SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Bruno Pessoa não consegue evitar o sorriso ao ser questionado sobre como foi explicar para agentes e pais de jogadores de futebol o conceito de NFT.
"Com familiares deu mais trabalho, mas no fim todos entenderam. Com empresários foi mais fácil porque já estavam familiarizados", afirma o fundador e CEO da Tero Labs.
Estima-se que, neste ano, esse mercado movimentará US$ 2 bilhões (R$ 10,4 bilhões).
NFT é a sigla em inglês para o "token" não fungível, um tipo de "token" (um bem que não é físico, apenas virtual) que representa algo único. Não é uma criptomoeda porque não é intercambiável.
Pessoa e a Tero Labs tiveram a ideia de lançar os "Rough Diamonds" (diamantes brutos, em inglês), NFTs de edição limitada referente ao primeiro ano de carreira profissional de 11 revelações do futebol brasileiro. A ideia é que eles poderão fazer parte da seleção brasileira na Copa de 2030.
Todos os escolhidos fecharam contrato com a empresa e vão receber 50% de royalties do que for arrecadado.
"De acordo com a evolução da carreira deles, o NFT pode se valorizar e ser negociado no mercado secundário. Vejo como algo muito parecido ao mercado de cards dos esportes americanos", completa Pessoa.
Neste caso, os NFTs são imagens virtuais dos jogadores que representam o primeiro ano deles como profissionais e são vendidos com códigos de autenticidade para evitar falsificações.
Entre os nomes selecionados e que assinaram com a companhia, o que mais chama a atenção é o de Endrick, 16, atacante que é a grande aposta do Palmeiras. Ele assinou neste ano seu primeiro contrato profissional.
"É algo novo, diferente de tudo o que já tinha visto. Estou procurando aprender cada vez mais sobre isso. É sempre bom ser lembrado, reconhecido, e não é diferente nesse caso, ainda mais porque é uma escolha para me acompanharem por toda minha carreira", afirma Endrick.
Os NFTs estão em pré-venda no momento.
Além de Endrick, estão no projeto Weslley Patati, 18, atacante do Santos; Luiz Gustavo Bahia, 18, volante do Corinthians; Luis Guilherme, 16, meia do Palmeiras; Ythallo Ryckelm, 18, zagueiro do São Paulo; Matheus Lima, 16, meia do Santos; João Cruz, 16 meia do Athletico; Bernardo Valim, 16, meia do Botafogo; Felipe Lima, 16, atacante do Flamengo; Matheus França, 18, meia-atacante do Flamengo; e Matheus Gonçalves, 16, atacante do Flamengo.
Ajudou a empresa a vender a ideia aos clientes o exemplo de Neymar. Em janeiro deste ano, o capitão da seleção brasileira comprou três artes virtuais de uma das coleções mais valorizadas no mundo, a Bored Ape Yacht Club. Pagou R$ 6,5 milhões.
Neymar não tem uma NFT dele ou uma imagem virtual que o representa. Seu caso foi usado apenas para mostrar como o investimento nesse mercado está se tornando comum. Segundo especialistas, é preciso cuidado. O NFT pode ser valorizado mediante fatores externos como popularidade, escassez e demanda, mas, com o aumento da oferta, também é possível que os preços caiam no futuro.
"O valor do NFT [do Rough Diamonds] vai depender do engajamento, das recompensas oferecidas pelos atletas, sejam camisas usadas em jogos, encontros com compradores...", explica o CEO.
A comparação do mercado de cards dos esportes americanos acontece pela limitada disponibilidade e pela valorização do produto de acordo com a dificuldade em consegui-los. Como cartões da primeira temporada de Michael Jordan, da NBA, por exemplo. Ou os de Babe Ruth, lenda do beisebol.
De acordo com pesquisa do ResearchAndMarkets.com, o mercado americano de cards estava avaliado em US$ 4,7 bilhões em 2019 (R$ 24,3 bilhões) e pode chegar a US$ 62 bilhões em 2027 (R$ 321,1 bilhões).
A comparação mais simples para o brasileiro é o álbum de figurinhas. Mas nesse caso a produção de imagem dos atletas é ilimitada, de acordo com a demanda. No dos cards e dos NFTs, não.
"Acho que as figurinhas e os álbuns já não vêm sendo tão procurados como antes, assim como os livros e os discos deram lugar aos livros digitais e ao streaming. Não podemos nos esconder do futuro", completa Endrick.
É um mercado que pode ser alimentado constantemente com novas edições. Como NFTs de outras temporadas, de um torneio específico. Mas a graça do negócio está exatamente em ser algo de número limitado.
A Tero Labs já planeja replicar a fórmula com 11 jogadores jovens argentinos e fazer uma edição para revelações africanas.
"Queremos fazer em todos os países que tenham jogadores talentosos, na verdade", explica Pessoa.
Os preços do NFTs ainda não estão determinados.
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