BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro Fernando Haddad (Fazenda) tem reclamado, em conversas, da forma atabalhoada com que foi anunciado o pacote de medidas voltadas ao setor industrial apresentado na segunda-feira (22) durante evento no Palácio do Planalto.
Sem mencionar o alvo de suas críticas, Haddad lamentou a falta de detalhamento da proposta -batizada de Nova Indústria Brasil.
Em reunião com líderes partidários da Câmara dos Deputados na tarde de terça-feira (23), o ministro apontou para um painel que registra indicadores econômicos -como bolsa e dólar- para afirmar que sofrem oscilações toda vez que medidas de impacto são anunciadas sem o devido esclarecimento.
Aos líderes Haddad disse ainda que não tinha sido informado até domingo (21) sobre o lançamento do pacote. Membros do governo, no entanto, lembram que o Ministério da Fazenda faz parte do conselho que discutiu o plano.
Alguns parlamentares perguntaram se o ministro se referia ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social), presidido pelo ex-ministro Aloizio Mercadante.
Segundo participantes, Haddad apenas respondeu que o BNDES também não o havia informado sobre o teor da proposta. O lançamento do pacote estava a cargo da Casa Civil, sob o comando de Rui Costa.
Procurados, os ministérios da Casa Civil e da Fazenda não se manifestaram sobre o tema.
A um colega de Esplanada Haddad contou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) havia lhe telefonado na noite de domingo (21) para obter informações sobre o plano, cujo anúncio estava previsto para o dia seguinte. Haddad disse a Lula que desconhecia seu teor, tal como o presidente.
A proposta foi apresentada a Lula na própria segunda, durante uma reunião do CNDI (Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial).
Logo em seguida, foi exibida à imprensa -que já havia sido convidada desde a semana passada para o evento de divulgação. Haddad permaneceu em São Paulo o dia todo, sem participar do lançamento.
Na reunião que antecedeu o lançamento no mesmo dia, Lula reclamou que a proposta não continha pontos concretos e dava margem para as críticas de que se tratava de uma reedição de medidas antigas.
Também apontou falhas no documento, como problemas nos prazos para cumprimento das "metas aspiracionais" estabelecidas.
O evento começou com atraso. Ao chegar, o presidente se mostrou irritado e disse que vinha de uma reunião "ruim". O episódio abalou o conceito de Rui Costa na Esplanada, segundo integrantes do governo.
Outro foco de queixa foi a divulgação de um volume de recursos na ordem de R$ 300 bilhões sem reforçar que esse seria um volume de investimentos do BNDES no período de quatro anos, considerando 2023.
Presente à reunião com os parlamentares, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, interveio neste momento para acrescentar que, em 2023, o desembolso do BNDES teria sido de mais de R$ 70 bilhões (o que indicaria um número já compatível com o plano apresentado).
Os números oficiais do banco na internet mostram R$ 75 bilhões desembolsados de janeiro a setembro de 2023 para todos os setores (não só para a indústria, que recebeu apenas R$ 16 bilhões no período).
A proposta apresentada a Lula foi produzida ao longo do segundo semestre de 2023 pelos membros do CNDI.
O CNDI é vinculado à Presidência da República e liderado pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB). O colegiado é composto por 20 ministérios, além do BNDES, e 21 conselheiros representantes da sociedade civil.
Os conselheiros são indicados por entidades privadas (como CNI e outras associações setoriais como Abiquim, da indústria química; Anfavea, de veículos; e Instituto Aço Brasil, de empresas siderúrgicas) e centrais sindicais (CUT, Força e UGT).
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