SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS ) - Gustavo Matosas, argentino naturalizado uruguaio de 55 anos, causou surpresa em 2019 ao anunciar seu desligamento da seleção da Costa Rica. O motivo, segundo ele, era o tédio.
"Não sabia que ser técnico de uma seleção era tão chato", argumentou. A falta de treinos constantes e de uma rotina diária o incomodavam.
Talvez ele mudasse de opinião se soubesse que teria a chance de comandar a equipe na Copa do Mundo. O colombiano Luis Fernando Suárez, que o sucedeu no cargo, terá essa oportunidade no Qatar.
O treinador de 62 anos embarca com a missão de repetir a campanha do país no Mundial de 2014, quando a Costa Rica foi a sensação do torneio, avançando até as quartas de final.
Quando houve o sorteio dos grupos da competição realizada no Brasil, poucos apostavam nisso. O país estava na chave considerada como o "grupo da morte", ao lado de três campeões mundiais: Itália, Uruguai e Inglaterra.
Nenhum deles conseguiu vencer a nação caribenha.
Uruguai (3 a 1) e Itália (1 a 0) foram derrotados. Na última rodada, um empate sem gols com a Inglaterra deu à Costa Rica a liderança da chave --os uruguaios avançaram em segundo.
Na fase seguinte, a Grécia deu mais trabalho. Um empate por 1 a 1 persistiu no placar após a prorrogação mesmo com seleção da América Central atuando com um a menos desde o segundo tempo.
Nos pênaltis, brilhou a estrela daquele que foi principal responsável por fazer os caribenhos resistirem à pressão dos europeus --inclusive na fase de grupos--, o goleiro Keylor Navas. Ele defendeu a cobrança de Gekas, e a Costa Rica venceu por 5 a 3.
Ao longo dos 510 minutos dos costarriquenhos no Mundial, o goleiro sofreu apenas dois gols (um deles de pênalti, convertido pelo uruguaio Cavani).
Para frear o ímpeto da Costa Rica, o então técnico da Holanda, Louis van Gaal, precisou adotar uma tática inesperada no confronto pelas quartas de final. Após o empate sem gols em mais de 120 minutos de bola rolando, sacou o goleiro Cillessen e apostou em Tim Krul para a disputa de pênaltis.
A surpresa deu certo. O substituto defendeu duas cobranças, e a equipe laranja venceu por 4 a 3. Mesmo assim, a Costa Rica voltou para casa nos braços de sua torcida.
Banhado pelos oceanos Pacífico e Atlântico, o país caribenho é um dos lugares mais pacíficos do planeta, com baixos índices de violência e mortalidade. Extinguiu seu exército em 1949 e ganhou notoriedade pelo respeito aos direitos humanos e à preservação ambiental. O sucesso na Copa no Brasil foi só mais uma motivo de orgulho.
No Qatar, a nação disputará uma Copa do Mundo pela sexta vez. Além da histórica campanha durante a edição em solo brasileiro, foi até as oitavas em 1990, na Itália. Nas demais (2002, 2006 e 2018), caiu ainda na fase de grupos.
Desta vez, a equipe foi a última a confirmar sua presença na competição, ao derrotar a Nova Zelândia na repescagem.
No Oriente Médio, o elenco comandado por Luis Fernando Suárez terá alguns remanescentes da histórica campanha no Brasil. Keylor Navas é o principal deles.
Depois da Copa de 2014, ele foi contratado pelo Real Madrid, time pelo qual foi titular durante três temporadas seguidas, nas quais conquistou três vezes a Champions League.
À experiência do goleiro, soma-se à juventude de Jewison Bennette, 18, que atua pelo Sunderland, na segunda divisão inglesa. Habilidoso e rápido, ele é aposta do ataque, sobretudo pela esquerda.
Mesmo com a mescla de jovens talentos e atletas mais experientes, não vai ser fácil para a Costa Rica ir além da fase de grupos no Qatar. O país caiu no Grupo E, ao lado de Espanha, Alemanha, e Japão. Sua estreia será no dia 23 de novembro contra os espanhóis. Na sequência, enfrentará os japoneses, no dia 27, e encerrará a primeira fase contra os alemães, em 1º de dezembro.
"Sempre é bonito jogar contra as grandes seleções. No fim, nós temos de acreditar em nós mesmos, como fizemos até agora. Todos os Mundiais são diferentes, mas o sonho pode ser o mesmo ou maior [do que na Copa de 2014], então vamos desfrutar deste momento", resumiu Navas.
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