BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (31) por unanimidade reduzir em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros (Selic), para 11,25% ao ano.
O comitê manteve, em seu primeiro encontro de 2024, o ritmo de alívio nos juros aplicado desde o ano passado. Este foi o quinto corte consecutivo na taxa básica, movimento iniciado em agosto de 2023.
Além disso, o Copom também informou em seu comunicado oficial que o ritmo de redução na taxa Selic deverá ser mantido em seus próximos encontros, por conta da volatilidade do cenário externo e os riscos relacionados com a inflação.
"Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário", afirma o texto.
Essa foi o primeiro encontro do Copom com a participação dos novos diretores do BC indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Paulo Picchetti e Rodrigo Teixeira assumiram seus cargos no dia 2 deste mês. Ou seja, os indicados por Lula acompanharam a rota que vinha sendo adotada nos últimos meses pelo comitê, apesar da pressão do mandatário e seus correligionários.
Em seu comunicado, o Copom voltou a afirmar, como havia feito em dezembro, que o ambiente externo segue volátil. Mas dessa vez acrescentou que o cenário é marcado pelo debate sobre o início da flexibilização dos juros nas principais economias. E também afirma que os bancos centrais das principais economias do mundo seguem determinados a buscar manter as taxas de inflação dentro das metas.
"O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes", afirma o texto.
O comunicado também cita um cenário interno de desaceleração da economia. Manteve as projeções para inflação em seus cenários de referência, em 3,5% em 2024 e 3,2%, em 2025. Já as expectativas para os preços administrados passaram de 4,5% para 4,2% em 2024 e de 3,6% para 3,8% em 2025.
O colegiado acrescentou a expressão "em grau maior" ao se referir a 2025 quando afirma que a decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para a meta ao longo do horizonte relevante. De acordo com o comunicado, isso inclui o ano de 2024 e, "em grau maior", o de 2025.
Sobre a inflação, lembra que se mantém uma trajetória de desinflação, mas por outro lado aponta a manutenção de fatores de risco. Afirma que se mantém a persistência de pressões inflacionárias globais e a resiliência na inflação de serviços.
"Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas", afirma o texto.
"A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária. O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas", completa.
Em seu último encontro do ano passado, o Copom havia sinalizado reduções na mesma intensidade nas próximas reuniões.
O órgão afirmou também na ocasião que os membros avaliaram de forma unânime que essa é a cadência apropriada para manter a política monetária contraindo a economia em um nível necessário para o processo de desinflação.
Analistas apontavam antes do encontro que um novo corte era a medida aguardada, considerando os indicadores de inflação.
O boletim Focus, divulgado nesta terça-feira (30), indicou que o mercado espera que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) termine 2024 em 3,81% ?na semana anterior, a previsão era de 3,86%.
A taxa básica de juros passou por um ciclo de 12 altas consecutivas de março de 2021 a agosto de 2022, respondendo ao aumento nos preços de alimentos, energia e combustíveis. Depois disso, ela ficou congelada no patamar de 13,75% ao ano até agosto do ano passado.
Os juros foram durante grande parte do ano passado motivo de discórdia entre o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Banco Central.
O mandatário desferiu diversos ataques contra o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, a quem chamou repetidas vezes de "cidadão", se recusando a pronunciar seu nome, questionou suas intenções e disse que ele não tinha compromisso com o Brasil.
A situação começou a mudar após as primeiras reduções na taxa básica de juros. O primeiro encontro entre Lula e Campos Neto ocorreu apenas em setembro do ano passado, em uma reunião no Palácio do Planalto.
O momento que selou a pacificação aconteceu poucos dias antes do Natal, quando Roberto Campos Neto foi convidado e participou do churrasco de fim de ano de Lula, na residência oficial da Granja do Torto, com a presença de todos os ministros do governo.
Antes da decisão do comitê, no entanto, integrantes do partido de Lula, o PT, pressionavam o Copom para que efetuasse um corte mais arrojado na taxa de juros.
Em suas redes sociais, a presidente da legenda, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), havia afirmado que o cenário econômico era favorável a uma redução maior e que 0,5 ponto percentual era "muito pouco".
"O Brasil está pronto para retomar o crescimento com pujança, estimulado pelos investimentos do PAC, da Petrobras e da Nova Indústria Brasil, entre outros. Falta o BC fazer sua parte e começar a reduzir para valer a indecente taxa de juros", escreveu a parlamentar.
"Cortar só 0,5 ponto da Selic outra vez, como antecipam a mídia e o mercado, é muito pouco. Está na hora de o BC pensar em suas responsabilidades com o país e fazer sua parte no esforço de reconstrução e crescimento", afirmou.
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