, principalmente, no Planalto".
O PIB do terceiro trimestre será publicado no dia 5 de dezembro pelo IBGE. Em relatório, a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, afirmou que o "desempenho fraco" de serviços reforça a projeção de desaceleração da atividade econômica.
"Acreditamos que o setor continuará andando de lado até o fim do ano, impactado pelo efeito dos juros ainda altos na economia", diz Moreno. O C6 Bank prevê variação negativa de 0,1% para o PIB do terceiro trimestre.
Antes de divulgar o desempenho de serviços, o IBGE informou na semana passada que o volume de vendas do comércio varejista cresceu 0,6% em setembro ante agosto. Puxada pelos supermercados, a alta veio após taxa negativa de 0,1% no mês anterior.
Já a produção industrial registrou leve avanço de 0,1% em setembro, conforme dados publicados no início deste mês pelo IBGE. A taxa veio após variação positiva de 0,2% em agosto.
"A chance de queda do PIB no terceiro trimestre é bastante grande", afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. A instituição projeta recuo de 0,2% para o indicador.
Na avaliação de Vale, a perda de ritmo reflete o aperto dos juros em patamar ainda elevado, além do fim do impulso da safra do início deste ano. "A gente está vendo o custo financeiro impactando empresas e famílias", diz.
"Esse cenário de dificuldades já estava se desenhando, mas as commodities ajudavam a disfarçá-lo. As commodities podem fazer muito, mas não podem fazer tudo", acrescenta Vale.
O acompanhamento do Santander Brasil indica baixa de 0,3% para o PIB do terceiro trimestre. Em relatório assinado pelo economista Gabriel Couto, o banco destacou nesta terça que o desempenho de serviços em setembro veio "bem abaixo do consenso de mercado".
O Santander espera contribuições negativas para o PIB vindas da produção agrícola no segundo semestre, uma vez que o impacto positivo da safra se concentra na primeira metade do ano.
A economia brasileira cresceu 1,8% no primeiro trimestre de 2023 e 0,9% no segundo, de acordo com o IBGE. Analistas do mercado financeiro projetam alta de 2,89% para o acumulado deste ano, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada na segunda-feira (13) pelo BC (Banco Central).
THE TOWN IMPACTA SERVIÇOS PRESTADOS ÀS FAMÍLIAS, DIZ IBGE
De acordo com o IBGE, três dos cinco subsetores da pesquisa de serviços mostraram queda em setembro. O destaque ficou com os serviços profissionais, administrativos e complementares, que recuaram 1,1%. Nesse caso, houve influência da receita menor nas atividades jurídicas, de limpeza e de serviços de engenharia.
Do lado das altas, o IBGE destacou os serviços prestados às famílias. O ramo avançou 3% em setembro. Assim, recuperou parte da queda verificada em agosto (-3,7%).
Conforme o instituto, a principal influência para esse resultado veio da atividade descrita como outros serviços prestados às famílias, diretamente impactada pelo festival de música The Town. O evento ocorreu na capital paulista.
"Houve um grande festival de música, realizado em São Paulo, em setembro, que acabou impactando no setor como um todo", afirmou Rodrigo Lobo, analista da pesquisa de serviços do IBGE.
De acordo com o instituto, o setor teve variação de 0,1% no terceiro trimestre, ante o segundo. Lobo, contudo, ponderou que a pesquisa tem diferenças metodológicas em relação ao cálculo do PIB.
O analista associou o "menor dinamismo" do setor ao fim do impulso dado pela safra agrícola a serviços como o transporte de cargas, entre outros fatores.
O IBGE ainda indicou que os serviços caíram 1,2% em setembro, na comparação com igual mês de 2022. Nesse recorte anual, a baixa foi a primeira após 30 meses de taxas positivas em sequência. A última redução havia sido em fevereiro de 2021.
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