SANTOS, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Classificado para o WSL Finals com o primeiro lugar do ranking, Filipe Toledo chega para a decisão do Mundial de Surfe com uma vantagem considerável: precisará vencer apenas um adversário, na melhor de três baterias, para conquistar o título ainda inédito em sua carreira. A primeira chamada para o evento em Trestles, em dia único, ocorre nesta quinta-feira (8), a partir das 11h (de Brasília).
Filipe Toledo tem quatro possibilidades de rival para a grande decisão: o japonês Kanoa Igarashi (5º), o compatriota Italo Ferreira (4º) e os australianos Ethan Ewing (3º) e Jack Robinson (2º). Nenhum adversário, porém, tirou-lhe tanto o sono na carreira quanto a depressão, um inimigo que o brasileiro vem tentando ?e conseguindo, na medida do possível? combater há anos.
Se antes Filipinho guardava o problema para si, hoje ele fala abertamente sobre o transtorno mental que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atinge mais de 300 milhões de pessoas no mundo. O atleta de Ubatuba (SP) tornou o assunto público na série documental Make or Break, da WSL, que mostra os bastidores dos melhores surfistas do planeta.
"Eu ainda estou evoluindo, é uma constante. Até a gente ir embora, a gente aprende e evolui. Mas foi difícil até aqui, passei por momentos delicados, que realmente não tinha vontade de competir, não tinha aquele fogo, ia realmente por obrigação, então, não estava feliz com o que estava fazendo", diz em entrevista exclusiva à reportagem direto de sua casa na Califórnia, onde acontece o WSL Finals pelo segundo ano consecutivo.
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"Mas hoje aprendi, com a ajuda de profissionais, falando, colocando para fora, conversando muito com a minha esposa... E tudo isso fez eu entender: toda vez que algo me deixa triste e começo a levar para aquele lado, eu já sei o que está acontecendo, já sei como minha mente funciona, e estou evoluindo para que isso nunca mais aconteça", acrescenta.
Mais consciente do que precisa fazer para não deixar o transtorno se intensificar, Filipinho tem conseguido superar esse adversário na maioria das vezes. E sabe: é uma luta constante, que não vai ser vencida sem a ajuda de profissionais.
"Tem acontecido muito pouco, raramente. Consegui reverter momentos que tive oportunidade de me colocar para baixo e me mantive sólido. Entendi que o que está no meu controle eu fiz, e o que não está, não tem como eu mudar. E isso tem me deixado tranquilo, feliz, leve. É uma constante evolução, vou aprendendo a cada dia", analisa.
"Muita gente acha que você vai se demonstrar fraco, uma coisa frágil... Mas que é o que realmente você está, e realmente precisa de ajuda. E você precisa colocar isso para fora senão não tem como te ajudar. E eu senti isso na pele. Eu não colocava para fora... Falava 'ah não, hoje eu tô bem, tô tranquilo', então era uma constante montanha-russa de feliz e triste, e isso acaba com a gente, não dá pra gente viver assim, temos que manter uma constância na vida", diz.
Eu, com família, filho, obrigações, não estava conseguindo dar meu máximo em nenhuma área da minha vida. A partir do momento que comecei a trabalhar isso com profissionais, querer entender, me esforçando... Porque você vai ter que se esforçar, não é fácil. Eu não queria falar com um profissional. 'Cara, vou sentar pra falar com uma pessoa que nem conheço, a minha vida, meus problemas, o que ele vai entender se ele não passou nada?' Mas o cara é um profissional, ele estuda isso, ele sabe como isso funciona. Então isso foi, realmente, um ponto muito importante para a minha evolução.
'UMA PEDRA A MENOS NO SAPATO'
Campeão em 2021 após vencer justamente Filipinho na grande final, Gabriel Medina está fora da briga pelo título mundial desta temporada. O tricampeão deu prioridade aos cuidados de sua saúde mental e ficou fora das cinco primeiras etapas da temporada. Já no segundo semestre, sofreu uma lesão no Rio e também foi desfalque nas últimas duas provas do circuito.
Ao ser questionado se era bom não ter o amigo Gabriel como adversário, Filipinho entrou na brincadeira: "É bom que é menos uma pedra no sapato (risos). Mas seria muito legal ter ele para eu poder dar o troco. E seria muito legal para o nosso Brasil, para o nosso esporte. Três brasileiros de novo [na final] seria incrível, mas, sem dúvida nenhuma, ano que vem ele vai estar aí novamente e a gente vai se encontrar mais hora menos hora nessa final aí (risos)", disse.
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O que falta para ser campeão?
Eu evoluí muito, ganhei muita experiência durante os anos. Cheguei sem experiência nenhuma, como em 2015, outros anos... Agora sinto que estou bem experiente, não posso negar que é o melhor ano da minha carreira, muito constante com resultados, e acho que agora é questão de tempo. A hora que o cara em cima falar 'agora é sua hora de ganhar', eu vou ganhar. Não vou desistir disso. Se não for esse ano, vou brigar para o ano que vem. Mas estou feliz, preparado, e acho que vai dar certo esse ano, sim.
Críticas por desempenho em Teahupo'o
Eu nem prestei atenção nelas... Estava no Taiti, lugar maravilhoso, comendo bem, altas ondas... Fui para o round 2, fiz uma performance muito boa, peguei o Nathan Hedge inspirado, a história dele era pra ser aquela, ganhar do nº 1, do nº 2 e depois acabar perdendo com uma nota muito alta. Mas fiquei amarradão. Com o somatório que fiz, venceria outras baterias no round... Eu sinto que estou evoluindo e tenho muito que evoluir ainda. Nem prestei atenção, não me chateou... Quero evoluir e aprender mais.
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