SANTOS, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Luan ainda não vingou no Santos, mas o clube da Vila Belmiro não tem queixas ao meia-atacante. A avaliação do clube é positiva e os relatos são de um jogador "sossegado". No Corinthians, o cenário era diferente.

Quem convivia com Luan no Corinthians confirma o perfil tímido e discreto, mas acrescenta reclamações sobre a falta de dedicação nos treinamentos. No Santos, o jogador de 29 anos reencontrou parte da sua motivação.

Torcedor do Corinthians, Luan chegou do Grêmio por quase R$ 30 milhões no fim de 2019 e não se firmou. Ele alternou bons e maus momentos até encarar o ostracismo sob o comando de Vítor Pereira nesta temporada.

O Grêmio de Renato Gaúcho campeão da Libertadores atuava em torno de Luan e o consagrou como "Rei da América", em 2017. No Corinthians, o meia não se encaixou. Luan não é rápido e precisa de um jogo associativo e de posse de bola para se destacar.

Sem espaço e com dramas pessoais, Luan foi perdendo a fé no Corinthians até decidir sair depois de atuar apenas três vezes com Pereira. O treinador português fez reclamações públicas sobre querer usar o jogador, mas vê-lo "fugir".

"Durante o tempo que aqui estou, Luan está ficando fora de muito treino, ficou fora de grande parte dos meus trabalhos. O que eu disse quando cheguei e é exatamente aquilo que digo: se o Luan quiser se entregar no treino, no jogo e nas oportunidades que tiver, contará como todos os outros. Não coloco ninguém à parte, mesmo os miúdos da formação vêm e têm sua oportunidade. Precisamos de todos e do Luan também. Não tenho responsabilidade quando ele está para ser escalado e no último momento... Já aconteceu várias vezes, pelo menos três, de não estar disponível para jogo. A verdade é essa", disse o técnico, em junho.

LOW PROFILE

Funcionários do dia a dia do Santos disseram à reportagem que Luan é tímido, quieto e "até assustado". O meia-atacante evita exposição, mas mostra respeito com todos e cumpre horários à risca.

Luan é difícil de ser decifrado. Introvertido, o jogador evita contar da sua vida pessoal e vê os companheiros como colegas, não como amigos. Poucos são os que conseguem ir além do futebol com ele.

Esse perfil sossegado se reflete nas redes sociais, com raras publicações, e também onde Luan decidiu morar. O santista escolheu um condomínio fechado de luxo para se sentir seguro contra violência e evitar contato com torcedores. O aluguel custa cerca de R$ 50 mil, metade do valor pago pelo Santos no empréstimo junto ao Corinthians. O clube do Parque São Jorge arca com R$ 700 mil restantes.

O Santos tenta manter Luan motivado e teve uma demonstração recente de "sangue nos olhos": o camisa 20 reclamou de ser substituído por Orlando Ribeiro na derrota para o Internacional, no Beira-Rio. O técnico repreendeu o meia em público e no CT Rei Pelé, mas gostou de vê-lo "aceso".

TRAUMAS

Quando tinha cinco anos, Luan perdeu o pai em acidente de trânsito. Mais recentemente, em 2020, seu melhor amigo foi morto a tiros. Dias depois, perdeu a avó por problemas de saúde.

Criado na periferia de São José do Rio Preto, Luan tatuou a frase "Você sai da favela, mas a favela não sai de você". Ele entende que teve muitas oportunidades para "desviar do caminho", mas se manteve firme. As tragédias, porém, voltaram a baqueá-lo e o insucesso no Corinthians se tornou secundário por um tempo.

Luan superou essas dificuldades e decidiu "mudar de ares" para tentar reencontrar o seu futebol. O Santos foi o destino escolhido. Ele está feliz na cidade, mas sente que pode oferecer muito mais ao Peixe.

FUTURO

Luan está emprestado pelo Corinthians ao Santos até o fim do Campeonato Brasileiro, em novembro. O Peixe ainda não discutiu a permanência do meia-atacante em 2023.

Com prioridade na renovação por mais um ano de empréstimo ou de exercer a compra, o Santos prefere observar Luan nessa reta final de Brasileirão. O atleta soma seis jogos pelo Peixe, quatro deles como titular, e tem um gol e uma assistência.

Após desencantar contra o Athletico, Luan foi titular contra Internacional e Atlético-MG e nem saiu do banco de reservas diante do Juventude. Com desempenho irregular, o Santos de Orlando Ribeiro também tem dificuldade de encaixá-lo, principalmente pela presença do capitão Carlos Sánchez, outro meia de pouca mobilidade e ajuda na marcação.

Neste momento, o futuro de Luan no Santos é incerto. A decisão do time praiano passará pelo rendimento nessa reta final de ano, mas também pela procura por um novo técnico e diretor de futebol.


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