RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Duas das construtoras que protagonizaram o esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato, a Andrade Gutierrez e a Novonor (ex-Odebrecht), largaram na frente na disputa por cinco lotes do processo de retomada das obras da Refinaria Abreu e Lima, um dos pivôs da investigação.
Ao todo, a Petrobras recebeu propostas para sete lotes da obra, que prevê a conclusão do segundo trem de produção de combustíveis da refinaria, inaugurada parcialmente em 2014, mas com obras suspensas desde 2015.
O resultado final, porém, ainda depende de negociações entre a Petrobras e as empresas, que apresentaram um valor global superior aos cerca de R$ 8 bilhões que a estatal pretende investir no projeto.
Por meio da controlada Consag, a Andrade Gutierrez apresentou as melhores propostas para contratos, no valor de R$ 3,76 bilhões. A Novonor participou do leilão com a controlada Tenenge, que liderou as propostas para três lotes, com R$ 5,2 bilhões.
As informações foram antecipadas pelo jornal "O Estado de São Paulo" e confirmadas com fontes do setor pela reportagem. Oficialmente, as empresas não se manifestam sobre o assunto. A Petrobras ainda não retornou o pedido de esclarecimentos da reportagem.
Dois outros lotes receberam melhor proposta da Conenge, com R$ 1,9 bilhão. Juntas, as ofertas recebidas pela Petrobras somam quase R$ 11 bilhões, R$ 3 bilhões a mais do que o valor estimado pelo presidente da estatal, Jean Paul Prates, na cerimônia em que anunciou a retomada das obras.
A refinaria já consumiu cerca de R$ 90 bilhões e é tema de um caderno do TCU (Tribunal de Contas da União) sobre "como uma ideia virtuosa e promissora pode se transformar num malogro comercial bilionário".
A Petrobras defende que o projeto de conclusão das obras "é robusto, viável economicamente e tem retorno positivo", segundo afirmou em janeiro a gerente de projetos de Desenvolvimento da Produção da companhia, Mariana Cavassin.
Segundo ela, o projeto passou por um "processo detalhado e rigoroso de avaliação econômica" dentro da Petrobras. "Avaliamos a melhor solução para a companhia neste momento, dado o estado em que está a obra."
No anúncio de retomada das obras, realizado nas instalações da refinaria em Ipojuca (PE), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar a Lava Jato, afirmando que a operação foi uma armação contra a Petrobras e contra a busca por petróleo no Brasil.
"Tudo o que aconteceu nesse país foi uma mancomunação entre alguns juízes desse país, alguns procuradores desse país, subordinado ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos que queriam e nunca aceitaram o Brasil ter uma empresa como a Petrobras", disse.
Ao fim das obras, a capacidade de processamento de petróleo da refinaria pernambucana subirá dos atuais 100 mil para 260 mil barris por dia, com foco na produção de diesel, combustível em que o Brasil é deficitário.
Além da refinaria Abreu e Lima, a Petrobras pretende retomar outra obra emblemática da Lava Jato, o antigo Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), rebatizado de Polo GasLub no governo Jair Bolsonaro (PL).
Nesse caso, o projeto prevê a implantação de unidades para produção de combustíveis, além de estudos para a uma usina térmica na área do complexo, que fica em Itaboraí, na região metropolitana do Rio. A ideia é contratar as obras ainda no primeiro semestre.
Em outra frente, a companhia afirmou nesta sexta-feira (15) que iniciou processo de avaliação para recompra de participação na Refinaria de Mataripe, vendida durante o governo Bolsonaro ao fundo Mubadala.
As duas empresas discutem um projeto de ampliação das instalações, com a construção de uma biorrefinaria para produzir combustíveis a partir de matérias-primas vegetais.
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