SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O conselho de administração da Vale decidiu em reunião nesta sexta-feira (8) que o atual presidente Eduardo Bartolomeo não vai ser reconduzido ao cargo. O mandato do executivo, no entanto, que seria encerrado em maio, foi prorrogado por seis meses, segundo a Folha apurou.
Pessoas que acompanharam as discussões afirmam que a decisão teve apenas dois votos contra: dos dois conselheiros independentes José Penido e Paulo Hartung. O conselho é composto por 13 membros.
A extensão do prazo de seis meses levou em consideração que, já sendo março, não seria possível escolher candidatos em um prazo tão exíguo e que, feita a escolha, ainda será preciso uma transição.
Pelo cronograma definido, a consultoria que vai fazer a seleção deve ser contratada até 30 de junho. Ao final de setembro, deve entregar uma lista tríplice com candidatos. Pessoas que acompanharam a discussão afirmam que Bartolomeo não quis integrar a lista. A escolha precisa ocorrer até 30 de outubro, e a contração, até 30 de novembro.
A decisão encerra um período marcado por um racha no conselho, que divergiu por meses sobre a permanência ou troca de Bartolomeo. Ocorre também depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fazer fortes críticas públicas contra a Vale, que foram recebidas como ameaças contra a companhia.
Lula afirmou que "a Vale não pode pensar que ela é dona do Brasil" e que "empresas brasileiras precisam estar de acordo com aquilo que é o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro".
A sucessão no comando da Vale foi alvo de pressões de Lula, que tentou emplacar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega no cargo, mas desistiu após ouvir que o nome não teria votos suficientes.
Internamente, circulam há alguns meses que, entre os possíveis candidatos, estão o ex-presidente da mineradora Murilo Ferreira e Paulo Caffarelli, ex-presidente da Cielo e ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda em governos do PT.
Chegou-se a cogitar o ex-presidente da Cosan Luiz Henrique Guimarães, mas o nome provocou divergências por eventual conflito de interesse.
Bartolomeo foi nomeado em 2021 para um mandato de três anos. O executivo gostaria de ficar no cargo, mas ocorreram divergências entre os conselheiros em relação a sua permanência.
Uma ala passou a defender que a empresa precisava de mais interlocução com as diferentes esferas de governos para destravar licenças ambientais e remover obstáculos a operações.
Entre os 13 integrantes que vão bater o martelo pela escolha do novo presidente, dois foram indicados pela Previ, o fundo de pensão dos empregados do Banco do Brasil. Bradesco e o grupo japonês Mitsui têm um representante cada. Há ainda um representante dos empregados da companhia.
Os outros membros são classificados como independentes, ou seja, sem ligação com acionistas relevantes.
A política de indicação de administradores da companhia define alguns requisitos básicos para os candidatos, como não ter sido condenado por crime falimentar, de prevaricação, propina ou suborno, concussão, peculato, contra a economia popular, a fé pública ou a propriedade, ou a pena criminal.
O candidato não pode ainda ter sido declarado inabilitado por ato da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) ou ter exercido mandato eletivo no Poder Executivo ou Legislativo durante os últimos três anos.
Deve ter reputação ilibada, estar alinhado e comprometido com a missão, os valores e o código de conduta da Vale, não ter interesse conflitante de natureza estrutural com a companhia e não pode ocupar cargos em concorrentes no mercado.
Procurada pela reportagem, a assessoria da Vale não se manifestou até a publicação deste texto.
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