SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Apesar de o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) ter apresentado alta acima do esperado pelo mercado, analistas mantiveram suas projeções de inflação e juros para este ano. Eles dizem, contudo, que os dados divulgados nesta quinta-feira (8) acendem um alerta.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a inflação oficial do Brasil medida pelo IPCA variou de 0,56% em dezembro para 0,42% em janeiro. Essa desaceleração, contudo, foi menor do que o aguardado por economistas, que projetavam, em média, uma elevação de 0,34% nos preços ao consumidor, segundo projeções compiladas pela Bloomberg.

O mês de janeiro costuma apresentar números mais altos devido a eventos sazonais, como reajuste do salário mínimo, aumento nas despesas com educação, taxas anuais e até mesmo piora na oferta agrícola de alguns produtos por conta das chuvas e do calor.

De fato, o IPCA do mês passado voltou a sofrer pressão da alta dos alimentos. O grupo alimentação e bebidas acelerou para 1,38%, após registrar 1,11% em dezembro, como efeito das temperaturas e das chuvas intensas em regiões produtoras, intensificadas pelo fenômeno climático El Niño.

Mas além da frustração na expectativa com o índice geral, analistas chamam atenção para alguns detalhes, como a inflação subjacente de serviços, medida que busca captar uma tendência para os preços desse segmento sem levar em conta componentes mais transitórios. O Banco Central tem olhado esse fator de perto em suas decisões de juros.

"Serviços subjacentes apresentaram um avanço de 0,76% nos preços, enquanto projetávamos alta de 0,65%", diz Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. Para o grupo de serviços no geral, a Ativa esperava deflação de 0,08%, mas houve avanço de 0,02%.

O analista diz que esses dados frustram uma parte do mercado que esperava que o IPCA de janeiro pudesse chancelar uma eventual aceleração no ritmo de corte da taxa básica de juros, Selic. Atualmente, o BC tem adotado cortes de 0,5 ponto percentual, levando a taxa do patamar de 13,75% em meados do ano passado para os atuais 11,25% ao ano.

Mas para quem mantinha no horizonte esse ritmo de redução dos juros, reforçado pelo próprio BC na ata da última decisão do Copom (Comitê de Política Monetária), nada muda, na visão de Sanchez.

"Avaliamos que, apesar de ruim, não se trata de um dado que irá alterar o plano de voo do Copom", diz o analista da Ativa.

"Não há necessidade de examinar muito o IPCA de hoje para perceber que se trata de um dado ruim exatamente onde mais importa: inflação subjacente de serviços", afirma Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez.

"Ao todo, é uma divulgação ruim, mas é apenas uma divulgação. Importante verificar as próximas ao longo do caminho. Portanto, não há necessidade (ainda) de alterar nosso cenário", corrobora.

Para Cunha, quem antecipa uma taxa terminal da Selic a menos de 9% ao final do atual ciclo de corte de juros deve ficar atento após o dado desta quinta-feira. "O IPCA de hoje deve jogar um pouco de água fria, já que 2024 começou com o pé esquerdo no front inflacionário", diz.

Por outro lado, o analista Rafael Costa, também da BCG Liquidez, chama atenção para o fato de a surpresa com inflação subjacente de serviços ter se concentrado em um único subitem: serviço bancário.

Segundo Costa, os serviços bancários já vêm registrando forte inflação nos primeiros meses em anos recentes, mas ele acredita que os preços desse subitem devem recuar daqui para frente.

Amabile Ferrazoli, economista da Tenax Capital, concorda com essa visão. "A dinâmica de preços de serviços bancários não é algo que nos deixa preocupados. Hoje, esse subitem no IPCA tem tendência estrutural deflacionária por causa de uma maior competição bancária com uma maior participação de bancos digitais na economia", afirma.

Ainda assim, o estrategista de inflação da Warren Investimentos Andréa Angelo acredita que ainda há risco de alta para a inflação de serviços subjacentes no ano. Mas enxerga uma dinâmica recente mais favorável de alimentação no domicílio, o que pode servir de contrapeso.

"Mesmo com a surpresa no número de hoje, não alteramos o cenário de IPCA de 2024 que é de 3,90%, e de 3,50% em 2025", afirma.

Mas o alerta é sempre reforçado. "Acreditamos que nada muda na política monetária do BC, mas alguma atenção é necessária. O ritmo de cortes deve se manter em 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões, mas é preciso atenção para o comportamento da inflação e a trajetória fiscal", ressalta Julio Hegedus, da Mirae Invest.

"No geral, vemos manutenção de um cenário de desinflação, mas com alguns sinais de alerta", diz André Cordeiro, economista-sênior do banco Inter.

"Em fevereiro devemos ter uma nova rodada de aceleração da inflação, com os reajustes escolares pressionando a inflação de serviços. Por outro lado, podemos começar a ver uma reversão nos preços de commodities alimentares, contribuindo para uma desaceleração da inflação de alimentos", completa.


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