CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - Produtores de soja no norte do Paraná já calculam perdas na produção da safra 2023/2024 por conta do intenso calor entre final de dezembro e início de janeiro combinado com poucas e mal distribuídas chuvas no mesmo período.
De acordo com o Deral (Departamento de Economia Rural), a estimativa mais recente de produção da soja passou de 21,8 milhões de toneladas para 19,2 milhões de toneladas em todo o Paraná. Os números foram divulgados em 25 de janeiro.
Também houve redução na área de plantio. Inicialmente estimada em 5,8 milhões de hectares, a cultura ocupou 5,7 milhões de hectares, apontou o Deral, órgão vinculado à Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do governo do Paraná.
Agricultores do norte do estado calculam que a redução deve ficar em mais de 30%, levando em conta uma média histórica da produção. Na região, as temperaturas flutuaram na casa dos 40°C da segunda metade de dezembro à primeira quinzena de janeiro, e faltou chuva no período.
"Eu começo a colheita amanhã [sábado, 3], mas acho que a quebra foi até maior do que 30%. Já teve um calor grande em outros anos, mas aí a terra tinha um pouco de umidade. O problema esse ano foi a associação entre calor grande e falta de chuva", diz o produtor de soja José Rogério Volpato, de Ourizona (PR).
Em comparação com a safra anterior, de 2022/2023, a perda é maior. Um ano atrás, o Paraná registrava recordes na produção de soja.
"Ano passado, eu colhi cem sacas por hectare. Neste ano, vai dar 40 a 50 sacas por hectare. Então, em relação à safra anterior, a quebra pode chegar a 50%. Ano passado foi uma média muito boa na nossa região", explica Volpato.
Cleber França, produtor de soja em Maringá (PR), também lembra da safra "fora da curva" de 2022/2023 e conta que desta vez ficou mais de 20 dias sem chuva na lavoura.
"Até o Natal, correu tudo bem, caminhava para uma boa produção. Mas aí do Natal até mais ou menos o dia 20 de janeiro não choveu", diz ele, que pertence a uma família de agricultores tradicionais na região, que começaram com o café na década de 1940 e migraram para a soja na década de 1980.
"Eu acho até que a região aqui vai ter uma perda maior do que os órgãos oficiais estão estimando", avalia França.
Os produtores também contam que a chuva mal distribuída revelou situações diferentes em lavouras próximas. "Precipitação variou muito, num raio de cinco quilômetros tem diferença de quantidade de chuva", diz Volpato.
O produtor Rodrigo Colombo Henriques, de Terra Boa (PR), diz que o "veranico é ruim para todo mundo" e que sentiu o problema na safra, mas não tanto quanto agricultores da mesma região.
"Tivemos um veranico de 15 dias que trouxe um estresse para a planta, mas eu não tive problema sério, não como meus vizinhos. As chuvas foram mal distribuídas", diz ele.
Eles também relatam à reportagem que a quebra foi maior entre aqueles que optaram por iniciar o plantio de soja mais cedo, na tentativa de antecipar a safrinha de milho e escapar da geada.
"Alguns produtores plantaram soja um pouco mais cedo e pegaram o veranico num período crítico, de enchimento de grão da soja", afirma Henriques.
"Como faltou água, a planta aborta algumas vagens, que caem no chão, para tentar salvar outras. Então, esse produtor, que era para ter uma safra de pelo menos 150 sacas por alqueire, está colhendo 70. Meus vizinhos perderam praticamente a metade", continua ele.
Uma pesquisa da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) feita em parceria com o Ministério do Meio Ambiente no ano de 2016 mostrou que a região norte do Paraná poderia apresentar dias mais secos e mais quentes dentro dos 25 anos seguintes, em razão das mudanças climáticas.
De acordo com as projeções, o norte do estado teria um aumento de até 5,6°C na temperatura e uma diminuição de 18% no volume de chuvas. Entre os impactos diretos causados à população, a pesquisa citou a proliferação de vetores como o Aedes aegypti e os efeitos na agricultura, por exemplo.
O foco da pesquisa era avaliar a vulnerabilidade dos 399 municípios paranaenses à mudança do clima observada no mundo.
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