BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Congressistas da oposição reagiram de forma tímida pelas redes sociais à queda nas ações da Petrobras e ainda ensaiam medidas contra a mudança na política de pagamento de dividendos aos acionistas.

Como justificativa para a reação morna, deputados federais e senadores dizem que as notícias da Petrobras tiveram desdobramentos ao longo de sexta-feira (8) e que muitos parlamentares já estavam nos estados, o que dificulta a articulação.

Bolsonaristas negam que haja receio de que falas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sejam resgatadas pela base do governo caso o assunto entre no foco das redes.

Mesmo aliado a Bolsonaro, o senador Cleitinho (Republicanos-MG) saiu em defesa do governo Lula.

Cleitinho afirmou que não adianta "a Petrobras ter lucro exorbitante e a gasolina ficar cara". Para ele, é importante que a estatal não registre prejuízo nem tenha corrupção.

"Como o governo é o maior acionista, ela não pode dar é prejuízo nem ter corrupção. Tendo lucro, pode dar uma contrapartida para o povo, que é a gasolina mais barata. Então não pode dar é prejuízo. O lucro tem que ficar no bolso do povo através da gasolina mais barata", disse.

Chefe da Casa Civil na gestão Bolsonaro, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) disse que avalia quais providências poderão ser adotadas no âmbito do Senado.

O parlamentar foi ao X (antigo Twitter) para comentar o assunto na sexta e disse que o governo "meteu a mão" nos dividendos da empresa "para realizar 'investimentos' no mínimo questionáveis".

Assim como o presidente do PP, a líder do partido no Senado e ex-ministra da Agricultura de Bolsonaro, Tereza Cristina (MS), afirma que o Congresso tem de investigar os prejuízos do que chamou de novo "arroubo estatizante do governo".

"Ficou evidente para o mercado e os investidores que houve intervenção do governo numa empresa de capital aberto. A decisão errada de não pagar os dividendos do trimestre trouxe insegurança jurídica para o presente e futuro, aqui e no exterior", disse à reportagem.

Procurado, o líder do PL no Senado, Carlos Portinho (RJ), indicou o líder da oposição, senador Rogério Marinho (PL-RN), para tratar do assunto. O parlamentar, por sua vez, não respondeu ao contato da reportagem até o fechamento do texto.

O deputado Ricardo Salles (PL-DF), que atuou como ministro do Meio Ambiente no governo Bolsonaro, classificou a decisão da Petrobras de reter os dividendos extraordinários como "um absurdo".

"Ficar usando a companhia para fazer política pública governamental é um erro tremendo", disse.

"Não há dúvida de que eles [petistas] estão restabelecendo, se a gente não disser que já restabeleceu, aquela visão meio totalitária, intervencionista que o PT tinha na economia no governo da Dilma. É igualzinho", acrescentou.

Sobre a repercussão mais tímida da oposição, Salles disse acreditar que outros temas, como a divisão das comissões da Câmara, concentraram a atenção dos parlamentares nos últimos dias.

"Tenho certeza que tem muita gente que tem a mesma perspectiva que eu tenho, de achar que isso é um absurdo", afirmou.

A deputada Bia Kicis (PL-DF), líder da minoria na Câmara, disse ver a decisão da Petrobras como uma demonstração de maior interferência do governo.

"Lula e seus aliados acham que podem se servir das empresas para satisfazer seus interesses políticos e pessoais", afirmou.

A reportagem também tentou contato com os deputados Altineu Côrtes (PL-RJ), líder do PL na Câmara dos Deputados, e Carlos Jordy (PL-RJ), líder da oposição na Casa, mas não obteve retorno até a publicação do texto.

O senador Sergio Moro (União Brasil-PR) afirmou que não vai se espantar "se o valor das ações cair ainda mais ou se a Petrobras sofrer novas investigações" da SEC (Securities and Exchange Commission), órgão regulador do mercado de capitais dos Estados Unidos.

"Os lucros caíram por decisões econômicas ruins, como a nova política de preços, a retomada de investimentos em refinarias e o planos bilionários para as caras eólicas off-shore", dissesi, acrescentando que a governança foi prejudicada pela suspensão da lei das estatais.

Na sexta, com o temor de investidores de maior intervenção do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre as decisões da estatal, a Petrobras perdeu mais de R$ 55 bilhões em valor de mercado.

A queda nos papéis foi a maior desde fevereiro de 2021, quando Bolsonaro reclamou do preço do diesel diante da ameaça de paralisação de caminhoneiros e demitiu o então presidente da empresa.

Além de ter trocado o comando da Petrobras diante do mega aumento de preço dos combustíveis em 2021, o ex-presidente chegou a afirmar que o lucro de R$ 44,5 bilhões no primeiro trimestre de 2022 era um "estupro".

Na quinta (7), a empresa anunciou que encerrou 2023 com lucro líquido de R$ 124,6 bilhões -uma queda de 33,8% em relação ao recorde de R$ 188,3 bilhões registrados em 2022. O número do ano passado, no entanto, seguiu o observado em outras petroleiras globais e já era esperado pelo mercado.


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