SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O sonho de alcançar a independência financeira, de acordo com especialistas do mercado, passa pela formação de uma reserva que contribua para a formação de patrimônio que poderá se reverter no futuro no pagamento de rendimentos periódicos que façam frente ao padrão de vida almejado.
A composição dessa reserva, contudo, vai variar de acordo com o perfil de tolerância a risco de cada um.
Para aqueles de perfil mais conservador, que não gostam de grandes oscilações no valor do extrato, a recomendação dos profissionais de mercado passa por um predomínio no portfólio de investimentos de baixo risco na renda fixa.
Na ponta contrária, para as pessoas que têm estômago para suportar os altos e baixos da renda variável, fundos imobiliários e ações ganham espaço dentro da carteira.
Economista e sócio-fundador da consultoria de planejamento financeiro Sarfin, Bruno Mori fez a pedido da Folha uma carteira recomendada de investimentos para três diferentes perfis de tolerância a risco.
Para o perfil conservador, o especialista recomenda 90% da alocação em renda fixa --em títulos pós-fixados como CDBs, LCIs e LCAs, entre outros (veja na tabela abaixo)-- e 10% em renda variável, em ações no Brasil e no exterior.
Os percentuais para a alocação geral em renda fixa e renda variável passam para 60% e 40% para aqueles de perfil moderado e para 30% e 70% entre os de perfil agressivo.
Mori afirma que, a despeito da redução da taxa básica de juros, a renda fixa deve continuar oferecendo rendimentos reais (juros acima da inflação) atrativos.
Com a inflação medida pelo IPCA em 4,5% no acumulado de 12 meses encerrados em fevereiro e a Selic em 10,75% ao ano, a relação entre risco e retorno ainda favorece a alocação em renda fixa, diz o especialista.
"Com a expectativa de continuidade de cortes na taxa Selic, os ativos de renda variável tendem a valorizar, mas isso não significa que a renda fixa deva ser menosprezada", diz o planejador financeiro.
Para os investidores conservadores, Mori sugere que as principais alocações devem ser em juros pós-fixados, que oferecem liquidez imediata, e em aplicações que dão isenção de Imposto de Renda, como é o caso das LCAs e LCIs.
Alguma alocação em aplicações atreladas à inflação, de modo a assegurar o poder de compra, também é indicada para o longo prazo, acrescenta o sócio da Sarfin.
"Os investidores moderados podem diversificar a renda fixa em crédito privado e taxas prefixadas e aumentar a alocação em ações e fundos imobiliários, que devem continuar valorizando ao longo do ciclo de queda da taxa Selic", diz o planejador financeiro.
Ele afirma também que, para o investidor de perfil agressivo mais habituado ao risco, a recomendação é privilegiar a renda variável, como ações brasileiras, dólar, fundos com ativos no exterior e fundos multimercado.
Analista da Toro Investimentos, Gabriel Costa diz que, ao longo dos últimos meses, elevou moderadamente os perfis de riscos das carteiras, em especial do perfil agressivo, acreditando que o cenário econômico abre oportunidade em diversas classes de ativos.
Para a renda fixa, no perfil conservador, ele diz que manteve a maior parte dos investimentos em pós-fixados, já que o atual patamar de juros ainda é favorável e o perfil de risco da classe se adequa a esse tipo de investidor.
No caso dos perfis moderado e arrojado, Costa afirma que enxerga oportunidades nos títulos prefixados, com destaque para os vencimentos mais curtos.
Na Bolsa, o analista da Toro vê espaço para novas altas impulsionadas pela queda na Selic, mas assinala que é preciso cautela com os impactos do cenário externo, trazidas pelos juros nos Estados Unidos e pelas dificuldades enfrentadas pela China.
Sócio e analista de ações da Nord Research, Victor Bueno diz que também vai influenciar para o desempenho da Bolsa nos próximos meses a percepção dos agentes financeiros sobre o avanço da agenda econômica em Brasília.
Se o risco fiscal voltar a aumentar, é provável que os juros futuros subam, com impacto negativo para as ações, diz Bueno.
Já em relação aos fundos imobiliários, Marx Gonçalves, sócio e analista da Nord Research, diz que enxerga "perspectivas muito positivas".
Foi uma classe bastante impactada em razão dos juros elevados nos últimos anos, mas que, com a redução projetada da Selic nos próximos meses, já dá sinais de recuperação.
"Conforme a Selic for sendo reduzida ao longo dos próximos trimestres, é natural que os investidores que estavam mais alocados em ativos de renda fixa em razão das taxas altas vão migrando para ativos um pouco mais arriscados", diz Gonçalves.
No exterior, Costa, da Toro, diz que os resultados corporativos seguem surpreendendo positivamente, apesar das condições monetárias mais apertadas. "Entretanto, seguimos cautelosos, tendo em vista que a condução de política monetária nos Estados Unidos ainda possui desafios e pode gerar impactos diretos nas companhias."
Diretor de investimentos da Suno Wealth, João Arthur Almeida afirma que também avalia com certa cautela as ações nas Bolsas globais, ante o desempenho positivo dos principais índices acionários nos últimos meses.
Já a renda fixa internacional apresenta oportunidades mais atraentes, diz Almeida. "Vejo um momento de entrada muito interessante para a renda fixa soberana nos Estados Unidos, que está pagando entre 4% e 5% de juros em dólar, algo que não acontecia havia muito tempo", afirma o especialista.
Ele lembra ainda que, ao partir para a renda fixa corporativa, as taxas no mercado americano também estão em níveis bastante elevados em comparação com a média histórica, em torno de 6% entre as empresas mais consolidadas, chegando até 8% entre as de maior risco embutido.
Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!