SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Grande parte das empresas no Brasil ainda não se engajaram com a COP28, que começará na próxima semana em Dubai. De acordo com pesquisa da Fundamento Análises, apenas 22% das corporações desenvolverão alguma atividade no evento e, dessas, só 33% estão se preparando para a conferência.
O relatório "Na Trilha da COP28 - Uma visão corporativa dos desafios climáticos globais" entrevistou 311 executivos de empresas multinacionais e nacionais de 17 setores entre 9 de outubro e 9 de novembro. Entre os entrevistados, 28% são presidentes ou proprietários da companhia e 52% são diretores ou gestores. Um terço das empresas ouvidas fatura entre R$ 4,8 milhões e R$ 300 milhões, outro terço mais do que isso e outro, menos.
Inicialmente, a pesquisa seria feita com 450 executivos, mas mais de 130 não souberam responder às questões sobre a importância da COP28 para sua empresa, ainda que parte desse grupo fosse de gestores de ESG (sigla em inglês para Ambiente, Social e Governança) ou áreas correlatas.
"São indicadores que apontam que ainda há a necessidade de maior conscientização corporativa, alinhamento estratégico interno e valorização dos riscos ambientais e sua prevenção no planejamento e na visão de futuro de parte das empresas sediadas no Brasil", aponta o relatório.
O estudo, divulgado nesta quarta-feira (22), teve apoio da Associação Brasileira de ESG, Associação Brasileira dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável e Instituto Capitalismo Consciente Brasil.
Entre as empresas que disseram participar da COP28, 42 enviarão um ou mais representantes como ouvinte, oito participarão de debates e três serão expositoras. Além disso, uma é patrocinadora do evento e outras três serão representadas pela associação do setor correspondente.
Já entre as que se preparam para o evento, 48% dizem realizar debates internos sobre tópicos da conferência, 26% desenvolvem projetos e estudos para eventuais adequações após a COP, 22% divulgam ações da empresa e 4% preparam seus representantes que comparecerão à conferência.
A falta de engajamento passa pelas baixas expectativas desses executivos para a COP. Do total de entrevistados, 45% dizem estar neutros ou negativos quanto aos eventuais resultados do evento. Essa parcela afirma ter dúvidas em relação à capacidade dos países de colocar em prática o que é definido no evento.
De acordo com o relatório, seis fatores abaixam as expectativas desses executivos: 1) pouca evolução concreta de COP para COP; 2) falta de confiança de que países e empresas assumirão compromissos efetivos na proporção necessária; 3) fatores políticos de países desenvolvidos podem se sobrepor a argumentos técnicos; 4) falta de conscientização e educação da população em geral sobre o tema; 5) guerras ao redor do mundo dificultam articulações; 6) falta de investimentos.
Mesmo os 55% que se dizem esperançosos com a COP apontam que os eventuais acordos da conferência de Dubai serão firmados devido às últimas catástrofes climáticas e à proximidade do fim do prazo da Agenda 2030 da ONU e não necessariamente à vontade política dos países.
Para 48% dos entrevistados, a COP28 pode ter impacto direto em todas as operações da sua empresa. Outros 35% dizem que a conferência não causará impactos à sua companhia ou ainda não calcularam quais podem ser esses efeitos. Entre os principais impactos estão a necessidade aprimorar estratégias de ESG e adotar ações de redução de emissão de gases de efeito estufa.
Os 311 executivos também classificaram o que eles mais priorizam na COP. Para 131 deles, é essencial a formulação de estratégias de adaptação climática e para 124 a criação de políticas de transição energética e energia limpa. No top 3, também está a criação de um programa voltado à mitigação dos impactos climáticos. Essas também foram algumas das prioridades apontadas pelo agronegócio brasileiro no final de outubro.
A falta de engajamento para a COP28 também se repete, até agora, para a COP30, programada para ocorrer em Belém daqui a dois anos. Mais da metade (55%) das empresas ouvidas ainda não sabem se participarão do evento e 20% já cravam que não.
"Me chamou também bastante atenção o fato de 91% das empresas nunca terem participado de uma COP, uma vez que essas conferências existem há 28 anos e a maioria das empresas que a pesquisa ouviu são megas e ou grandes", disse Cristiano Lagôas, presidente da Associação Brasileira de ESG, em evento de divulgação do estado. "A do Brasil não dá pra não ir, é bem próximo da gente".
O relatório aponta que, embora as empresas reconheçam a importância do enfrentamento do aquecimento global e da mitigação dos impactos das mudanças climáticas, a maior parte delas não assimilou as pautas ambientais em sua estratégia de negócios.
"Grande parte se revela pouco preparada para as prováveis mudanças necessárias em sua operação ou, antes disso, muitas vezes não têm claro nem mesmo quais seriam os efeitos de possíveis diretrizes e regulamentações aprovadas na COP28", complementa.
ALGUNS DADOS DAS EMPRESAS OUVIDAS
- Tamanho - 83% são nacionais e 17%, nacionais
- Sede - 84% têm matriz no Brasil
- Faturamento - 30% faturam mais de R$ 300 milhões e 16% menos de R$ 360 mil
- Força de trabalho - 42% têm mais de 500 funcionários e 14% de 20 a 99
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