SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Empresas de vários setores anunciaram a interrupção do transporte de suas cargas pelo mar Vermelho em virtude do aumento de ataques de rebeldes houthis na região do Iêmen.

Nesta segunda-feira (18), a petrolífera BP, uma das gigantes do setor, comunicou a suspensão dos embarques de navios que passam pelo local devido à "situação de segurança deteriorada" gerada pelos ataques.

"A segurança de nossos funcionários e daqueles que trabalham em nosso nome é a prioridade da BP", divulgou a empresa britânica, que também afirmou que essa suspensão temporária será avaliada constantemente "com base nas circunstâncias que evoluem na região".

Desde sexta-feira (15), outras empresas anunciaram a suspensão das viagens. A dinamarquesa AP Moller-Maersk (segunda maior frota de transporte de contêineres do mundo), a alemã Hapag-Lloyd (quinta maior), a francesa CMA CGM e a ítalo-suíça MSC interromperam o transporte marítimo que passa pela região.

O mar Vermelho é uma "autoestrada marítima" que conecta o Mediterrâneo ao Oceano Índico e, portanto, a Europa à Ásia. Por essa rota, cerca de 20 mil navios circulam a cada ano e um dos seus pontos mais conhecidos é o Canal de Suez.

Nas últimas semanas, os rebeldes iemenitas, afiliados ao regime iraniano, aumentaram os ataques perto do Estreito de Bab Al Mandab, que separa a Península Arábica da África, e fica na rota do mar Vermelho. De acordo com a organização Washington Institute, o trajeto demora cerca de 19 dias.

Com a interrupção do tráfego pelo mar Vermelho, as embarcações têm a opção de usar a rota pelo Cabo da Boa Esperança para fazer o transporte da Ásia para a Europa. Porém, o percurso pode levar 31 dias. Com a demora, há atrasos na entrega, risco de deterioração do produto e aumento no gasto com a tripulação e com o combustível, o que gera elevação no custo do transporte marítimo.

MAS QUAL É A RAZÃO DOS ATAQUES NO IÊMEN?

Os ataques no Iêmen têm ligação com o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Os houthis advertiram que atacarão navios que tenham vínculos com Israel e que naveguem próximo ao litoral do Iêmen.

Os houthis são xiitas que lutam contra o governo sunita, ramo majoritário do muçulmanismo, desde 2014 no Iêmen. São bancados pelo Irã, centro do xiismo no mundo. Assim como o Hamas palestino e o Hezbollah libanês, agem de maneira coordenada.

Com a guerra decorrente do ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro e a pesada retaliação de Tel Aviv em Gaza, os houthis abriram uma frente secundária do conflito no mar Vermelho. Inicialmente, buscaram atingir Eilat, o porto principal do sul israelense, mas as defesas aéreas na região são bastante sofisticadas.

Além disso, há navios de guerra americanos e de outros países na região, que passaram a abater mísseis de cruzeiro e drones lançados contra Israel, que fica a 1.500 km das bases houthis. Assim, o foco foi passando para ações contra navios mercantes, vulneráveis sem escolta.

Nenhum foi afundado, mas vários já sofreram danos. Um deles, o cargueiro Galaxy Leader, foi abordado por um comando houthi transportado por helicóptero e sequestrado, sendo levado para um porto no Iêmen.

Vários mísseis e drones foram derrubados por navios de guerra americanos e franceses que patrulham a área.

Segundo a Câmara Naviera Internacional (ICS, da sigla em inglês), sediada em Londres, 12% do comércio mundial passa pelo mar Vermelho.

As preocupações com as dificuldades de abastecimento através da rota comercial do mar Vermelho, juntamente com a fraqueza do dólar, fizeram os preços do petróleo subirem na segunda-feira. Os papéis da Maersk valorizaram 1,9%, enquanto a Hapag-Lloyd registrou alta de 7,9%.

O petróleo Brent, referência internacional, subiu 1,9% para US$ 77,98 o barril, após o anúncio da BP. O equivalente americano, West Texas Intermediate, avançou 1,9% para US$ 72,82 o barril. O preço do gás de referência do Reino Unido subiu mais de 8%, enquanto seu equivalente europeu subiu mais de 7%, devido a preocupações com o transporte de gás natural liquefeito.

O preço do petróleo Brent poderia subir "pelo menos" US$ 10 a US$ 15 se todos os embarques do Oriente Médio para a Europa evitassem o mar Vermelho e viajassem ao redor da África, enquanto os preços para o TTF, principal referência comercial de gás da Europa, poderiam subir de 25% a 30%, disse Henning Gloystein, diretor da consultoria Eurasia Group.

"A BP é a primeira grande empresa global a [pausar os embarques]", disse Gloystein. "[Será] crucial ver agora quão forte é a resposta das forças navais dos EUA e da Europa", analisou.


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