BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Lula (PT) telefonou nesta segunda-feira (20) para a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para tratar do acordo entre a União Europeia e o Mercosul. A ligação ocorreu um dia após a vitória de Javier Milei para presidência da Argentina. O novo líder do país vizinho é um crítico do Mercosul e há o temor no governo brasileiro de que a eleição dele prejudique o acordo entre os grupos.
Ainda candidato, Milei chegou a afirmar em entrevista que deixaria o Mercosul, em caso de vitória.
Membros da equipe econômica ouvidos pela reportagem consideram que a vitória traz mais incerteza para o cenário regional e para o avanço de acordos comerciais, como a negociação entre o Mercosul e a União Europeia.
O acordo entre os blocos vive um impasse e o temor é que os entraves se ampliem com o novo presidente argentino.
Negociada oficialmente desde 1999, a parceria esbarra em novas condicionantes ambientais pedidas pelos europeus, além de haver divergências do governo brasileiro sobre prejuízos que as regras podem impor à reindustrialização do país.
Agora, Lula trabalha para que a mudança de poder no país vizinho não atrapalhe a concretização do acordo.
Há uma leitura, entre diplomatas e auxiliares palacianos, de que dificilmente vitória do ultraliberal representaria um retrocesso tão expressivo nas relações bilaterais entre os dois países, que já estariam consolidadas. A Argentina é o principal parceiro comercial da América do Sul.
Segundo o governo brasileiro, o Mercosul movimentou US$ 46,1 bilhões no comércio interno em 2022. Já o intercâmbio comercial com o restante do mundo foi de US$ 727 bilhões no ano passado, dos quais US$ 398 bilhões referem-se a exportações. Os principais destinos das vendas do bloco são China, Estados Unidos e Países Baixos.
Durante a campanha, Milei disse que pretendia limitar o comércio com o Brasil. Hoje, a Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do país, atrás apenas de China e Estados Unidos.
Neste ano, de janeiro a outubro, o superávit comercial do Brasil com a Argentina chegou a US$ 4,75 bilhões. No período, as vendas para os argentinos cresceram 12,5% e atingiram US$ 14,9 bilhões, enquanto as importações caíram 7,1% e chegaram US$ 10,15 bilhões.
Além do risco para o Mercosul, politicamente a vitória de Milei também não foi boa para Lula. O então candidato recebeu apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e manteve uma retórica de ataques ao petista, a quem chamou de "corrupto" e ameaçou com a ruptura de relações com o Brasil.
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