GENEBRA, SUÍÇA (FOLHAPRESS) - O encontro anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, que reúne nos Alpes suíços governantes, empresários, acadêmicos, executivos, jornalistas e líderes sociais para debater os problemas do planeta, começa nesta segunda (15) com dois temas determinantes e interligados na agenda: a transição energética e a crise do clima.

Os temas encabeçam os riscos e as preocupações apontados por especialistas em relatório publicado pelo fórum na semana passada.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que esteve no evento em seu primeiro mandato, não participará do encontro. Nem o ministro Fernando Haddad (Fazenda), concentrado na agenda econômica que tenta passar no Congresso, irá desta vez.

Marina Silva (Meio Ambiente), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Nísia Trindade (Saúde) representarão o Brasil, bem como o assessor de assuntos internacionais, Celso Amorim, e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, em rara participação de um membro do Judiciário. Entre os governadores, apenas Helder Barbalho (MDB), do Pará, irá aos Alpes.

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, havia confirmado presença, mas cancelou a viagem no último momento para se dedicar a outros compromissos da empresa.

As ausências brasileiras estão longe de serem as únicas. Tampouco participarão do evento os líderes dos EUA, Joe Biden (o secretário de Estado, Antony Blinken, vai representá-lo), nem da China, Xi Jinping (quem discursará na plenária será o premiê, Li Qiang), e tampouco o japonês Fumio Kishida, o alemão Olaf Scholz, o indiano Narendra Modi ou o britânico Rishi Sunak.

Dentre os governantes das sete maiores economias do planeta, apenas o francês Emmanuel Macron estará presente, além da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Layen. E Javier Milei, o recém-empossado presidente da Argentina que promete tirar o país do buraco com um discurso ultraliberal, fará sua estreia no púlpito alpino.

Isso não significa um fórum esvaziado, ainda que a crise permanente em que a economia mundial se viu nos últimos anos e o impasse na busca de consensos tenham drenado parte da energia e da importância que o evento emanou no passado. Para deleite dos manifestantes antidesigualdade que já protestavam na cidade neste domingo (14), executivos dos setores de finanças, energia e tecnologia comparecerão em peso, bem como diplomatas, ministros e chefes de organizações internacionais.

Mas será necessário tirá-los de certa prostração causada pela avalanche de crises: a pandemia e as mudanças que ela trouxe; duas guerra s que interferem no equilíbrio geopolítico e comercial; catástrofes climáticas cada vez mais constantes e o avanço do nacionalismo pelo mundo, além do alto endividamento dos países e da inflação ainda não totalmente controlada em boa parte dos países.

"A pergunta para os líderes em Davos em 2024 é se o ano que começa vai ser um período da 'permacrise' ou um momento para resolução, resiliência e recuperação", apregoa o presidente do Fórum, Borge Brende.

O questionamento é pertinente, já que muitas das promessas e dos compromissos selados nos corredores e palcos de Davos não se concretizaram, e a pressão das crises, cujo timing se sobrepõe ao da combalida governança global, cresce em meio a uma rápida transformação tecnológica e do mercado de trabalho.

"O que é crucialmente necessário neste momento é uma nova abordagem, que promova a transição para uma economia verde, digital e inclusiva como uma grande oportunidade para a criação de empregos, aumento do poder de compra e, finalmente, com foco em crescimento econômico sustentável", escreve o fundador e presidente-executivo da entidade, Klaus Schwab, em artigo na Folha de S.Paulo.

Por isso, parte significativa das dezenas de painéis do evento, que tem como mote neste ano a reconstrução da confiança e da cooperação, versa sobre clima, energia e inteligência artificial (o presidente-executivo demitido e readmitido da OpenAI, Sam Altman, é um dos nomes mais aguardados).

Como nos últimos anos, a Amazônia é tema de destaque, assim como o investimento em energia renovável, o que atrai duplamente os holofotes para o Brasil.

Será interessante ver como discursarão Marina e Silveira, após o país se associar ao braço expandido do cartel de produtores de petróleo, em meio a líderes empresariais e governamentais que, embora ainda usem largamente os combustíveis fósseis, cada vez mais se voltam para fontes de energia mais limpas.


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