SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após amargar queda de quase 65% no chamado "inverno cripto" no ano passado, o bitcoin voltou a subir e liderou os rendimentos de aplicações em 2023. Neste ano, a criptomoeda acumulou alta de 134,70%, superando com folga o desempenho de índices locais, como aponta levantamento de Einar Rivero, diretor da Elos Ayta Consultoria.
A retomada de força do bitcoin foi apoiada pela expectativa de queda nos juros americanos, após recentes sinalizações do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) de que a alta nas taxas dos EUA chegou ao fim, o que tende a favorecer ativos mais arriscados.
Além disso, a crise dos bancos regionais nos EUA, no início do ano, também impulsionou a criptomoeda, como aponta Theodoro Fleury, gestor da QR Asset Management.
"A quebra de bancos regionais, incluindo o Silicon Valley Bank, Silver Gate e Signature Bank, aumentou a percepção da importância da desintermediação e de ter a custódia dos próprios ativos. Essa narrativa fortaleceu significativamente o bitcoin", diz Fleury.
O gestor lembra, ainda, que a expectativa de maior adoção do bitcoin por grandes nomes do mercado financeiro, como a gestora BlackRock, que pediu a reguladores a aprovação de ETFs (fundos que replicam índices) para compra à vista da criptomoeda, endossou o avanço da criptomoeda.
"O fato de ter uma possível aplicação de ETF com proponentes desse calibre realmente mudou o jogo", afirma Fleury.
Em segundo lugar, aparece o Idiv (Índice de Dividendos) da B3, que reúne ativos que se destacaram em termos de remuneração dos investidores, sob a forma de dividendos e juros sobre o capital próprio. O indicador subiu 26,84% em 2023.
O analista Bruno Oliveira, do Ações Garantem o Futuro, aponta que o índice considera o retorno total dos ativos, calculando a variação do preço da ação somado com os proventos recebidos, e que as principais ações que compõem o Idiv -como as da Petrobras, que subiram mais de 60%- tiveram forte valorização no ano.
"Não somente tivemos uma grande valorização do preço dos ativos como também generosos dividendos distribuídos pelas atuais empresas que compõem o Índice Dividendos", diz Oliveira.
O analista diz, ainda, que tem uma visão positiva para a distribuição de dividendos em 2024.
Completando o pódio, o índice BDRX, que mede o desempenho de BDRs (Recibos Depositários Brasileiros, na sigla em inglês), subiu 26,33%. Esses papéis são negociados na Bolsa brasileira e replicam índices de companhias estrangeiras, como as big techs americanas.
"Essas empresas tiveram desempenho muito bom. Elas estão na ponta do desenvolvimento de tecnologia, têm exposição direta à inteligência artificial e puxaram o S&P 500 [principal índice de ações dos EUA]", afirma Caio Fasanella, chefe de investimentos da Nomad.
Neste ano, ações da Nvidia e da Tesla, por exemplo, que compõem o BDRX, subiram 238% e 105%, respectivamente.
Para 2024, a tendência é que esses ativos continuem a subir, impulsionados pelo provável corte de juros nos EUA e pelo avanço no desenvolvimento de ferramentas de inteligência artificial. Fasanella aponta, no entanto, que o alto patamar de preços atingido neste ano pode limitar os ganhos das ações dos próximos meses.
Em seguida, aparecem o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, que registrou seu melhor desempenho em quatro anos em 2023, e o índice de "small caps", que reúne empresas menores e mais ligadas à economia doméstica -e, portanto, mais sensíveis a quedas de juros- da B3.
Neste ano, a Bolsa brasileira foi beneficiada pelo início de cortes de juros no Brasil e pela perspectiva de redução das taxas americanas. Além disso, a aprovação de projetos da pauta econômica, como o arcabouço fiscal e a reforma tributária, resultou na elevação da nota de crédito soberano do Brasil pelas agências Fitch e S&P, o que também impulsionou o Ibovespa.
Na renda fixa, o IMA Geral, índice composto por títulos de dívida pública, e o CDI tiveram valorização de 14,68% e 12,94%, respectivamente. A poupança ficou em último lugar entre as aplicações que tiveram retorno positivo, com rendimento de 8,21%.
"O ano de 2023 destacou-se como um período favorável para a renda variável, com o bitcoin liderando o caminho. Contudo, é crucial manter-se atento às mudanças no mercado e ajustar estratégias conforme as condições econômicas evoluem", afirma Einar Rivero, responsável pelo levantamento.
DÓLAR, OURO E EURO PERDERAM VALOR EM REAIS
Num ano de forte alta para a renda variável, o dólar, visto como um investimento mais seguro, teve o pior desempenho no levantamento da Elos Ayta. A moeda americana caiu 7,21% no acumulado do ano, pressionada justamente pela expectativa de queda nos juros americanos e pela aprovação das reformas estruturais no Brasil, que fortaleceram o real.
O levantamento considera a Ptax, uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central que serve de referência para liquidação de contratos futuros.
Além do dólar, o euro e o ouro também registraram perdas, com retorno de -3,93% e -5,96%, respectivamente.
Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!