BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Em meio a uma explosão de preços que já dura três meses e faz as famílias cortarem itens da lista do mercado, o governo de Javier Milei anunciou nesta terça (12) que vai abrir as importações de alimentos e outros produtos da cesta básica na Argentina e retirar alguns de seus impostos.

"O ministro [da Economia] Luis Caputo se reuniu com empresários de supermercados nesta segunda [11] para conversar sobre a evolução da inflação e, nessa reunião, eles reconheceram que houve um aumento de preços acima da expectativa da inflação", disse o porta-voz da Casa Rosada, Manuel Adorni, em sua entrevista coletiva diária.

Nos dois primeiros meses da gestão de Milei, os preços subiram mais de 20% por mês, com fortes remarcações em comidas e bebidas, o que deve fazer o país atingir o maior nível anual do mundo em 2024.

Isso porque, quando assumiu, o ultraliberal promoveu uma desvalorização do peso e retirou os congelamentos impostos pelo peronista Alberto Fernández. Agora, espera-se uma desaceleração para cerca de 15% no índice de fevereiro, que será divulgado na tarde desta terça pelo Indec, o IBGE argentino.

Segundo Adorni, os empresários "haviam avaliado um cenário catastrófico que não ocorreu", apesar do grande impacto que os últimos meses tiveram no bolso dos argentinos. O governo agora espera uma acomodação dos preços, e pretende acelerar isso com a liberação de importações.

"Se tomou a decisão de abrir definitivamente as importações de determinados produtos da cesta básica, com o objetivo de tornar os preços mais competitivos em benefício das famílias e consumidores argentinos. E também certa retirada de impostos nesses produtos importados para ajudar a correção de preços", anunciou.

A Casa Rosada ainda não divulgou quais itens serão liberados e disse que dará mais detalhes em breve. Segundo o Indec, a cesta básica argentina inclui produtos como farinha de trigo, arroz, macarrão, carne picada, frango, leite em pó e ovo, assim como detergente e água sanitária.

Em dezembro, Milei já havia anunciado a extinção do sistema de importações argentino chamado Sira, que antes exigia a autorização prévia do governo para compras internacionais, na intenção de evitar a fuga de dólares do país. O novo presidente o substituiu por um sistema automatizado, sem interferência do Estado.

Nesta segunda, o Banco Central -que na Argentina é fortemente ligado ao governo- também baixou a taxa de juros de 110% para 80% anuais, afirmando que "desde dezembro a conjuntura econômica apresenta sinais visíveis de redução da incerteza macroeconômica".

O órgão também revogou a taxa mínima de 110% anuais (9% mensais) que os bancos eram obrigados a oferecer a quem fazia depósitos a prazo fixo.

Na entrevista desta terça, Adorni foi questionado sobre a situação das famílias de classe média, um dos setores que mais estão sofrendo com a subida de preços no país, já que não contam com a ajuda de programas sociais. Na cidade de Buenos Aires, é preciso uma renda mensal de 1 milhão de pesos (R$ 5.000) para fazer parte desse grupo.

O ministro se esquivou. "Não tenho muito mais para dizer do que repetir o que digo todos os dias sobre o mal momento que estamos vivendo todos os argentinos com o objetivo de tentar normalizar esse país", respondeu.

O porta-voz também afirmou que o governo "iniciou ações diplomáticas" contra o governo do ditador Nicolás Maduro na Venezuela, que impediu o tráfego aéreo em seu país por qualquer aeronave argentina.

"Isso faz parte de uma retaliação pelo fato de o governo argentino ter aceitado a ordem de confisco da Justiça dos Estados Unidos para o Boeing 747, vinculado à Guarda Revolucionária Islâmica do Irã. A Argentina não vai se deixar extorquir pelos amigos do terrorismo", afirmou.


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