SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "Sim. Seguramente, sim."

Com três palavras, Lionel Messi confirmou o que já se suspeitava. A Copa do Mundo do Qatar, com início marcado para 20 de novembro, será a última da sua carreira. A derradeira oportunidade para definir qual será seu legado no torneio que é o santo graal do futebol mundial.

Trata-se de mais uma pressão sobre a Argentina, que vai chegar ao Oriente Médio como uma das favoritas.

A pergunta havia sido se o próximo Mundial seria a sua despedida. Messi se sentiu à vontade para responder porque conversava com Sebastián "Pollo" Vignolo, narrador e apresentador da ESPN Argentina. Uma das pessoas da imprensa com as quais tem melhor relacionamento.

No auge da crise da seleção durante a Copa do Mundo da Rússia, há quatro anos, foi a Vignolo que o atacante deu sua única entrevista exclusiva durante a competição. Ocorreu minutos após a dramática vitória sobre a Nigéria, que assegurou classificação às oitavas de final.

Não era difícil imaginar o adeus mundialista do camisa 10 no Qatar. Ele está com 35 anos. Quanto tiver início a Copa de 2026, a ser dividida por Estados Unidos, Canadá e México, estará prestes a completar 39.

"Estou contando os dias. Existe um pouco de ansiedade e nervosismo ao mesmo tempo. O nervosismo é como se já estivéssemos lá, quanto ao que vai acontecer. É o último. Não vejo a hora que chegue, mas, por outro lado, há o receio de querer que tudo corra bem", explicou.

Dar o título mais importante de todos a um dos maiores jogadores de todos os tempos (para gente como Guardiola e Xavi, o maior) é uma pressão a mais sobre a Argentina comandada por Lionel Scaloni.

Invicta há 35 jogos, campeã da Copa América de 2021, com uma defesa sólida pela primeira vez desde 2014, a seleção vai iniciar a competição como uma das principais forças, ao lado de Brasil e França. A despedida de Messi vai multiplicar a atenção sobre o time, que está no Grupo C ao lado de Arábia Saudita, México e Polônia.

"Estamos em um bom momento pela forma como as coisas aconteceram. Temos um elenco muito bem armado, muito forte. Em um Mundial pode acontecer de tudo. Todas as partidas são dificílimas. Por isso o Mundial é tão difícil e especial, nem sempre os favoritos são os que terminam ganhando ou fazendo o caminho que se esperava", disse.

Para todos os convocados da Argentina e para o próprio Messi foi um alívio a vitória na Copa América no ano passado. Ter sido no Maracanã e contra a seleção brasileira apenas tornou tudo melhor. Foi a primeira conquista pela seleção principal do jogador eleito seis vezes o melhor do planeta. Mas isso não se compara à Copa do Mundo.

No Qatar, ele vai dar definir como sua imagem ficará atrelada ao torneio.

Sua primeira participação foi aos 19 anos, em 2006. Não era o titular de José Pekerman em um time forrado de grandes atacantes. A dupla de ataque era formada por Hernán Crespo e Javier Saviola. Havia Carlos Tevez. Messi fez seu primeiro gol em mundiais na goleada por 6 a 0 sobre Sérvia e Montenegro. Quando a Argentina caiu nas quartas de final, contra a Alemanha, ele ficou os 120 minutos no banco de reservas. Algo que foi motivo de críticas ao treinador.

"As pessoas não sabem, mas Leo estava lesionado. Por isso não entrou", justificou depois Pekerman.

Quatro anos mais tarde, na África do Sul, ele chegou como o melhor do planeta e sob a direção de Diego Maradona. O campeão mundial de 1986 queria que Messi se soltasse mais, fosse mais líder. Tímido ao extremo na época, o jogador não conseguiu assumir o protagonismo, a Argentina perdeu de novo para a Alemanha e mais uma vez nas quartas. Ele se despediu da Copa sem ter feito gols.

"Messi é tão acanhado que é mais fácil marcar uma audiência com Deus do que fazê-lo falar ao telefone", definiu Maradona, em uma de suas memoráveis frases sobre o seu compatriota. Era uma comparação, nesse sentido, desfavorável em relação a Cristiano Ronaldo, mais solto e extrovertido.

Não que o português estivesse imune às críticas do campeão mundial de 1986.

"Cristiano Ronaldo faz um gol e depois te vende um xampu", comparou, zombando sobre as ações de marketing do craque europeu.

Lionel Messi poderia ter chegado ao topo da montanha em 2014, no Brasil. Com Alejandro Sabella como técnico, a Argentina foi à final contra a velha conhecida Alemanha. O resultado foi igual aos outros: derrota. O camisa 10 teve uma bola nos pés, com o placar em 0 a 0, na entrada da área, de onde quase sempre acerta o gol. Quase. Daquela vez, chutou para fora.

"Foi a minha época mais feliz com a seleção", definiu ele, que chegou a dizer que não atuaria mais pela Argentina após os dois vices em finais de Copa América contra o Chile, em 2015 e 2016. Recuou da decisão para disputar a Copa de 2018.

Com um Jorge Sampaoli confuso e uma comissão técnica rachada na concentração em Bronitsi, no interior da Rússia, a Argentina teve uma Copa medíocre e Messi não conseguiu se destacar. Rodeado de boatos até sobre suposta crise conjugal, ele parecia à beira da depressão. A equipe caiu nas oitavas de final, diante da França, depois de quase não ter passado da fase de grupos.

Ele tem seis gols anotados, no total, na competição que é o maior palco do futebol.

"Temos de ir aos poucos e começar ganhando a primeira partida, o que é fundamental. Será o primeiro Mundial para muitos garotos [da seleção]. Não vai ser fácil, temos de ir aos poucos", disse à ESPN Argentina.


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