SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira (21) esperar por uma retomada da economia argentina após a vitória do ultradireitista Javier Milei nas eleições presidenciais do país no fim de semana.

"A Argentina é um exemplo claro em que a autonomia do Banco Central perdeu o estímulo. Depois, por algum tempo, o país não foi capaz de atingir as metas fiscais. Houve muitas mudanças nas metas fiscais e monetárias, e por extensão o país perdeu credibilidade. E a perda de credibilidade gera um espiral que, no final, causa uma inflação muito maior. Agora só podemos esperar que, com um novo governo, a Argentina seja capaz de ter uma virada", disse Campos Neto em entrevista à Bloomberg TV.

A fala acontece mesmo após Milei ter confirmado na segunda-feira (20), um dia após vencer as eleições, que pretende acabar com o Banco Central do país. Durante campanha eleitoral, o ultradireitista chegou a falar em "queimar" o órgão.

O presidente do BC brasileiro ainda ressaltou a importância do país vizinho como um parceiro comercial. "É muito importante para o Brasil ter a Argentina trabalhando para um equilíbrio, porque é um parceiro de comércio muito importante para o Brasil. Então, estamos esperando o melhor da Argentina", declarou.

Também nesse campo, Milei levanta muitas dúvidas, por já ter falado da possibilidade de a Argentina sair do Mercosul (Mercado Comum do Sul), acordo comercial que tem como países-membros Brasil, Paraguai e Uruguai, além de estabelecer relações com países associados da América do Sul.

Apesar disso, representantes de setores da economia brasileira que lideram as relações comerciais com a Argentina e ouvidos pela Folha acreditam que, no curto prazo, a vitória de Milei não deve impactar o volume de comércio com o país vizinho, porque tudo vai depender do sucesso de suas medidas entre os parlamentares.

BRASIL VAI CONSEGUIR ESTABILIZAR A INFLAÇÃO

Ao longo da entrevista, Campos Neto demonstrou otimismo em relação à economia brasileira, dizendo que o país teve um pouso suave após o ciclo de elevação da taxa básica de juros (Selic).

Ele ressaltou que, apesar da política monetária ainda em campo restritivo, a inflação está mais controlada, o mercado de trabalho seguiu relativamente bem e as expectativas para o crescimento da economia brasileira passaram por revisões altistas nos últimos tempos. O presidente do BC ainda disse que o mercado de crédito sofreu pouco com as taxas elevadas.

"Agora iniciamos o ciclo de queda de juros. É difícil dizer onde isso deve acabar, acho que depende de muitos fatores diferentes. Mas o Brasil está indo muito bem e eu tenho confiança de que o país vai conseguir estabilizar a inflação", declarou.

Apesar das incertezas no exterior devido aos conflitos geopolíticos e à volatilidade do petróleo, e também no Brasil em relação ao cumprimento das metas fiscais estabelecidas, Campos Neto afirmou que há espaço para a manutenção do ciclo de corte de juros.

Ele reafirmou que cortes de 50 pontos base na taxa Selic é um ritmo apropriado, ao menos nas duas próximas reuniões, porém disse que, depois disso, as decisões da autoridade monetária ainda dependerão de muitas coisas.

Com relação à política fiscal brasileira, Campos Neto evitou críticas, dizendo que, apesar das incertezas sobre a manutenção das metas fiscais, disse que o Brasil, em comparação com outros países, está seguindo bem nesse aspecto.

"O que temos visto agora é que o governo está mostrando que tem a vontade de perseguir a meta fiscal, e nós acreditamos que perseguir o objetivo e tentar fazer o melhor possível para equilibrar a trajetória das dívidas é o que é relevante", declarou.


Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!